A MIDiA Research, uma empresa de pesquisa e análise sediada no Reino Unido, lançou, no final de janeiro, uma análise abordando as tendências disruptivas que já estão moldando o futuro da indústria musical. Fundada por Mark Mulligan, a empresa destaca os desafios atuais e as dinâmicas emergentes do setor de entretenimento, especialmente no contexto da economia de conteúdo digital.
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O diagnóstico destaca que a indústria musical está em constante mudança, com uma série de paradigmas sendo sucedidos por novos. Desde a pirataria até o streaming, passando pelo surgimento de artistas independentes, as transformações têm sido rápidas e profundas. No entanto, o que se delineia no horizonte é uma mudança ainda mais significativa, impulsionada por tendências disruptivas.
Desafios e oportunidades: da fragmentação à ascensão da inteligência artificial
O streaming, embora tenha alcançado muito sucesso, está atingindo seus limites, conforme evidenciado pelo crescimento lento em mercados consolidados e através do surgimento de problemas sistêmicos. Segundo a análise, entre os principais desafios, estão a fragmentação e a mercantilização do consumo, o declínio das “superestrelas”, o aumento de artistas independentes e a diminuição do engajamento dos fãs. Além disso, o modelo de remuneração atual enfrenta críticas de todas as partes interessadas.
Essas fissuras na indústria não apenas persistirão, mas também estão criando as condições para uma próxima fase. A ascensão de cenas musicais específicas e o crescimento da economia dos criadores fora do streaming são indícios dessas mudanças iminentes. Os artistas buscam fan bases com as quais possam se conectar, enquanto novos modelos de remuneração centrados no criador (titular dos direitos) começam a surgir.
No entanto, de acordo com a MIDiA Research, a verdadeira mudança virá com a ascensão da inteligência artificial. Embora a IA não crie o próximo capítulo da indústria musical por si só, ela servirá como uma ponte entre as dificuldades atuais e as dinâmicas futuras de crescimento. A tecnologia moldará não apenas a composição e a criação musical, mas também a distribuição e o marketing, entre outros aspectos.
“Claro, falar sobre IA como uma ‘coisa’, provavelmente é tão útil quanto falar sobre a internet há vinte anos atrás. E, assim como naquela época, até mesmo os palpites mais bem fundamentados sobre o que ela se tornará ficarão muito aquém. Provavelmente, é mais seguro pensar na IA como um conjunto fundamental de tecnologias que formará parte do alicerce da internet de amanhã. E, se traduzirmos esse impacto para a música, então devemos esperar que ela molde a composição, criação, marketing, distribuição… basicamente tudo, de alguma forma, mais frequentemente melhorando os fluxos de trabalho do que os substituindo”, afirma Mark Mulligan, diretor executivo e analista na MIDiA Research.
Modelos de consumo em evolução: de “Listen” a “Play”
O resultado de tudo isso será a divisão do cenário musical em duas vertentes: o modelo “Listen”, caracterizado por uma escuta passiva similar ao rádio, mas muito melhor monetizado, e o “Play”, representando plataformas que usam inteligência artificial para proporcionar um ciclo completo de criação e consumo e possivelmente driblando os direitos autorais.
O “Play promete um retorno aos dias pré-gravação, onde a música é sempre evolutiva e participativa para todos. No entanto, esse novo modelo levanta desafios de licenciamento, exigindo uma nova estrutura de direitos para se adaptar à era digital.
Enquanto o “Listen” permanecerá como a pedra fundamental do consumo musical, o “Play” irá emergir como um playground cultural, onde a música é expressiva, em constante mudança e livre das limitações tradicionais.Este movimento não apenas redefinirá o negócio da música, mas também pode reconfigurar sua essência cultural, destacando a necessidade de novas abordagens para lidar com os desafios de licenciamento e os direitos autorais em uma era dominada pela inteligência artificial e pela participação do público. Segundo a MIDiA Research, o conflito de negociação entre o TikTok e a UMG pode ter sido o primeiro passo nessa direção.
Independentemente do rumo real que a indústria musical venha a tomar, uma certeza prevalece: o mercado está iminente a uma transformação, onde a tecnologia assume um papel central na determinação do futuro, tanto do negócio quanto da cultura musical.