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Projota, Taís Araújo e Lázaro Ramos falam sobre “Ombrim” e o futuro pós-pandemia

"Só a arte salva", acreditam Projota, Taís Araújo e Lázaro Ramos. (Foto: Julia Assis)
"Só a arte salva", acreditam Projota, Taís Araújo e Lázaro Ramos. (Foto: Julia Assis)

A arte salva as pessoas da violência psicológica. Impulsiona para o sonho. Cura almas. Foi nesse tom de esperança que o POPline conversou com Projota, Taís Araújo e Lázaro Ramos sobre a parceria no clipe de “Ombrim”, o novo álbum do cantor, relações familiares, racismo e refletiu sobre o futuro pós-pandemia no Brasil.

"Só a arte salva", acreditam Projota, Taís Araújo e Lázaro Ramos. (Foto: Julia Assis)
“Só a arte salva”, acreditam Projota, Taís Araújo e Lázaro Ramos. (Foto: Julia Assis)

Como surgiu o nome “Tempestade numa gota d’água” para este trabalho?

Projota – Surgiu de uma música do Renato Russo que fala “sou uma gota d’água, sou um grão de areia“. A ideia surgiu naturalmente a partir desse entendimento de que todo ser humano é apenas uma gota num universo infinito e que, portanto, precisa de equilíbrio para continuar existindo. Fazemos parte de um ciclo. Assim como a chuva que cai das nuvens chega ao chão e evapora para recomeçar. Seguimos chovendo.

O convite para Taís Araújo e Lázaro Ramos para participarem de “Ombrim”

Projota – Eu já tinha o sonho de ter a Taís em um clipe meu. A gente já tinha se encontrado algumas vezes durante o programa Popstar (TV Globo) e eu sentia uma energia ótima, de identificação mútua. A partir daí fomos nos aproximando e decidi apresentar a música. Ela pirou com a ideia do clipe e sugeriu que Lázaro deveria dirigir. Era muito além do que eu tinha sonhado, sabe?

Taís – Acho que ele se iludiu um pouco com a Michele Brau, do seriado Mister Brau, que dançava pra caramba [risos].

Projota – Fomos ao escritório encontrar com o Lázaro para apresentar a música. Ele curtiu a metáfora sobre o fato de eu não saber dançar quando era jovem e daí acertamos tudo.

A gravação do clipe

Lázaro – Foram duas semanas concebendo a ideia. A Ramana [Borba] trouxe a expertise da dança e coreografou o clipe. Num sábado ensaiamos com o elenco e a banda nesta casa de show. No domingo estava todo mundo azeitadinho. Fizemos oito takes até chegarmos ao definitivo. Gastamos mais tempo escolhendo qual seria o oficial porque cada um tinha algo especial. Por fim, ensaiamos mais do que gravamos.

Taís – Para um diretor se propor a fazer um plano sequência, ele tem que ter muita confiança em todo mundo que está trabalhando com ele. Porque neste caso todo mundo é protagonista. Se um errar, acabou. Eu diria que esta é a melhor maneira de se trabalhar de forma colaborativa. Todo mundo é fundamental. Na verdade, na arte todos são fundamentais.

Lázaro – Foram 45 pessoas participando do clipe e mais 20 que fizeram parte da equipe.

Taís – Precisamos falar do Caverinha. Que menino carismático. Toda vez que a câmera chegava próximo dele com cabeça cabisbaixa e ele começava a mexer o ombrinho, não tinha quem não ficasse apaixonado.

Lázaro – É interessante quando vemos crianças trabalhando. Porque as pessoas imaginam que elas perdem a infância muito cedo, e na verdade quando desligavam as câmeras, você via ele correndo pelo set, mexendo até onde não devia mexer. É muito legal.

Projota, os atores Taís Araújo e Lázaro Ramos e suas versões "crianças" representadas por Sara Christino e MC Caverinha (Foto: Julia Assis)
Projota, os atores Taís Araújo e Lázaro Ramos e suas versões “mirim” representadas por Sara Christino e MC Caverinha (Foto: Julia Assis)

Divulgação de “Ombrim” no TikTok

Projota – A gente já tem algumas ações preparadas. Nós três gravamos um vídeo dançando. É uma música que fala sobre um Tiago [nome de batismo do cantor] de 14 ou 16 anos, que ouvia música black e ficava no canto. Dançar sempre foi uma dificuldade para mim. Nunca tive uma liberdade corporal, essa malemolência.

Conforme fui crescendo, passei a ouvir rap. Aí ferrou tudo [risos]. Só mexia o pescoço e ficava no canto da festa olhando, observando tudo acontecer. Mas a gente vai fazer algumas coisas pro TikTok. A galera vai ver o Projota arriscando umas dancinhas. Podem esperar uns vídeos engraçados no #ChallengeOmbrim.

Sobre a música “Salmo 23”, o nascimento de Marieva e a ligação com o sagrado

Projota – Para mim mudou tudo. Fiquei um ano separado da minha esposa [a influenciadora digital Tâmara Contro] e numa noite acordei sabendo que eu tinha que ligar pra ela. Eu suava, tremia na cama, com o coração disparado e sabia que iríamos voltar. Eu sentia que a Marieva viria. Deus me deu o sinal verde para que eu ligasse para minha esposa e tudo ficaria bem. Dois anos depois estamos aqui e nossa filha Marieva está conosco.

Taís – Rezo todo dia. Vivo em oração, principalmente depois que a gente tem filhos. E na situação que estamos agora, é o sagrado que nos socorre neste momento de tanta insegurança. É a fé que vai nos manter sãos. E claro, as artes.

Lázaro – Tenho visto muita gente falando sobre isso neste momento que estamos vivendo onde a arte, a música, o audiovisual têm sido o norte para que as pessoas possam enfrentar o dia-a-dia e suas angústias.

Projota – Tudo isso me emociona e me faz pensar bastante no rumo que minha vida poderia ter tomado e para onde eu vim. Marieva é exatamente a materialização desta minha aliança com Deus e com o que é amor aqui na Terra.

O enfrentamento contra o racismo nosso de cada dia

Projota – Sou filho de um homem negro e de uma mulher branca. Meu irmão mais velho tem a pele clara. A forma como eu descobri que eu era negro foi dolorida. Onde eu cresci, eu era parado pela polícia pelo menos uma vez por semana. O meu irmão deve ter sido parado duas ou três vezes na vida.

Eu não conseguia entender porque isso acontecia. Cresci com meus parentes por parte de mãe, todos brancos, e eu era o único negro. Só quando eu comecei a ir pra rua é que fui entender o que é ser negro e o que é sofrer racismo.

Lázaro – Como artista, a gente tem esse papel fundamental que é buscar a humanização [das crianças negras]. Parece que a gente não está fazendo nada às vezes, mas quando a gente faz um seriado, um clipe que tenha essa alegria, essa potência na cara de todo mundo que está ali presente, ali também está um processo de humanização, de possibilidades, de valorização.

São coisas que vão direto no sentimento das pessoas. Mas como cidadão só resta indignação, revolta e a gente tem que continuar cobrando, falando a respeito. É o papel que nos sobra agora. Não somos especialistas em segurança pública, não somos políticos, não somos governantes. Mas temos voz para alertarmos a sociedade e tentarmos um caminho que seja mais justo e de valorização da vida.

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Projota – Marieva veio branca e rica. Muda tudo. A triste realidade do João Pedro e de Ágatha é muito diferente de onde Marieva se encontra. Ela já nasceu muito privilegiada. E é meu papel fazer com que ela entenda esta posição. Ela estará muitos passos à frente de outras crianças.

Por outro lado, ela é mulher. E independente da cor da pele, tem muitos desafios pra enfrentar. É onde eu preciso aprender mais e saber como ser a melhor plataforma de lançamento pra ela. Entregá-la para a vida com a melhor base possível. Quero que ela se sinta amparada.

Atitudes machistas apontadas na música “Sai de rolê”

Projota – A forma como o homem tenta entrar em contato com as mulheres é um comportamento que nunca encontrei em mim. Mas quando eu tinha uns 19 anos, as festas que eu frequentava eram de rap e hip hop. Era um ambiente muito denso naquele tempo. Por conseqüência, as pessoas eram mais duras. No entanto, a gente não tinha este comportamento com as mulheres até mesmo por medo de outros homens.

Mas esta música é um reflexo de conversas que tive com amigas e ex-namoradas que falavam que preferiam sair para uma balada LGBT porque os caras não ficavam enchendo o saco. Isso é um absurdo. Como que a mulher tem que selecionar para onde vai apenas para não ser incomodada? E “sai de rolê” era uma expressão muito usada em São Paulo e significava “vaza daqui”.

Apesar de tudo, consegui educar um pouco meus amigos. Mas é algo que a gente tem que se policiar toda hora porque eventualmente podemos cometer uma atitude machista sem perceber. Por isso ouço muito o que as mulheres têm a dizer, principalmente minha esposa que me ajuda muito. Estamos fazendo um videoclipe em animação para essa música que vai ser um lance bem educativo.

Pai de primeira viagem, Projota tem se preocupado em construir um mundo melhor para as próximas gerações. (Foto: Julia Assis)
Pai de primeira viagem, Projota tem se preocupado em construir um mundo melhor para as próximas gerações. (Foto: Julia Assis)

O futuro pós-pandemia

Projota – Hoje estamos aqui falando de música, de alegria para as pessoas num momento que ninguém sabe ao certo o que vai acontecer. De verdade? Não acho que vá mudar algo. Infelizmente estou um pouco pessimista em relação ao ser humano. Não consigo enxergar nas atitudes das pessoas a possibilidade de uma mudança real de comportamento após tudo isso.

Taís – Ah, não quero que esteja assim não. Não podemos deixar. Temos crianças para criar. Temos que fazer a fé prevalecer. É por eles, sabe?

Lázaro – Talvez esteja próximo do que pensa o Projota. Também não acredito tanto nessa melhora, mas acho que não temos alternativa a não ser fazermos alguma coisa. Otimista ou pessimista, a gente não pode ser espectador. Neste momento percebemos o quanto a arte é importante e que as pessoas precisam se entreter. Todo mundo tem que ser artista, no sentido de agir, de estar atuando.

Lima Barreto disse em uma de suas obras que o brasileiro é um povo espectador, que apenas observava aquilo que ia acontecendo. A gente vive um momento da história do nosso país em que todo mundo se entretém com os absurdos que são ditos e feitos. E a gente fica meio parado.

Projota – Acredito que a gente tem olhar para dentro de nós mesmos e dentro da nossa casa fazer a mudança. Mas aí a gente vê que 50% da população está na rua durante o isolamento social. É difícil imaginar que depois que tudo isso acabar todo mundo vai lavar as mãos. Acho que não veremos álcool em gel em lugar nenhum.

E a cultura?

Taís – Me deixa muito apavorada a vulnerabilidade de tantos profissionais deste segmento. O cenário é muito preocupante. Acho que o que vai acontecer é que a gente vai inventar novas maneiras de trabalhar. Ao contrário do Projota, estou sendo muito otimista. A gente tem capacidade de se reconstruir. Falo muito pelas crianças.

Projota – Torço pra que não seja assim, mas não vou mentir que acho que o comportamento da galera vai mudar bem pouco. Aqui a galera esquece tudo muito rápido. Lá pelo meio de 2021 vai estar tudo como era no meio de 2019.

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Taís – Agora que estão todos em casa, a gente vê como a arte é um grande antídoto para nossa saúde mental. É a válvula de escape que nos tira desse mundo real que está uma tragédia. Se alguém duvidava qual era a importância da arte durante todo esse tempo em que ela foi colocada em xeque, principalmente nesses últimos dois anos, agora a gente pode entender na prática qual é. É o alívio pra gente não enlouquecer.

Lázaro – O jeito de fazer e o conteúdo vão se transformar. Isso é inevitável. Todas as grandes crises que tiveram, a arte veio e mostrou um novo caminho, um novo olhar, um novo jeito de fazer. Mas acho que vamos passar por um período de grande sofrimento. A maneira de viabilizar está em xeque, que horas a gente vai voltar a se aglomerar e ver um filme ou uma peça de teatro juntos. A gente não tem essa resposta.

Entretanto, em termos de conteúdo, acho que virá muita coisa relevante. Isso não tenho a menor dúvida. Agora, precisamos encontrar um caminho para essa relevância não ficar parada nas mãos de quem não a distribui para todas as pessoas.

Assista ao novo clipe de “Ombrim”, estrelado por Projota, Taís Araújo e Lázaro Ramos

Não perca a live do Projota neste domingo:

O cantor vai mostrar sucessos e as novas canções de “Tempestade numa gota d’água” na live Festa em Casa com Projota. O show será transmissão ao vivo no canal oficial do artista no YouTube e nos canais Multishow neste domingo, 24 de maio.

“Já fiz algumas lives pelo Instagram, mas essa será a primeira desse porte. É um lindo presente fazer isso agora quando acabo de lançar meu novo álbum e o clipe de ‘Ombrim’. Vai ter música nova, música do início da carreira. Estou muito empolgado em celebrar esse momento com meus fãs”, conta o rapper.