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Como Prince subverteu música, indústria e comportamento desde os anos 80

Foto: Jean-Baptiste Mondino

Músico, cantor, compositor, multi-instrumentista, produtor, ator, dançarino, filântropo, ativista… Quantos predicados cabem em uma pessoa de 1m60? Pequeno na estatura, gigante no talento. Prince transcendeu todos os rótulos para eternizar seu nome entre os maiores da história. Mas o que o tornou um artista tão único aos olhos da crítica e do público, acima do bem e do mal?

Créditos: Kevin Mazur

Meu nome é Prince – o primeiro e único

Prince Rogers Nelson nasceu em Minneapolis, no dia 7 de junho de 1958. Filho de músicos, a criança autodidata aprendeu piano aos 7 anos. Não tardou para que aprendesse baixo, bateria, percussão, guitarra e muitos outros. “‘Prince’ é o nome que minha mãe me deu quando nasci e era o nome artístico do meu pai“, contou certa vez.

Seu nome, assim como sua música, era uma combinação de tradição e quebra de regras. ‘Prince’ também era um nome derivado de proprietários de escravos do século 18, que renomearam seus africanos como grandes personagens ocidentais (Prince, Pompey, Caesar). Mas Prince inverteu a semântica, vestiu-se de realeza e sugeria que Jesus fosse um… príncipe. Para ele, ter um nome como este não lhe daria outra opção que não fosse viver como um.

Mas houve um tempo em que o artista decidiu trocar seu nome por um símbolo impronunciável. Entre 1993 e 2000, Prince passou a atender pelo ‘The Love Symbol’, uma cruz curvilínea que mesclava os gêneros masculino e feminino. Ele também começou a fazer aparições com a palavra “SLAVE” (“escravo“) desenhada na lateral do rosto. Foi a forma que encontrou para protestar contra sua gravadora.

Mas talvez o que Prince mais amou em seu nome foi sua singularidade. Na infância, seus colegas tentavam provocá-lo. Mas desde a tenra idade tinha consciência de que seu nome era único. Deu a seu filho o nome de Amiir, que significa “príncipe com grandeza herdada divinamente”. Por uma infelicidade, o pequeno nasceu com má formação congênita e veio a óbito seis dias após o nascimento.

Não há reis na terra. Apenas príncipes“, disse certa vez. Discretamente, era uma cutucada em seus predecessores – o “rei do rock” Elvis Presley, o “rei do funk” e seu amigo George Clinton, e obviamente o “rei do pop” Michael Jackson.

Controvérsias e delírios sobre o fim do mundo

Prince, em foto promocional de 1979 (Crédito: PhotoFest)

Como todo jovem interessado em música, Prince também formou bandas em sua época de colégio. Aos 20 anos assinou seu primeiro contrato com uma grande gravadora e tocou praticamente todos os instrumentos em seus dois primeiros álbuns – For You (1978) e Prince (1979). Mas foi com o aclamado Dirty Mind (1980) que ele começou a explorar sexualidade e fantasia.

Controversy (1981) continuou brincando com os temas de seu antecessor, com faixas como “Sexuality” e “Do Me Baby”. No entanto, à medida que Prince continuava desenvolvendo sua carreira, ele também se tornaria conhecido por canções que flertavam com a espiritualidade.

O sucesso além das fronteiras americanas viria no ano seguinte, com o lançamento do álbum 1999. A apocalíptica faixa-título, uma requintada ode synth-funk sobre o juízo final nuclear, é um dos números mais conhecidos do cantor. E disco ainda traz seus primeiros hits que entraram no Top 10 americano e britânico: “Little Red Corvette” e “Delirious”.

Em uma entrevista em 2009, Prince revelou que quando era criança sofria de ataques epilépticos e que era provocado na escola. Ele disse ao apresentador Tavis Smiley: “No início da minha carreira, tentei compensar todos os meus problemas sendo o mais chamativo e barulhento que pude”. Deu certo!

O mundo inundado pela chuva púrpura

Na épica turnê do álbum “Purple Rain”, acompanhado da banda The Revolution (Foto: Getty Images)

Com sua banda The Revolution, Prince criou um álbum clássico. Purple Rain (1984) – que passou 24 semanas consecutivas em 1º lugar na Billboard 200 – também serviu de trilha sonora para o filme homônimo, que faturou quase 70 milhões de dólares em bilheteria só nos Estados Unidos, e ainda faturou o Oscar de Melhor Trilha Sonora Original.

Além de estrelar o longa, Prince emplacou seus três primeiros megahits. “When Doves Cry”, que exibia uma fusão sobrenatural de elementos eletrônicos e funk sem um refrão tradicional, tornou-se seu primeiro número 1 (posição que segurou por cinco semanas) e foi o single mais vendido de 1984. “Let’s Go Crazy”, uma canção rock selvagem e eletrizante teve o mesmo caminho: o topo da Billboard Hot 100.

Foi por muito pouco que “Purple Rain” não seguiu o mesmo destino. A melancólica faixa, que tornou-se a assinatura máxima de Prince, pegou a 2ª posição na Hot 100. A trilha sonora oferece dois outros sucessos: “I Would Die 4 U” e “Take Me With U”.

Prince se tornou simultaneamente um ícone visual conhecido com seus cachos característicos, jaquetas esvoaçantes e trajes com babados com enfeites punk. Tão grande quanto Michael Jackson e Bruce Springsteen.

Entre novembro de 1984 e abril de 1985, realizou 98 shows da turnê de Purple Rain. No último concerto despediu-se do público dizendo: “Eu tenho que ir agora. Não sei quando voltarei. Quero que você saiba que Deus ama você. Ele ama a todos nós”. Duas semanas depois, chegava às lojas – de surpresa – o álbum Around the World in a Day. Pois é, Beyoncé não foi necessariamente a pioneira neste sentido!

O último álbum de Prince com a lendária The Revolution veio em 1986. Parade gerou outro hit número 1: a pulsante “Kiss”. Além disso serviu de trilha sonora para o segundo filme do artista, Under the Cherry Moon, que ele dirigiu e estrelou. Esses três anos foram, sem dúvidas, a fase mais pop e gloriosa do astro.

Atento aos sinais

Após a dissolução do Revolution, Prince está apto a consolidar vários projetos arquivados que rompem com a estética pop de seus trabalhos anteriores e solta o ousado álbum duplo Sign ‘O’ the Times (1987). Problemas sociopolíticos, AIDS, violência de gangues, desastres naturais, pobreza, abuso de drogas e holocausto nuclear iminente estão entre os temas agridoces daquele que é, para muitos, sua obra-prima.

Apesar de faixas menos esperançosas, houve espaço para jams divertidas como “U Got the Look”, um dueto estridente com a cantora escocesa Sheena Easton que alcançou o 2º lugar da Hot 100. Contudo, enquanto as vendas dos álbuns nos Estados Unidos iam devagar, na Europa tinham curva ascendente e o ajudou a emplacar uma super turnê no Velho Continente. Por fim, o álbum entrou em diversas listas de melhores daquele ano e foi indicado ao Grammy de 1988 como “Álbum do Ano”.

Os dois trabalhos que encerraram a década foram Lovesexy (1988) – conhecido por sua capa com uma foto do artista nu e que foi censurada em alguns países – e a trilha sonora do primeiro filme da franquia Batman (1989), que traz o single número 1 “Batdance”, cujo clipe traz Prince com maquiagem de efeito e dando vida ao herói sombrio do filme quanto seu inimigo enlouquecido, o Coringa.

Diamantes, pérolas e contrato recorde

O início dos anos 1990 marcou o lançamento da banda New Power Generation, que apresentava uma mistura de r&b contemporâneo, hip-hop, jazz e soul junto com os vocais de Rosie Gaines. O grupo deu expediente pela primeira vez na trilha sonora de Graffiti Bridge (1990), uma sequência de Purple Rain que não se saiu bem nas bilheterias.

Em janeiro de 1991, Prince e a New Power Generation fez sua única visita ao Brasil. Foram dois shows na segunda edição do Rock in Rio. Em terras cariocas fez um show repleto de hits e viveu um romance com Marianne Cotrin, modelo fluminense de 16 anos à época. Há quem diga que o hit de 1994 “The Most Beautiful Girl in the World” teria sido escrita para ela, que estrelou o clipe da canção.

Com a contribuição artística do NPG, Prince reencontrou o sucesso com o álbum Diamonds and Pearls (1991), que trouxe hits como a romântica balada-título, a industrial “Gett Off” e a picante “Cream”, que tornou-se seu quinto e último número 1 na Hot 100.

O trabalho com o NPG brincava descaradamente com ideias sobre sexualidade, normas de gênero e o corpo. Para promover o álbum, Prince apareceu no MTV Video Music Awards de 1991 para fazer uma performance ao vivo de “Gett Off”. Levando o cenário do clipe para o palco, a apresentação contou com uma série de dançarinos e músicos simulando um bacanal, com o astro mostrando as nádegas ao vivo para o mundo inteiro.

No ano seguinte, Prince assinou um contrato recorde de 100 milhões de dólares com a Warner Bros., à época “o maior contrato de gravação e publicação de música da história” e que lhe dava a liberdade de buscar projetos para TV, filme, livro e merchandising separadamente. Para fins de comparação com outros gigantes da indústria: Michael Jackson e Madonna tinham contratos de 60 milhões de dólares com tudo incluído.

Tensões com a gravadora, a troca de nome e a independência artística

A baixa recepção ao trabalho intitulado Love Symbol Album (1992) criou tensão entre Prince e sua gravadora. Nos anos seguintes, a carreira do cantor passou por uma montanha-russa de altos e baixos. Desligado por se sentir controlado por sua gravadora, Prince mudou seu nome para um símbolo impronunciável, uma fusão de símbolos astrológicos femininos e masculinos que ele usou até 2000.

Assim que foi dispensado de todas as obrigações contratuais, o cantor lançou o álbum triplo apropriadamente intitulado Emancipation (1996). A partir daí, vários álbuns foram lançados através de seu selo NPG, incluindo Crystal Ball (1998) e Rave Un2 the Joy Fantastic (1999), sendo um dos primeiros artistas de grande porte a seguir os caminhos da livre produção de seu trabalho.

De certa forma, a segunda metade dos anos 1990 foi seu período mais “obscuro”, com trabalhos que chegaram a um público super restrito. Talvez tenha sido importante para que Prince reavaliasse sua vida e repensasse como adentraria o novo milênio.

O renascimento de um gigante

Prince voltou ao centro das atenções em 2004 ao se apresentar no Grammy Awards com Beyoncé, ainda em início de sua carreira solo. No mesmo ano foi introduzido ao Rock and Roll Hall of Fame e lançou Musicology, premiado com dois Grammys.

O álbum seguinte, 3121 (2006), o levou de volta ao topo da parada americana após 17 anos. E ainda naquele ano escreveu e gravou “Song of the Heart” para o filme de animação Happy Feet. A faixa saiu vencedora como Melhor Canção Original no Globo de Ouro.

Em 2007 protagonizou um dos maiores eventos televisivos dos Estados Unidos. Prince se apresentou durante o show do intervalo do Super Bowl XLI em um enorme palco com formato de seu famoso símbolo em meio a uma chuva torrencial. O evento foi assistido por 140 milhões de fãs e ficou para a história como uma das melhores apresentações do evento esportivo.

Três anos depois foi eleito pela Billboard como o melhor artista do Super Bowl de todos os tempos, foi destaque entre as “100 Pessoas Mais Influentes do Mundo” da revista TIME e ganhou o prêmio pelo conjunto de sua obra no BET Awards. Por fim terminou 2010 com uma introdução ao Grammy Hall of Fame.

Oposição às mudanças na indústria fonográfica e ativismo

Com o advento da internet como principal força de distribuição de música, Prince foi contra a tendência de ter músicas compartilhadas à vontade na web sem compensação inicial adequada e participação nos lucros. Suas faixas eram eventualmente encontradas apenas no serviço de streaming Tidal, apoiado por Jay-Z.

Um dos poucos artistas pop a ter total propriedade de suas masters, durante um bom tempo foi resistente a manter sua música em plataformas como YouTube, onde até mesmo vídeos de performances ao vivo eram deletadas.

Desde os tempos de Sign ‘O’ the Times, Prince assumia posições políticas com suas performances também. Em 2 de maio de 2015 encenou um evento chamado “Dance Rally 4 Peace” em Paisley Park para homenagear Freddie Gray, um homem negro de 25 anos que morreu sob custódia policial após sua prisão em Baltimore.

Para mostrar apoio aos ativistas que protestavam sua morte, Prince reuniu sua banda reserva 3RDEYEGIRL e deu um show de 41 minutos, incluindo sua música de protesto “Baltimore”, que foi inspirada pela morte de Gray.

Crédito: Kevin Mazur

A música segue mais viva do que nunca

Os últimos anos de vida de Prince não foram muito fáceis. Ao que tudo indica, o cantor tornou-se dependente de analgésicos após passar por uma cirurgia no quadril poucos anos antes. E em 21 de abril de 2016 foi encontrado morto em seu complexo de estúdios Paisley Park, em Minnesota.

Homenagens a um artista único vieram de fãs em todo o mundo, como evidenciado por memoriais improvisados ​​e celebrações a seu trabalho. Especialmente vindo de Minneapolis, cidade onde Prince nasceu e viveu, milhares de pessoas entoaram “Purple Rain” nas ruas na noite de sua despedida.

Sua casa/estúdio Paisley Park abriu oficialmente suas portas como um museu a partir de outubro de 2016, a fim de preservar um legado imensurável. Suas músicas já se encontram disponíveis em todas as plataformas digitais e ainda encantam gerações que não tiveram a oportunidade de vê-lo no ápice.

E sua obra parece uma fonte inesgotável. Em 2021, os fãs serão agraciados com mais um álbum de composições inéditas previsto para 30 de julho. A faixa-título “Welcome 2 America” é um r&b cortante de cinco minutos e meio, com letra opinativa e claramente cética em relação aos rumos da América atual. A canção vai do minimalismo a momentos mais exuberantes, com Prince optando por versos falados em contraponto às backing vocals que amplificam o fator soul.

Prince critica a tecnologia moderna logo no primeiros verso: “Bem-vindo à América / Distraído pelos recursos do iPhone / (Tenho um aplicativo para cada situação)“. No segundo critica os políticos mentirosos, destacando seus caminhos contraditórios. Não para por aí, é claro. Em outros versos questiona a música contemporânea, fala sobre fé, fama e sexo.

Diferentemente de tudo que se ouve nas rádios de hoje, o single lançado em abril pode ser encarado como uma versão atualizada do clássico “Sign ‘O’ the Times”. Sem dúvidas, um trabalho contemporâneo e atemporal que merece ser ouvido diversas vezes e com atenção!

Ele foi. Ele é… Prince!

Crédito: Kevin Mazur

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