Às voltas com a divulgação de “Change”, sua música inédita após um hiato de nove anos, Rita Lee continua sendo uma figura fundamental na história da música do nosso país e prova que está mais antenada do que nunca ao cenário político e social do Brasil. Sempre com opiniões pertinentes, a cantora, de 73 anos, mostra sua irreverência característica mesmo ao falar de assuntos sérios.
Em recente entrevista ao jornal “O Globo”, deste domingo, a artista paulistana fez críticas ao governo do presidente Jair Bolsonaro, falando sobre o retrocesso que o Brasil está passando, de acordo como ela destacou, além de dar continuidade ao seu ativismo em torno das questões da preservação do planeta e do bem estar dos animais.
“Se pudesse fazer um ‘plim’, com uma varinha de condão, seria para ajudar o Brasil, ajudar os nossos bichos, ajudar a natureza… mandaria muita gente poderosa para a Idade Média. É assustador ver gente no comando com mente tão ultrapassada. Era para a gente estar nos Jetsons e estamos voltando para os Flintstones”, disse ela, fazendo referência à desenhos dos anos 80 e 90,
Entre outros assuntos, Rita, que inaugurou recentemente uma exposição do seu acervo no Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo, citou um “carma estranho” que parece rondar o país. Segundo a cantora de “Mania de Você”, é possível que isso se deva aos “ataques” à natureza.
“O Brasil parece ter um carma estranho… acho que isso começou com o genocídio indígena. Ontem, estava vendo na TV uma velha indígena, do (povo) Krenakore. Ela falava: ‘Nós tínhamos um rio. Eu tinha todo tipo de cura na natureza’. E tiraram o rio dela! É desrespeito atrás de desrespeito com indígenas, com bichos — que são tratados como coisas. Se a gente não parte disso, como é que vamos mudar alguma coisa para melhor?”, indaga.
Na vanguarda de movimentos como o feminismo, presente em praticamente toda a sua obra musical, Rita Lee critica a falta de respeito que persiste no mundo com as minorias. “Me enche o saco quando ouço pessoas preconceituosas reproduzindo papos de que ‘a mulher é inferior ao homem’, ou dizendo que ser gay é errado… O que é errado? O diferente de você é errado? Eu quero é o diferente. Quero viver num mundo colorido, com todo tipo de etnia, pele, cabelo, gente, bicho, planta e de ETs — mesmo que disfarçados — andando por aí“, diz ela ao jornal.
“Eu sou do arco-íris, gosto da luz. Me enche o saco o racismo, a misoginia, a homofobia. Não tenho paciência para isso! Eu ‘tô’ velha! Eu queria chegar em 2021 e perceber mais respeito no mundo. E não ter que continuar falando sobre isso. Mas só se muda com educação. Respeito, educação e liberdade. As pessoas têm de ser livres para serem felizes como elas são”.
Fazendo quimioterapia e radioterapia para tratar um câncer no pulmão, a artista falou sobre o câncer que enfrenta como consequência do tabagismo, por ter fumado desde os 22 anos. “Sabia que iria acontecer algo. Quantas vezes não disse que teria de pagar algum pedágio da vida? Era um sopro atrás do outro: ‘Pare de fumar. Você fuma desde os 22 anos, pare agora’. Era como uma luz que acendia no fundo da mente. Fora as coisas que me eram esfregadas na cara.
“Quando o médico falou: ‘Você está com câncer no pulmão’, fechei os olhos e pensei: ‘Danadinhos, sarcásticos’. Os ‘seres de luz’ têm humor! Olha que humor muito louco. Era como se pudesse ouvi-los me falando: ‘Cara, a gente te avisou. Agora, vai parar de fumar na marra’. Eu, no fim, até agradeci. Não é fácil, mas consegui parar de fumar, finalmente”, finalizou