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#PridePOPline: Maddax fala sobre preconceito e sobre nova música, “a resposta é continuar sendo cada dia mais viado, sapatão, mais bicha, mais trans…”


A gente segue com as entrevistas da Pride POPline com a Maddax. Nascida no Recife e residente agora em João Pessoa, a drag queen falou conosco sobre suas inspirações, contato com a arte LGBTQ, a dificuldade de conseguir abertura no mercado no Nordeste e preconceito – um tema que será abordado em sua nova música, a sucessora de “Maldita”.

Oi Maddax! A gente está sempre começando as entrevistas da Pride POPline com o básico, apresentando você para um maior público! Como surgiu a Maddax?
Em 2014, 2015, por aí, não recordo agora em que ano entrou no Netflix Brasil, mas foi quando eu tive um contato com a arte drag de uma nova forma, sabe? Novos olhares, digamos assim. Mesmo desde criança tendo contato com drags como Cinderella e Kita Sempre Kita, já que nasci e cresci no Recife, assistir a RuPaul me ajudou ter uma nova visão sobre as drags, ver possibilidades e mil formas de ser uma drag. Além disso eu fui uma criança viada, né? Sempre acompanhei Britney [Spears], Madonna, Beyoncé, [Lady] Gaga e afins, e ter a chance de poder por pra fora a diva que sempre habitou em mim foi algo que me ajudou a acrescentar à vontade de me montar. Acho que tudo isso somado acabou me levando a começar a me montar e hoje estar aqui, sabe?

Quais são as maiores influências da Maddax?
Difícil especificar porque costumo me considerar um caldeirão em ebulição, sou como uma espécie de esponja, gosto de aprender com tudo, tudo pode virar uma referência. Mas gosto bastante de artistas como a Gaga e a Brooke Candy, Azealia Banks, sou apaixonada pela Gaby Amarantos, Banda Uó, Flora Mattos, tem um duo russo que eu adoro chamado Vintazh… Minhas referências são das mais diversas.

Há alguma diferenciação da Maddax para o Narciso para você?
Eu particularmente não vejo como um personagem, acho que a diferença é apenas na quantidade de roupa, talvez uma roupa mais ousada, mas a minha personalidade é a mesma, se estou bem ou mal fica estampado na minha cara, se me frustro com algo, se to feliz, etc fica bem evidente. Algumas pessoas consideram um personagem talvez por vestir roupas consideradas de outro gênero, mas o que é roupa de outro gênero, não é? Afinal até um tempo atrás mulheres não podiam usar calças, era mal visto. Mas é algo meio pessoal, né? Não sei…

Você acha mais difícil começar a difundir a cultura drag no Nordeste e em cidade menores como João Pessoa onde você mora atualmente?
É um pouco complicado, especialmente quando a concepção do que é uma drag é meio distorcida na cidade. Ter Pabllo Vittar, Gloria Groove, Lia Clark e outras hoje em dia mais na boca do meio LGBT da cidade ajuda mais a ser entendido o que é uma drag e o que ela faz, sabe? Mas é difícil até para trabalhos em cidades menores tendo em vista que a demanda é menor até pela população e o número de ambientes para eventos.

Falando em Pabllo, Gloria… A gente sabe que é uma minoria que está conseguindo ampliar esse discurso, mas tem muita gente ainda tentando deu espaço. Você é uma!
Nossa, sim, a coisa que mais vi nos últimos tempos foram artistas FANTÁSTICOS que simplesmente muita gente não conhece! Atualmente estou viciada na Danna Lisboa, uma trans rapper de São Paulo que lançou um EP lindo; tem a Electra Mcklein e Mia Badgyal também de lá; Butantan, Fuega, Frimes e Enme no Maranhão; Potyguara e Kaya [Conky] em Natal (que já entrevistamos aqui), tem Nininha Problemática na Bahia… A gente tem muita gente maravilhosa nesse país! Gente, pesquisem esses nomes e ouçam, por favor! Inclusive Mc Xuxu lançou um álbum inteiramente financiado pelos fãs, vale a pena ouvir.

“Algumas pessoas consideram um personagem talvez por vestir roupas consideradas de outro gênero, mas o que é roupa de outro gênero, não é? Afinal até um tempo atrás mulheres não podiam usar calças, era mal visto.”

Mas vamos falar do seu trabalho: como você chegou até a música como um meio para a divulgação da sua arte drag?
Eu comecei a soltar músicas mais de brincadeira, pegava bases gratuitas na internet na madrugada e no tédio fazia alguma música por cima e jogava na internet logo em seguida. Isso gerou algumas visualizações e comentários e eu pensei “ei, vamos testar isso, né?”. Daí gravei uma música por cima de uma base gratuita, com o celular mesmo, e soltei no Youtube. O que acabou me rendendo algumas apresentações pela cidade, convites para tocar em festa como DJ (que eu já atuava antes) e disso eu pensei “ok, preciso começar a trabalhar em algo com mais cuidado”. E veio “Maldita”, uma versão brazuca da música da Beyoncé “Yoncé”. Com a ajuda da Electra McKlein entrei em contato com um produtor de São Paulo e a música saiu.

Como foi a receptividade?
Me surpreendeu chegar aos 20 mil views, mas o que mais me chocou foi ter a atenção da Valesca Popozuda, um amorzinho, que postou meu clipe no Twitter dela e eu simplesmente fiquei em choque. Acho que a junção de tudo isso foi algo super gratificante.

E isso não faz muito tempo. “Maldita” tem sete meses. Como está sendo esse processo de gravar faixas autorais, compor, entrar em estúdio?
Eu tenho trabalhado em compor novas músicas, testar e pensar em ritmos e melodias, porém isso leva tempo… e dinheiro (risos)! Mas pretendo lançar coisas novas em breve.

A internet tem ajudado a ampliar o acesso à arte e grupos isolados, como a cultura drag que só era acessada por amantes do meio. Como você recebe críticas?
É bem difícil lidar com a crítica às vezes, né? Mas aí também entra a diferença entre a crítica e a agressão, uma coisa é você chegar para uma pessoa e fala “olha isso aqui e isso precisa ser melhorado por isso e isso” outra é simplesmente virar e falar “lixo de merda sua ferrada descarada”, sabe? Tem coisas que é melhorar ignorar, mas de modo geral eu gosto de seguir o ensinamento da Rihanna: nunca um erro, sempre uma lição.

Quais são os planos daqui pra frente? Temos uma sucessora de “Maldita” a caminho?
Inicialmente “Maldita” estaria em um EP do mesmo nome que acabei cancelando e mudando o enfoque da coisa toda. Atualmente estou trabalhando na minha próxima música chamada “Toca”, que fala sobre preconceito e continuar dando a cara a tapa. Quem não recorda de um certo senhor falando na TV que ser LGBT era uma doença e falta de vergonha na cara? Mas a resposta é continuar sendo cada dia mais viado, sapatão, mais bicha, mais trans… A ideia com essa música era misturar o rap com algo que remetesse um pouco ao tecnobrega ou algo próximo, sabe? A ideia é brincar com o som e passar a nossa mensagem.

“Uma coisa é você chegar para uma pessoa e falar ‘isso precisa ser melhorado’, outra é simplesmente falar ‘lixo de merda sua ferrada descarada’.”

A gente está perguntando para todos os entrevistados: para dar uma continuidade nessa corrente positiva de novas drag queens cantoras no Brasil, qual nome ainda não tão conhecido pelo público que você acha que vai se destacar em 2018?
Mia Badgyal, Potyguara Bardo e Butantan são três nomes que eu acredito e torço para ver crescendo. Gente pesquisem e pesquisem sobre elas que vale muito a pena, pelo que sei as três estão cada uma com seu primeiro disco no forno.

Qual é seu conselho para outros meninos que, assim como você, viu em drags uma inspiração?
Não importa se você é menino ou menina, quer se montar, vá em frente, e se é o que você quer, não só para drag isso serve mas pra vida. Siga em frente e não desista do que você acredita, ninguém nasce sabendo andar, imagine dando piruetas?