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Resenha: Miley Cyrus nunca esteve tão sagaz, explosiva e carismática como em Plastic Hearts

(Foto: Divulgação)

A garota, que antes citava Iron Maiden e Nirvana em entrevistas e fazia tímidos covers de “Smells Like Teen Spirit” e “Cherry Bomb” em turnês, deve estar completamente realizada nesta sexta-feira (27). Miley Cyrus acaba de lançar o seu novo álbum “Plastic Hearts” e, por meio dele, inspira autenticidade ao ser o que sempre sonhou ser.

Longe de ser só mais uma obra com referências oitentistas de 2020, o projeto embarca na missão de encontrar uma sonoridade que difira a cantora de outras estrelas do pop da sua geração…e consegue. Com o toque de Mark Ronson e Andrew Watt, Miley Cyrus nunca esteve tão sagaz, infernal, carismática em um projeto de música pop com referências e inspirações no que há de melhor no rock. Mais uma vez, ela está unindo o melhor dos dois mundos.

Plastic Hearts, o álbum

O incêndio que destruiu a casa onde a estrela vivia com o seu ex-marido Liam Hemsworth acabou não apenas com o relacionamento de Cyrus, como também com qualquer resquício de insegurança que pudesse atrapalhar uma popstar (ou rockstar?) de expressar as suas dores, angústias e desejos mais primitivos. A sua vida desde o triste ocorrido em Malibu, o fim de seu casamento, seus relacionamentos relâmpagos e tóxicos estão registrados em um álbum enérgico, sensível e bem produzido.

O registro de uma doidice interseccionada por guitarras e letras poderosas, com agudeza lírica. Talvez, Plastic Hearts seja o melhor álbum de sua carreira até agora.

Ouça:

Os destaques

A antecessora de ‘Midnight Sky’ foi ‘Slide Away’, música que praticamente anunciou o seu divórcio com o ator australiano, com quem viveu entre idas e vindas por cerca de 10 anos. O single, lançado quase que de maneira simultânea as notas dos tabloides que noticiavam o rompimento, deixava uma mensagem: ela estava voltando para as “luzes da cidade” e deixando ele ir.

Mesmo estando de fora do novo álbum, a canção é o ponto de partida do projeto e é referenciada logo na primeira faixa. “WTF do I Know” foi o primeiro acerto de Plastic Hearts: uma excelente música de abertura.

Com influências do punk-rock, agitada e confusa, Cyrus fala sobre seguir em frente sem nenhum tipo de remorso e já ‘tira o elefante da sala’: “I’m alone” (“Estou sozinha”). O verso “Thought that it’d be you until I die but I let go” (“Pensei que seria você até eu morrer, mas eu deixei ir”) denuncia a relação da música com o single lançado em 2019.

Na faixa-título do projeto, Cyrus recorreu aos Rolling Stones e a canção “Sympathy For The Devi”, clássico de 1968, para criar uma atmosfera californiana e questionar a vida. Aqui, a cantora fala do desespero de tentar se sentir viva novamente. A dificuldade de se conectar com outras pessoas de uma forma profunda, após tanto tempo, assusta a artista.

Uma dos pontos altos de ‘Plastic Hearts’ ficou para a terceira faixa do disco. Em “Angels Like You”, Cyrus entrega uma emocionante e vulnerável interpretação de uma balada noventista. De longe, uma das fortes candidatas a ser o próximo single.

“I brought you down to your knees ‘Cause they say that misery loves company” (Eu te coloquei de joelhos porque dizem que o sofrimento adora companhia) – “Angels Like You”

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(Foto: Divulgação)

Seguindo paraPrisoner, ao lado de Dua Lipa, o álbum continua eletrizante. Nesta faixa, que é um hino pop setentista, duas estrelas cantam e se divertem sem nenhum tipo de competição.

Na sexy “Gimme What I Want”,  Miley embarca em relacionamentos carnais em meio a uma atmosfera quase vampiresca. Certamente a música cairá no gosto dos fãs mais antigos, já que ela pode lembrar a era ‘Can’t Be Tamed’ com uma produção mais refinada. Em um eletric-pop, ela utiliza “Califórnia Love” (Tupac) para ditar o ritmo por aqui.

Um suprassumo do New Wave, “Night Crawling” é a melhor faixa de ‘Plastic Hearts’. Ao lado do lendário pós-punker Billy Idol, Miley invoca um hino hard rock que deve agradar não só os fãs, mas também a crítica especializada.

Pop e Rock se entendendo em um aura deliciosa, como poucas vezes aconteceu. Na letra, podemos dizer que a dupla troca a sua “Wrecking Ball” por uma “Disco Ball”. Desta vez é diferente.

A canção ainda conversa muito bem com “Midnight Sky”, que vem logo em seguida, reforçando a liberdade de Miley em sua nova fase. Já é uma queridinha de 2020.

A maturidade vocal e lírica da artista pode ser notada sem muito esforço em “High”. Os aplausos, aqui, também devem ser direcionados a Mark Ronson.

“Hate Me” pode causar um estranhamento inicial, mas depois de alguns segundos é perceptível a potência vocal da artista e a faixa se torna uma das mais interessantes de todo o projeto, pois conversa com aquilo que Miley já foi um dia sonoramente.

Realizando um sonho, a dona do projeto convidou Joan Jett para dividir os vocais em “Bad Karma” e, provavelmente, não há ninguém mais do rock do que a eterna The Runaways. A voz de ambas se intercalam perfeitamente entre gemidos, em outra faixa que chamará a atenção dos ouvintes de PH.

Em “Never Be Me”, uma balada oitentista emotiva e poderosa, podemos dizer que é Cyrus realiza tudo aquilo que tentou fazer em “Younger Now” e falhou. Um clássico para os fãs mais antigos.

Pode ser complicado perceber o quão crucial “Golden G String” é para concluir um trabalho tão enérgico, ainda mais em um ano de eleições para presidência nos EUA. Se ainda faltava força política em ‘Plastic Hearts’, agora, não falta mais.

Melhores faixas: “Night Crawling”, “Midnight Sky”, “Angels Like You” e “Bad Karma”