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Pride POPline: LaMona Divine se joga na música, produz EP e abre nova fase na carreira de drag queen

Ela já apareceu em uma super série da Netflix, esteve em um clipe de uma das artistas mais queridas da “RuPaul’s Drag Race”, posou para grandes fotógrafos, está totalmente mergulhada no mundo da mosa, mas apenas há pouco tempo vem se dedicando à música. A terceira convidada da série de entrevistas da Pride POPline é LaMona Divine!

Com uma música lançada, a drag queen paulista está determinada na produção do seu primeiro EP. Uma música já foi lançada, “Party Girl”, mas ela quer mais! Neste papo, conversamos sobre os desafios, suas inspirações, questão de gênero, planos e, claro, a luta contra o preconceito e espaço.

Foto: Murilo Yamanaka

Oi LaMona! A série da Pride POPline visa a dar visibilidade a vários artistas que não tem espaço na grande mídia então nada mais justo de começar se apresentando para os leitores do portal!
Sou drag queen paulista e faço esse trabalho há quase 5 anos. Minha ideia sempre foi reunir moda, arte e música com o meu trabalho de drag queen, levo para os meus shows coreografias afiadas, com um toque pop e burlesco. Tenho referências que misturam o kistch selvagem de Roger Waters, com a elegância e sensualidade de Thierry Mugler, Jean-Paul Gaultier e Saint Laurent. Eu tive o prazer de ser uma das drag queens convidadas para participar das gravações da série original Netflix “Sense 8”,durante a 20ª edição da Parada LGBTT de São Paulo. Também tive a honra de participar do videoclipe da Alaska Thunderfuck, “Come to Brazil”. Alaska tem uma fama mundial devido a sua participação no famoso reality show RuPaul’s Drag Race, no qual levou a coroa de melhor drag na 2 temporada do All Stars.

Mas como surgiu a LaMona no seu caminho?
A LaMona surgiu no final do ano de 2013. Após eu ter me graduado na faculdade de moda senti um grande vazio criativo no mercado de moda e precisava explorar minha criatividade e toda minha paixão de alguma forma, foi então que depois de assistir e me fascinar com algumas temporadas de “RuPaul’s Drag Race” eu decidi que queria fazer aquilo também. Os figurinos, maquiagem, as performances eram tudo o que eu mais amava fazer. E depois de alguns testes dentro de casa (trancado no banheiro!) comecei a mostrar a LaMona para os amigos e foi me dando a coragem de sair de casa montada e me exibir na baladas.

Ao buscar informações ao seu respeito, achamos interessante que você foi uma das poucas personagens das nossas entrevistas que sinalizou um gênero no Facebook. Foi algo inconsciente ou proposital?
Sim, foi algo proposital porque quando eu criei a LaMona logo eu a identifiquei como uma personagem feminina, que representa uma mulher, porém como drag queen eu acredito que é uma arte além do gênero e percebi que para mim seria mais coerente na época colocar como gênero neutro. Essa questão de gênero no Facebook me incomoda demais porque estou numa batalha de alguns anos para conseguir recuperar meu nome no perfil como LaMona Divine ao invés do nome masculino que consta no RG, porque eu sou conhecido socialmente pelo meu trabalho como LaMona Divine.

Por eu me caracterizar de mulher já tiveram situações de assédio e eu consegui me livrarporque sou um homem vestido de mulher, mas fico imaginando mulheres que passam por isso e não conseguem se defender. E é ai que você percebe aonde o machismo se instala.”

Foto: Divulgação

A gente sabe que por mais a questão de gêneros esteja sendo mais debatido, ainda é tratado como tabu. Para você, o quão difícil é ser reconhecido como profissional?
A barreira da sexualidade ainda é uma das mais difíceis de se quebrar completamente. Ela está sim mais flexível atualmente, porém ainda existe em todas as áreas. Eu felizmente nunca sofri preconceito direto pela arte que eu faço, sempre me respeitaram no meu ambiente de trabalho, mas já ouvi inúmeros relatos de colegas que foram agredidas fisicamente e/ou verbalmente em lugares públicos como baladas e shoppings. Isso me deixa bastante triste porque são artistas e seres humanos apenas querendo mostrar o seu trabalho. Porém, por eu me caracterizar de mulher e muitas vezes de uma forma mais provocativa já tiveram algumas situações de assédio vindo de homens sis heteros e inclusive homossexuais, e eu consegui me livrar das situações porque sou um homem vestido de mulher, mas fico imaginando as mulheres que passam por isso involuntariamente quase todos os dias na sociedade e não conseguem se defender. E é ai que você percebe aonde o machismo se instala. Então não podemos aceitar nada disso, não podemos ficar calados quando presenciamos uma pessoa sendo assediada ou agredida.

Você tem alguns anos de carreira drag, mas não foi há muito tempo que se virou para a música. Como você chegou até a música como um meio para a divulgação da sua arte drag?
Sempre tive uma paixão pelos palcos, de dançar, de fazer show e assistir shows… é algo que corre nas minhas veias. Porém lançar uma música na qual eu estou cantando me parecia algo distante, quase impossível. Mas foi quando eu tive problemas com direitos autorais por divulgar os vídeos dos meus shows (dublando divas pop) que eu me deparei com a seguinte questão: ou você vai enfrentar estes problemas para sempre e não vai ter visibilidade com sua arte ou você vai criar seu próprio material e ralar para divulgá-lo. Bom, a última opção me pareceu mais excitante e foi assim como começou. E esta decisão só me trouxe mais inspiração para o meu trabalho.

Falando em dublagem de divas pop, no seu canal tem um vídeo cantando Lady Gaga. A gente pode dizer que é uma das suas influências?
Com certeza absoluta! Lembro que quando eu comecei eu tinha centenas de imagens da Gaga como referências para criar os looks para a minha personagem e já fiz várias performances com as músicas dela. Ela é um ícone e seu trabalho é muito inspirador para mim.

Que outro artista você gostaria de se vestir para um especial?
Madonna é outra artista que inspira demais o meu trabalho, também já performei diversas músicas dela, assim como a Britney Spears que me introduziu ao universo da dança há muitos anos atrás.

Quem mais está nessa lista de inspirações?
Esta lista é gigante mas vou pontuar as minhas inspirações diretas. Tem a rapper Brooke Candy (que eu tive o prazer de conhecê-la durante seu show recente em SP), a CatWoman interpretada pela Michelle Pfeiffer, a Barbarella (Jane Fonda) é um exemplo de sensualidade e feminilidade para mim, e as personagens Velma Kelly e Roxie Hart ambas do filme musical “Chicago” e por último mas não menos importante temos a icônica drag queen dos anos 80’s: Divine que carinhosamente eu batizei a minha personagem com este sobrenome e porque também eu criei uma história sobre a LaMona ser a filha abandonada da Divine.

Ano passado você lançou “Party Girl”, com produção de Nelson D (que trabalhou com Gloria Groove e Banda Uó). Como está sendo sua experiência fazendo um trabalho de música inédita, primeira vez em estúdio?
Para mim tem sido algo louco, jamais imaginei que eu lançaria uma música e que estaria disponível para todas as pessoas em qualquer lugar a qualquer momento. Por mais que eu tenha lançado “Party Girl” sem pretensão alguma, apenas como uma forma de divulgar meu trabalho, eu me impressionei pelo retorno positivo. Foi melhor do que eu imaginei na verdade e por isso vamos trabalhar melhor a música. “Party Girl” foi como um presente para mim, ter o Nelson D trabalhando nesta música comigo foi uma honra porque eu admiro demais o trabalho dele.

Algumas pessoas que acompanham sua carreira esperavam um clipe para “Party Girl” e você chegou a lançar um lyric-video que praticamente é um clipe (rs). Tem sonhos de fazer um clipe propriamente dito? 
Eu escrevi essa música imaginando o vídeo clipe para ela, então ele PRECISA acontecer rs. Eu e o diretor do clipe estamos correndo atrás de patrocínios para conseguir fazer um trabalho bacana, eu sou muito perfeccionista com o meu trabalho, então o clipe está demorando um pouco para vir, mas quando for lançado será maravilhoso, acredite. O pouco que posso dizer desse vídeo é que a estética é bastante plástica, artificial, exagerado, bastante colorido e com looks babadeiros.

Há mais novidades vindo por aí? Algo que você pode adiantar para este ano?
Sim, muitas novidades, estou trabalhando no meu primeiro EP, que será lançado nos próximos meses e eu estou bastante ansioso para mostrar tudo que estamos criando.

O EP “Venus Digital” está sendo criado com a ajuda dos fãs via financiamento coletivo

Quais são seus planos para o futuro? Pensa nisso ou deixa rolar?
Eu sempre gosto de pensar em um passo de cada vez porque sou uma pessoa bastante ansiosa, então digamos que para o futuro quero fazer bastante shows e divulgar minha arte para todo o Brasil. No últimos dois anos a gente viu uma abertura maior da massa brasileira para a cena LGBTQ com personagens expoentes na música, no teatro, nas artes em geral.

A gente está perguntando para todos os entrevistados: para dar uma continuidade nessa corrente positiva de novas drag queens cantoras no Brasil, qual nome ainda não tão conhecido pelo público que você acha que vai se destacar em 2018?
Eu fico bastante feliz e orgulhoso em ver como nós LGBTQ estamos crescendo e conseguindo mostrar nosso trabalho para grande massa. Ainda não mostramos 100% das coisas maravilhosas que produzimos mas aos poucos estamos abrindo estas portas. 2018 é um ano de muitas possibilidades e acredito que algumas manas vão conseguir um destaque maior neste ano e já começo indicando os trabalhos incríveis da BUTANTAN, minha amada Kaya Conky, a querida Mia Badgyal, e claro a LaMona Divine! (risos)

Qual é seu conselho para outros meninos que, assim como você, viu em drags uma inspiração?
Drag para mim é uma terapia, é um exercício de empoderamento, me tira da zona de conforto e me faz enfrentar o mundo de uma maneira mais corajosa e poderosa. Portanto minha dica para quem está começando é identifique o que você mais gosta no mundo drag e faça o seu trabalho com muito amor e verdade consigo mesmo, dê tempo ao tempo para conseguir chegar numa estética que te satisfaça, nunca parte de treinar e testar, e principalmente nunca se esqueça o motivo pelo qual você começou a fazer drag, isso vai te ajudar a trilhar o seu caminho!

Foto: Leo Fagherazzi

Muito obrigada, LaMona pelo nosso papo! Sucesso!
Muito obrigada POPline!

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