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“Se Bolsonaro ganhar as eleições, teremos uma onda de medo e ódio”, diz Caetano Veloso no “The New York Times”


Caetano Veloso avalia as consequências de um possível governo desastroso de Bolsonaro caso ele seja eleito presidente do Brasil. Foto: Divulgação

Aos 76 anos e com um histórico de luta política marcante em sua carreira, Caetano Veloso escreveu em um artigo de opinião no jornal norte-americano “The New York Times”, considerado um dos mais importantes do mundo, sobre o cenário político do Brasil. Em seu texto, Caetano Veloso reflete sobre a onda conservadora que está presente no Brasil através do discurso de Jair Bolsonaro, que lidera as intenções de voto e pode se consagrar como o novo presidente do país neste domingo (28).

“Bolsonaro diz que que prefere ter um filho morto do que gay”, relembra Caetano

Contextualizando a situação política atual no país, Caetano apresenta ao público internacional as ideologias de Bolsonaro. “Tal como outros países, o Brasil enfrenta neste momento a ameaça da extrema direita e do conservadorismo populista. O nosso novo fenômeno político, que deverá ganhar as eleições presidenciais no domingo, é um antigo capitão do exército que admira Donald Trump, mas que se parece mais com Rodrigo Duterte, o homem forte das Filipinas. Bolsonaro defende a venda livre de armas de fogo (…) e diz que preferia ter um filho morto a um filho gay. Se Bolsonaro ganhar as eleições, os brasileiros podem esperar uma onda de medo e ódio. Na verdade, já houve sangue derramado”.

Caetano, inclusive, relembra o assassinato do mestre de capoeira, Moa do Katendê, por um eleitor de Bolsonaro após admitir que votou em Fernando Haddad: “Em 7 de outubro um simpatizante de Bolsonaro apunhalou o meu amigo Moa do Katendê, músico e mestre de capoeira, na sequência de uma discussão sobre política. A sua morte deixou a cidade de Salvador num estado de luto e indignação”.

“Quero que a minha música e a minha presença sejam uma resistência permanente em um provável governo de Bolsonaro”

O cantor ainda aproveitou o espaço e relembrou os seus tempos de preso político de um sistema antidemocrático. “Enquanto figura pública do Brasil, tenho o dever de tentar esclarecer estes fatos. Agora sou velho, mas nos anos 60 e 70 era novo e me lembro. Por isso, tenho de falar. No final dos anos 60, a junta militar prendeu muitos artistas e intelectuais pelas suas convicções políticas. Eu fui um deles, a par do meu amigo e colega Gilberto Gil. O Gilberto e eu passamos uma semana cada um numa cela imunda. Depois, sem qualquer explicação, fomos transferidos para outra prisão militar, onde ficamos dois meses. Seguiram-se mais quatro meses de prisão domiciliária e, por fim, o exílio, onde ficamos dois anos e meio. Nas mesmas celas que nós estavam estudantes, escritores e jornalistas, mas nenhum foi torturado. Mas de noite ouvíamos gritos. Era presos políticos que os militares acreditavam terem ligações à resistência armada ou jovens pobres apanhados a roubar ou a vender droga. Nunca me esqueci daqueles gritos. Muitas pessoas dizem que, se o capitão ganhar, planeiam sair do país. Eu nunca quis viver noutro país que não o Brasil. E agora também não quero. Quero que a minha música e a minha presença sejam uma resistência permanente ao sistema antidemocrático que possa vir a sair de um provável governo de Bolsonaro”.

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