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Resenha: Nova turnê de Sandy & Junior é uma aula para nova geração de cantores pop


E aconteceu de verdade. Depois de 12 anos separados, Sandy & Junior – os nossos Sandy & Junior – voltaram aos palcos para uma turnê comemorativa. O primeiro show aconteceu no Classic Hall, em Recife, com público de 11,1 mil espectadores e ingressos esgotados, na sexta (12/7). Fãs do Brasil inteiro viajaram para ver a estreia da turnê “Nossa História”, que ainda passará por mais dez cidades, com total de 15 shows. Neste sábado (13/7), a dupla canta na Arena Fonte Nova, em Salvador.

Cabe aqui dizer que quem escreve essa matéria é um grande fã. Comprei ingressos para todos os shows. Vê-los no palco novamente é a realização de um sonho, sem dúvidas. Tive a chance de encontrá-los no camarim antes de subirem no palco e perguntei como eles estavam. Sandy disse que o coração estava a mil. Eu disse que o meu também. Durante o show, tive um mix de sentimentos: passei pelo choque e pela incredulidade, pela felicidade e gratidão de estar vivendo isso tudo de novo, pela emoção e pelo amor de entender que ninguém me faz feliz como eles, e pela sensação de pertencimento – não há lugar como nosso lar. Sandy & Junior fazem parte da memória afetiva de mais de uma geração e você entende isso claramente ao olhar para a multidão cantando sorrindo e chorando. O título “Nossa História” não poderia ser mais apropriado.

Os dois já entram no palco com “Não Dá Pra Não Pensar”, música que abriu três turnês antigas e tem lugar especial no coração do público. O show em si promove uma viagem no tempo, que é emocionante tanto para os ídolos quanto para os fãs. Sandy passou o show inteiro segurando as lágrimas, desde que pisou no palco. Junior, idem, entregando-se à emoção em alguns momentos, como na performance de “Super-Herói”. O show de “Nossa História”, aliás, faz justiça aos múltiplos talentos do cantor-instrumentista. Junior têm três solos (também canta “Aprender a Amar” e “Enrosca”) e um momento especial na bateria. Dá para perceber no semblante dele a felicidade de estar ali. Sandy, que sempre foi criteriosa com as canções da dupla que cantava em sus turnês solo, agora se reapropria de músicas mais infantis e “puras”, sem nenhum problema com isso. Brinca quando canta “Imortal”, lembra que estava mudando de voz quando gravou “Com Você” e, pasmem, volta a dançar. Ela e Junior fazem todas as coreografias do passado, sobretudo nos refrões. É mesmo mágico, porque eu como fã pensei que nunca mais os veria fazendo nada disso. Eles fazem e não é trash.

Deixando de lado a carga emocional, “Nossa História” é mais um ponto alto na carreira dos irmãos e na cena pop nacional. Os dois sempre nivelaram por cima o padrão de qualidade de suas turnês e nesta não é diferente. Eles têm parceria com a Live Nation (que cuidou da turnê do Maracanã em 2002) e com o diretor Raoni Carneiro (do DVD “Meu Lugar” da Anitta). Não se trata de uma festa ploc caça-níquel. O show novo mostra como o mercado brasileiro ainda é carente de superproduções de cantores pop, que capricham cada vez mais nos videoclipes mas deixam a desejar na estrada. Sandy & Junior contam com três trocas de figurinos, palcão tecnológico e interativo (há um app no qual os fãs podem definir detalhes do visual do palco), banda ao vivo, mais de uma dezena de bailarinos, muitos vídeos criados especialmente para o show – incluindo um clipe com atores do seriado “Sandy & Junior” em “Eu Acho Que Pirei” e um depoimento emocionante dos irmãos para os fãs, com cara de documentário. É uma aula para a nova geração do pop. De verdade. Sem contar que cantam, dançam e tocam instrumentos de verdade – o que para eles é o básico, mas que sabemos que se torna cada vez mais uma exceção para tantos cantores pop. Eles não entram no palco para enganar ou enrolar ninguém.

Durante a venda de ingressos, meses atrás, muito se falou sobre o preço alto. Mas esse show respeita o dinheiro e o carinho dos fãs. Na estreia, Sandy falou que eles se preocuparam muito – sempre e também nessa celebração – com o que os fãs esperaram deles. A escolha do repertório passou por isso. Eles cantam músicas de todas as etapas e trazem até algumas surpresas inesperadas, canções que não fizeram tanto sucesso mas que os fãs de verdade amam, como “Libertar” e “Ilusão”. Esteticamente, é tudo muito sofisticado. Os figurinos reafirmam a maturidade dos artistas, com muito brilho no caso de Sandy e cores sóbrias para Junior. O cenário baseia-se no triângulo adotado no lugar do “&”. São vários triângulos luminosos, e toda uma estrutura de LED capaz de mudar instantaneamente as cores do ambiente. O ballet também é colorido, em referência ao passado. A direção conseguiu dosar a nostalgia com o que há de melhor na atualidade. É um show adulto, mas também um vácuo no tempo. De volta para a melhor época de nossas vidas. Só resta agradecer aos dois por darem esse presente ao público.

Fãs que ainda estão sem ingresso: DEEM UM JEITO DE CONSEGUI-LOS. Participem dos concursos e fiquem de olho no site da Ingresso Rápido que às vezes aparecem alguns tickets sobressalentes por lá. Eu não me perdoaria nunca se não visse esse show e vivesse esse momento.

Por Leonardo Torres.