O Sertanejo é um dos gêneros mais ouvidos incontestavelmente no Brasil. Com grandes cantores e cantoras, o ritmo ainda não havia sido alcançado pelos artistas queer. E é aí que Gali Galó, que se classifica como artista não binárie, contore e compositore, se destaca. Com sotaque caipira, atitude e postura de artista que chegou para quebrar paradigmas, para transpor as regras, Gali canta sobre liberdade e o orgulho de ser quem é.
Gali traz à tona as sofrências que viveu sendo Queer num ambiente machista, homofóbico e heteronormativo no interior de São Paulo, em Ribeirão Preto, sua cidade natal. Tocada de maneira atípica, a viola caipira de Galó incorpora a música de raíz, ao mesmo tempo em que flerta com a cena indie de São Paulo – cidade que esteve radicade por mais de dez anos.
Após quatro singles lançados em pouco mais de um ano – “Fluxo” (feat. Aíla), “Caminhoneira”, “Raíz” e “Eu Entendi” (feat. Mel & Kaleb) -, Gali Galó está cada vez mais próxime de sue primeiro álbum. “Aceita” é uma canção que fala sobre sexualidade, identidade de gênero e integra o álbum previsto para agosto de 2021.
“Essa é uma música que me leva pra minha infância no interior de São Paulo. É um grito de libertação diante de todas as situações que oprimiram o meu passado. Aceita tem cheiro de laranja”, afirma Gali Galó.
O POPline.Biz é Mundo da Música teve acesso com exclusividade ao clipe, confira em primeira mão:
Mas, afinal, quem é Gali Galó? Qual a sua história? A artista é o destaque de hoje do “Quem é”. Lançado em fevereiro, o quadro do POPline.Biz é Mundo da Música traz nomes que estão dando o que falar no mercado como Brena Gonçalves, Saudade, Hiran, Kika Boom, Luan Estilizado, Illy, DJ Guuga, Gabriela Rocha, Hotelo, Kant, Zé Vaqueiro, Malu, Diego & Victor Hugo, Krawk, Vitor Fernandes, Rai Saia Rodada, Salvador da Rima, Kawe, Nathan, MC Drika, OUTROEU e mais.
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Quem é Gali Galó?
Tudo começou no interior de São Paulo, mais precisamente em Ribeirão Preto, quando Camila Garófalo Crispim Tavares, passou a ouvir chacotas sobre sua aparência e jeito de ser: “mina-macho!” eles diziam pelos corredores da escola.
“Ao longo da minha infância e da minha adolescência eu tive a sensação de guardar um segredo terrível, desde que percebi que sentia atração por meninas. Apesar de ser muito ligade aos meus pais e à minha familia, tive que ir morar em São Paulo na primeira oportunidade, afinal, eu não parecia estar me sentindo aceita ali”, revela Camila.
Gali estudar Publicidade em São Paulo mas seu sonho sempre foi a música. “Sempre fui cantore e compositore. Mas aos 17 anos, na cidade grande, tive que virar redatore, jornalista, produtore executive e mais um monte de coisas que minha vasta empolgação com a comunicação me permitia”, revela.
Aos 21 anos largou tudo para se lançar como artista independente e gravou seu primeiro disco “Sombras e Sobras”. Na época, ainda como Camila Garófalo. “Camarim” foi o single e clipe, lançado em 2016. “Nessa época eu passei a ajudar outras mulheres a gerirem sua carreira artística, que participaram desse clipe. Depois desse trabalho, eu deixaria os palcos para me entregar ao universo corporativo da música e fundar projetos de militância”, conta.
Após trabalhar com a bandeira do feminismo, e finalmente deixava de ser Camila para ser Gali Galó, a artiste assumiu uma nova identidade e fez as pazes com o sertanejo, o estilo mais ouvia na infância. “Assim, fundei meu primeiro projeto LGBTQIA+, chamado Fivela Fest, o primeiro festival Queernejo do Brasil. Junto com Gabeu, o rei do pocnejo, inventavámos o estilo em 2019”.
O Queernejo é o sertanejo feito por pessoas LGBTQIA+. E é assim que Galó vem se destacando no movimento com uma assinatura única que passa pelo brega, pelo pop e pelo indie. O termo nasceu durante a SIM São Paulo, a maior conferência musical do país, com o slogan do “Fivela Fest – O primeiro festival Queernejo do Brasil“, em dezembro de 2019.
Idealizado e produzido por Gabeu, Gali Galó e Alice Marcone, os principais representantes do gênero, o festival online apresentou outros artistas LGBTQIA+ no Sertanejo, como Reddy Allor, Zerzil e Mel & Kaleb. Este projeto simboliza um novo elo entre o grupo, que agora apresenta um DVD assinado pelo selo Fivela.
Ao longo de 2020 e, mesmo em início de carreira, os artistas do projeto já conquistaram números significativos nos serviços de streaming, provando que o cenário musical sertanejo carece de diversidade. Gabeu conquistou o posto de príncipe do Pocnejo, Alice Marcone se mostrou a primeira mulher trans no gênero, Gali Galó trouxe a representatividade não binárie, Reddy Allor mesclou a arte drag com suas raízes, Mel e Kaleb tiveram um crescimento significativo nas plataformas de streaming com seu primeiro EP, e Zerzil, não binárie, fez uma releitura da música “Old Town Road” de Lil Nas X.
O coletivo foi convidado para assinar uma playlista na Deezer em homenagem ao mês da visibilidade LGBTQIA+. “A playlist oficial que a Deezer criou para o Queernejo foi uma sugestão de parceria feita pela própria plataforma. Nos reunimos e combinamos de passar pra eles nossos lançamentos recentes num primeiro momento (para criar a playlist) e agora seguimos alinhades para os futuros lançamentos”, revela.
Segundo Gali, esta é uma forma de legitimar o Queernejo como subgênero do Sertanejo, dentro de uma das maiores plataformas de música do Brasil.