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Resenha: os altos e baixos do show de Ariana Grande no Rio de Janeiro

Foto: Midiorama

Ariana Grande tem fotofobia ou fotosensibilidade? Parte do público que compareceu no show da “Dangerous Woman Tour” na Jeunesse Arena, no Rio de Janeiro, na noite de quinta (29/6), deve ter se perguntado isso. Por que é tudo tão escuro? A maior parte da apresentação da popstar americana é marcada por uma iluminação sombria, sem quaisquer holofotes direcionados nela, o que dificulta a visão da plateia – ainda mais sem telões. Para quem pagou até R$ 560 para (literalmente) ver a popstar ao vivo, a penumbra foi um tanto decepcionante. Mas a voz estava lá – límpida, potente, aguda, alcançando todas as notas, mesmo quando ela se pôs a pedalar em uma bicicleta ergométrica para a performance de “Side to Side”, single que bateu um bilhão de acessos em seu clipe no Youtube, justamente no dia do show. Não existe hipótese de playback com Ariana, e isso é um mérito quando se trata de seu nicho.

Essa é a segunda vez que Ariana Grande vem ao Brasil – e a primeira que canta no Rio. A setlist foi fiel à turnê mundial, priorizando o álbum “Dangerous Woman”, lançado no ano passado. Ela cantou 15 faixas do disco – incluindo todos os singles, como “Dangerous Woman”, “Into You” e “Everyday”. “Focus”, que não entrou no álbum, também estava lá e o público cantou na ponta da língua. Mas os pontos altos da noite acabaram sendo sucessos anteriores, como “Bang Bang”, que animou a arena, e “One Last Time”, que se tornou um hino de resistência depois do atentado ao show da cantora em Manchester. Aliás, após esse episódio trágico, Ariana também incluiu um cover de “Somewhere Over the Rainbow” na setlist da turnê – e é algo ímpar de se ver ouvir. A garota canta muito.

Dois dos hits mais esperados da noite, “Break Free” e “Problem”, do álbum “My Everything”, ganham novos arranjos neste show. A roupagem atual não é tão boa e contagiante quanto à original e as performances acabam se tornando mornas, a revelia da expectativa geral. Alguém avisa a essa menina que ela ainda não precisa mudar a cara dos singles bem sucedidos. Eles saíram há três anos. Deixa para quando tiverem 10 anos e as pessoas enjoarem. Por enquanto, a galera ainda quer ouvir aquilo pelo qual se apaixonou. Igualzinho. Na pista premium, foi possível perceber que parte do público até demorou a reconhecer “Problem”. “Problem”! Logo “Problem”!

Em termos de produção, a “Dangerous Woman Tour” é de médio porte: não traz nada impressionante. Há um telão central com vídeos bem concebidos, algumas trocas de roupa, um ou outro elemento cênico que entra e sai, dançarinos glamorizando as performances e, desta vez, uma banda de verdade. Na “Honeymoon Tour”, que passou pelo Brasil em 2015, ela era acompanhada somente do DJ Dubz com bases pré-gravadas. Ter músicos ao vivo dá alguma alma ao show. Ariana não é daquelas que olha nos olhos dos fãs no gargarejo, interage e abre espaço para o acaso e surpresas. Pelo contrário, ela é bem técnica: faz bem o que tem que fazer, seguindo o script à risca. Até soltou um “obrigada” em português duas vezes, e foi o máximo de simpatia que demonstrou. Quando alguém lançou uma bandeira do Brasil na passarela, enquanto ela cantava, ela fez o favor de jogá-la de volta. Quando a arena tentou um coro de “Ariana, eu te amo”, ela também não demonstrou muito interesse em saber do que se tratava. Mas, de vez em quando, a cantora jogava uns beijos randômicos para o público. Ela gosta de lançar beijos no ar.

Volta e meia, alguma criança tentava chamar atenção dela em cima das costas dos pais. Eram muitas crianças. Talvez ainda mais do que no show de 2015, o que é curioso. As músicas do “Dangerous Woman” não são nada infantis. Meninos e meninas disputavam espaço com adolescentes e jovens adultos para tentar ver a diva pop americana da nova geração – e, coitados, levavam muita desvantagem, obviamente. Pude ouvir mais de uma criança falando sobre ser “seu primeiro show da vida”, o que é sempre bonitinho. Enquanto isso, adolescentes comparavam com outras cantoras que já puderam ver ao vivo – Lady Gaga, Demi Lovato, Rihanna, Beyoncé, etc. De fato, há um quê de Rihanna em alguns dos figurinos de Ariana. Param por aí as semelhanças.

Ariana tem um vozeirão, mas, vendo esse show, você entende que ainda lhe falta o star quality. É compreensível, também, que ela esteja apenas cumprindo datas depois de um trauma imensurável, que só ela sabe o que sentiu e ainda sente, e que possivelmente é relembrado sempre que sobe no palco. Mas a verdade é que o show deixa um pouco a desejar – em aspectos sensíveis como energia, emoção e relacionamento com o público, e aspectos técnicos como iluminação, arranjos e produção. Tudo é relevado, porque Ariana ainda está, pode-se dizer, em início de carreira. Sem sombra de dúvidas, vale a pena acompanhar o desenrolar dos próximos anos. O principal ela tem – a supervoz – e isso não deve de forma alguma ser tratado como segundo plano (nunca!). Falta demonstrar mais prazer de estar ali. Ela é capaz.

A “Dangerous Woman Tour” ainda poderá ser vista no Allianz Parque, em São Paulo, no sábado (1º/7). Os ingressos são vendidos pela Livepass.

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