Analisar o comportamento e a participação dos maiores incentivadores na cultura do Brasil nos últimos anos, ajuda na projeção do que está por vir quando o assunto é patrocínio via Lei Federal de Incentivo à Cultura. Em quase uma década, os dez maiores grupos econômicos investidores aportaram um total de quase 6 bilhões de reais ao setor.
Porém, devido a crise ocasionada pela pandemia, os números de 2020 não foram tão favoráveis assim. Conforme divulgamos recentemente, de acordo com relatório Observatório Itaú Cultural, a pandemia diminui em 84% a arrecadação de patrocínio via incentivo fiscal federal.
Baseado nos dados coletados entre 2012 e 2020, sendo este último ano no período de 01 de janeiro a 31 de agosto, no topo da lista estão: Bradesco, com aporte de 1 bilhão de reais, logo depois, em segundo lugar o Banco do Brasil, com cerca de 850 milhões, e o Itaú, com mais de 750 milhões, quase empatado com o investimento feito pela Petrobras. Na sequência, respectivamente, estão Vale, BNDES, Cielo, Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração, Eletrobrás e Vivo.
A pesquisa foi feita a partir de informações disponíveis no Sistema de Apoio às Leis de Incentivo à Cultura (Salic) – utilizado para cadastro e acompanhamento de propostas e projetos culturais de forma unificada. Assim, o Observatório reuniu os maiores incentivadores e os valores investidos por cada um nominalmente, por CNPJ. Considerando que muitos grupos econômicos investem recursos por meio de diversas empresas que o compõem, a análise agrupou as diversas empresas que compõem um mesmo grupo econômico, a fim de se ter um retrato mais fidedigno da participação de tais grupos no financiamento à cultura na última década.
No ano da pandemia
Em 2020, os dez maiores investidores foram responsáveis por 38,6% do total captado até o mês de julho de 2020, enquanto nos últimos três anos esse percentual foi de cerca de 21% em 2017, 29% em 2018 e 17% em 2019. Ou seja, o peso e a responsabilidade dos grupos econômicos que são grandes investidores no setor cultural via lei de incentivo tornam-se ainda maiores no atual contexto.
Até julho de 2020, o Banco do Brasil, o BNDES e o Itaú estavam entre as empresas que fizeram os maiores aportes de recursos via Lei Federal de Incentivo à Cultura. Tais investimentos, feitos no primeiro semestre do ano, não permitem uma previsão da performance de captação no segundo semestre, quando se concentram os maiores volumes de investimento. Sendo assim, a lista dos maiores investidores e o volume de investimento certamente sofrerão ainda alterações significativas.
De qualquer sorte, vale destacar que, a regularidade e o volume de recursos investidos por essas empresas no setor cultural nos últimos anos as colocam numa posição de destaque como fomentadores da cultura no país. Cabe, portanto, indagar sobre a capacidade de essas empresas continuarem a apoiar projetos culturais num contexto econômico que já não estava bom e que se agravou em razão da pandemia.