Segundo informações da ONG Transgender Europe, o Brasil é o país que, em números absolutos, mais registra assassinatos de travestis e transexuais, segundo levantamento feito pela ONG Transgender Europe. Dados da União Nacional LGBT apontam que o tempo médio de vida de uma pessoa trans no Brasil é de apenas 35 anos, enquanto a expectativa de vida da população em geral é de 75,5 anos. Por isso, a indicação ao Grammy Latino de artistas transexuais como Assucena Assucena e Raquel Virgínia da banda As Bahias e a Cozinha Mineira e Liniker é muito representativo!
Na categoria de língua portuguesa do Grammy Latino, “As Bahias e a Cozinha Mineira” têm a indicação de melhor álbum pop pelo “Tarântula”. Já Liniker concorre na categoria de melhor álbum Rock com “Goela Abaixo”. O POPline conversou com esses artistas que expressaram a felicidade pela indicação:
Liniker
“Cantar e escrever as coisas que eu sinto é o jeito que eu encontrei para demarcar meu lugar de direito de estar viva e legitimar o meu afeto no mundo. Afeto que tem sido barreira e mergulho, pauta que vocês já devem estar cansadxs de me ouvir falar, mas eu tenho orgulho de dizer que essa pauta é minha meta, meu traço de vida, e que eu vou fazer e cantar muito sobre e por esse lugar. Três travestis, três mulheres negras, indicadas numa categoria de destaque do Grammy Latino. Cantando em português, produzindo suas próprias histórias e sendo donas dos seus destinos, Raquel Virgínia, Assucena Assucena, Mahmundi, orgulho demais de vocês, minhas amigas. Quem me conhece de perto sabe o quanto esse momento foi esperado e isso para além da indicação, é vitória! É sobre estar viva e isso me lembra cada letra escrita sobre meus amores tóxicos e irresponsáveis, sobre as paixões avassaladoras que eu tenho me permitido viver, sobre sentir com meu corpo todo e cantar para transbordar e transpassar as estáticas que me são impostas dia a dia. Eu quero viver as minhas delícias. Quero cantar viva. Quero seguir escrevendo. Quero ser o gozo e a vida e que assim seja! Axé.
Assucena Assucena
“Essa indicação é uma vitória da história e da memória das mulheres trans que não tiveram suas histórias contadas. Tarântula é plural em musicalidade e temática como a nossa existência. Nossa música carrega conosco a beleza do que somos, plurais, em essência. O álbum é MPB e traz nossas marcar como sambas e baladas, mas, acredito que com maturidade, ousa no universo do pop. É bom ter esse reconhecimento de nossa maturidade e também é ótimo saber que mulheres trans foram indicadas pela primeira vez ao GRAMMY. Tarântula é um sintoma de nossa conquista musical e também do quanto fomos apagadas. Isso é um sinal que o nosso lugar é com a cara ao sol. É uma vitória também de quem acreditou em nosso trabalho, nosso escritório Faz Produções e a Universal Music. Muito obrigada!”
Raquel Virgínia
“Tarântula é um álbum pop que pretende contestar e rememorar a “Operação Tarântula” que foi crime contra a comunidade LGBTTQI+, mas sobretudo contra a humanidade. Perseguir e assassinar um grupo específico jamais pode ser fato esquecido. É disso que estamos falando e é por isso que nosso trabalho ganhou destaque. Para além disso, é um disco, como tudo que fazemos, autoral. Pude compor cinco músicas: em Carne dos Meus Versos falei de resistência, solidão e abandono, fiz ainda um crítica social em Shazam Shazam Boom e ainda toquei em temas caros como o armamento em Pipoco e Pipoca, além de ter composto também Fuça de um Fuzil. E pra nossa alegria, misturamos o som com o Projota em Tóxico Romance. Agradeço a todas as pessoas que prestaram atenção a nosso trabalho e que estão nos fazendo alçar voos de novos horizontes. Agradeço aos nosso produtores e a cada músico, aos nossos empresários e gravadora, a todxs que vem nos fazendo evoluir ainda mais”.
Rafael Acerbi
“Passa um filme na cabeça. Lembrar de todos os degraus e da história desse projeto. Desde de que saímos da faculdade até hoje. Tarântula é nosso terceiro álbum e sermos indicados ao grammy é uma alegria imensa. Esse álbum tem um significado importantíssimo para a conjuntura atual que vivemos. Desde o fator musical envolvendo toda uma gama de produtores e parceiros que esculpiram essa obra conosco tijolo por tijolo na busca de uma sonoridade nossa. Nesse sentido passamos por todo um processo de redescobrir a nossa música. Caminhando por lugares mais pops e nos arriscando a abrir os ouvidos e as portas para públicos que ainda não havíamos tido contato! E dentro de uma estrutura de gravadora que ainda não havíamos tido contato até então!
Até o fator humano e político que é Raquel e Assucena serem as primeiras mulheres trans indicadas nesse prêmio! Estamos em festa e honradxs com a indicação de levar nossa mensagem e a música brasileira para o mundo”