O Governo do Estado do Rio de Janeiro anunciou a intenção de autorizar o retorno do calendário do futebol profissional. Os estádios abririam ao público com 50% da capacidade. A medida, que teria o apoio do Ministério da Saúde, leva à seguinte pergunta: e os espetáculos de música em arenas, casas de espetáculos e casas de shows de todos os formatos?
O ambiente no universo da música é diferente do futebol. No mercado, contudo, todos admitem que o esporte poderá liderar esse movimento. Justamente por reunir muitos interesses econômicos, o futebol pode ditar as regras na indústria do entretenimento ao vivo.
Na música, o “novo normal”, só deve acontecer a partir de outubro de 2020. Algumas atividades devem ter início em agosto, mas em fase experimental. De qualquer maneira, nada de atrações internacionais. A imensa maioria dos artistas estrangeiros adiou datas no Brasil e em toda a América Latina para março de 2021.
Na retomada do calendário, uma série de protocolos sanitários serão adotados, incluindo não só a redução na capacidade das casas de espetáculos, mas a higienização completa de todas áreas constantemente, com distribuição de álcool gel ao público e contratação de equipes maiores, além de eventualmente medir a temperatura e a realização de outros testes com o público.
A Europa já começa a liberar eventos musicais. A Espanha anunciou liberação de shows para até 800 pessoas. Na Áustria, são 500 pessoas. Mas nesses países a presença do coronavírus começou antes e, hoje, muitos já países vivem uma situação controlada. Os sistemas de saúde que atendem com certa normalidade os pacientes. No Brasil, a curva está em outra direção. Será prudente abrir estádios e permitir grandes shows nesse momento?
Sony Music UK apoia palcos de médio e pequeno porte no Reino Unido
Enquanto isso, casas de shows fazem o possível para organizar as finanças. Muitas delas, infelizmente, não terão fôlego sem apoio do governo ou do público. No Reino Unido, a associação Music Venue Trust (MVT), que defende mais de 500 music venues (casas de show) ameaçadas, apresenta há poucos dias um resultado impressionante para a campanha #saveourvenues, que promove um fundo de emergência para sobrevivência dos palcos. A arrecadação já ultrapassou 1 milhão de libras (cerca de R$ 7 milhões).
Entre os apoiadores, além de pessoas físicas, estão empresas como Amazon Music, Sony Music UK e a própria Prefeitura de Londres anunciou doação para o fundo. “Sem a música independente, a cena musical do Reino Unido vai morrer”, prevê a diretoria da MVT.
Seria ótimo ver no Brasil o apoio das majors a esse circuito independente de casas de shows. Afinal, o laboratório da música em todo o país começa nos palcos intimistas, e não nas grandes arenas.
É bom lembrar que Tom Jobim ganhava a vida tocando num piano-bar em Copacabana, nos anos 1950, antes de sua música ganhar o mundo. Em diversas capitais e cidades médias no Brasil, é o circuito de casas de shows e bares com música ao vivo que ajudam a construir audiência e têm impacto econômico relevante.
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Leo Feijó é jornalista, pesquisador e coordenador do Programa “Música & Negócios” do Instituto Gênesis da PUC-Rio. Criou diversas casas de shows no Rio e está vivendo em Londres, onde cursa o mestrado em Economia Criativa e Indústria da Música.
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