Resenha: “Dawn Of Chromatica” é uma coletânea do que há de mais fresco nas pistas de dança

É nesta sexta-feira que finalmente os fãs de Lady Gaga em todo o mundo poderão ouvir “Dawn of Chromatica”, uma nova versão do álbum “Chromatica” lançado em 2020. O disco, que foi muito aguardado e comentado nas redes sociais antes mesmo de ser anunciado, chega como uma coleção e apresentação de novos nomes da música internacional, escolhidos a dedo pelo produtor executivo do projeto e DJ Bloodpop.

Com artistas interessantes e expoentes na cena musical dos quatro cantos do planeta, como Pabllo Vittar, Rina Sawayama, Bree Runway, Arca, Charli XCX, Dorian Electra, Shygirl e Ashnikko, “Dawn of Chromatica” é uma ode às qualidades individuais de cada um dos colaboradores do projeto e o resultado disso é uma coletânea grandiosa com o que há de mais fresco nas pistas de dança.

Foto: Divulgação

Bloodpop foi muito feliz na curadoria dos artistas. Ele, que teve carta branca de Lady Gaga para tocar o projeto, escolheu artistas que dentro de suas praças de trabalho traçam um caminho bem semelhante no que tange a inovação e utilização de sonoridades que, para uma parcela do público consumidor de música, pode soar ao menos diferente.

A maior evidência disso é o fato dos colaboradores terem trabalhos conjuntos entre si, como por exemplo Pabllo Vittar tem três lançamentos com Charli XCX e um ao lado de Rina Sawayama, que por sua vez já afirmou que tem uma faixa gravada com Charli! Arca era colaboradora da produtora SOPHIE, que morreu em abril deste ano e também já havia trabalhado com Charli e produzido a faixa “Plastic Doll” na versão original de “Chromatica”.

Na divulgação da tracklist oficial, percebemos que “Dawn of Chromatica” não traz os três interludes que ditam o andamento das faixas. E essa é apenas a primeira diferença entre os projetos de 2020 e 2021. Na versão que chegará às 00h desta sexta-feira nas plataformas de streaming, os artistas convidados fizeram diversas contribuições, sendo a mais recorrente a adição de letras adicionais às versões originais.

Dentre as faixas que ganharam versos novos, destaque pra versão espetacular de “Free Woman” assinada por Rina Sawayama e Clarence Clarity. A dupla, que recentemente também trabalhou em um remix caótico de “Enter Sandman” do Metallica, conseguiu trazer uma explosão para a música e alguns toques bem charmosos, como um “let’s go, Gaga” nos primeiros segundos e o final em fade-out.

Ashnikko também introduziu novos versos em “Plastic Doll” de forma muito inteligente, além de trazer uma vibração de k-pop para a faixa, que se afastou bastante de sua versão original. Em “911”, Charli XCX também fez questão de trazer seus dotes como compositora em trechos inéditos e levou a música para um lugar mais sombrio e mais pesado.

“Dawn of Chromatica” também chegou com verdadeiros bangers de pistas de dança. A versão de Arca para o mega sucesso “Rain On Me”, por exemplo, é uma dessas. “Stupid Love”, de Coucou Chloe, “Enigma”, de Doss, e “Replay”, de Dorian Electra, dariam uma excelente sequência nas madrugadas. “1000 Doves”, assinada por Planningtorock, tem uma pegada a lá Donna Summer em “I Feel Love”, que deixou a música ainda mais sofisticada.

“Babylon”, que já carregava os graves em sua versão original, ganhou dois remixes. O de Bree Runway é mais simples e próximo da versão de “Chromatica”. O destaque ficou mesmo para a versão Haus Labs, que era muito aguardada pela fanbase, mas pode dividir opiniões por infiltrar sintetizadores ao longo de toda a faixa.

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Pabllo Vittar e “Fun Tonight”

Para o Brasil, “Dawn of Chromatica” tem um sabor especial. Isso porque a maior drag queen do país e uma das maiores do mundo, a nossa Pabllo Vittar, foi escolhida para assumir a versão de “Fun Tonight” junto com seu time de produtores da Brabo Music: DJ Gorky, Mafalda e Zebu.

Pabllo não se intimidou e apresentou um remix de forró para faixa, com todos os elementos característicos do gênero originário do nordeste. A virada de bateria eletrônica, por exemplo, está lá na versão brasileiríssima de “Fun Tonight”. Os cortes e interposições dos vocais de Lady Gaga e de Vittar também nos trazem uma sensação de dueto, fato que não se repete em outras tracks do projeto.

Foto: Divulgação / Ernna Cost. Arte: @sadseaboy

A ousadia de Pabllo e da Brabo em colocar um forró em um álbum oficial do catálogo de Lady Gaga é, na verdade, a parte mais interessante desta parceria. PV poderia ter optado por um remix mais próximo do que ela fez em “Flash Pose”, que naturalmente conserva uma sonoridade mais fácil para o público estrangeiro, mas não. Não houve medo da negativa e houve sim uma continuidade ao que a drag queen vem fazendo dentro do Brasil de forma maestral.

Certamente a singularidade de Pabllo Vittar enquanto artista é o que chamou a atenção de Bloodpop para inseri-la neste projeto. É absolutamente animador perceber que ela não deixou esse detalhe de lado para seguir a cartilha do que alguns consideram ser um trabalho que rompe fronteiras. Pabllo Vittar é internacional ao jeito dela e se era aprovação de uma mega estrela pop que tava faltando, agora ela já tem.