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Pride POPline: Danna Lisboa fala como a arte mudou sua vida e conta os próximos passos

A Pride POPline continua com Danna Lisboa. A artista conversou conosco sobre como a arte salvou sua vida, lhe deu propósito e como o cenário atual, mesmo que ainda não ideal, é um avanço. Leia o papo abaixo:

Como a arte da dança chegou até a você e você resolveu investir? Conta mais!
Foi depois de uma depressão profunda que me tirou toda expectativa de vida por vários problemas pessoais, além de ficar algum tempo longe da minha família por não aceitação e um relacionamento abusivo. Eu cheguei a um estado deplorável da depressão, tive que me afastar da arte dos sonhos e tudo o que eu acreditava. Até que resolvi reagir a isso e comecei participar de um projeto chamado Vocacional que envolvia dança, música e poesia e ali resgatei toda minha auto estima, voltei escrever e a acreditar que eu teria que mudar essa situação. Aí tudo foi se encaixando novamente.

E o rap entrou como na sua vida?
O pap sempre esteve presente desde quando meu irmão que era DJ e trazia referências nos seus vinis. Era criança ainda e já ouvia muita música boa, mas na minha adolescência tive que ir embora de casa, fugi na verdade por não aguentar o preconceito, e acabei me envolvendo com shows em boates de São Paulo. Venci alguns concursos (meu nome era Danna Black, isso em 2000) e em seguida veio minha transição hormonal. Os palcos LGBT contribuíram muito para minha formação como artista e trago isso até hoje. Tudo que aprendi com as drags, as trans e os diretores artísticos de varias casas foi uma verdadeira escola.

“Ideias conservadoras segregadoras não cabem nesse diverso de corpos de experiências de vidas em movimentos.”

E no seu currículo ainda tem dois filmes – um deles “Cidade Neon” e que te rendeu prêmio de “Melhor Atuação” no Festival Film Works. Como foi isso?
Foi primeiro um convite pra participar de um documentário sobre transexuais. Aí em uma conversa com o diretor Tiago Coutinho mostrei a musica “Cidade Neon” que compus em 2004 e a mela acabou dando a ideia para o diretor de virar um curta. Ele concorreu no festival FILMWORKS 2017. Então veio a surpresa de que havia ganho o prêmio de melhor atuação. Além disso, cenas do curta acabaram virando o clipe também.

A gente pode dizer que a primeira associação de seu nome com um público maior foi com o clipe de “Tombei”, da Karol Conka, que você participa dançando? Você lembra como foi o convite e a repercussão que isso teve em seu trabalho?
A dança trouxe muitos amigos e as indicações pra trabalhos até que esse convite veio como um sonho pois a NEGRITA me inspira! Isso abriu outras portas também para outros trabalhos.

No ano seguinte você liberou seu primeiro trabalho, “Trinks”, com um visual bem interessante para uma música de balada. Você escolheu o preto e branco e isso até norteou um pouco a parte visual de divulgação do EP “Ideais”.
O trabalho lindo desse visual começa pelas fotos incríveis de Bruno Fujii, a direção de criação foi de Antônio Adriano e o design por Fernando Molina. A ideia do diretor de criação era deixar a estética mais dramática minimalista e poética.

A gente tem várias influências musicais de estilos diferentes em “ideias”. E como estamos em um site pop, a gente tem que perguntar: quais são as suas inspirações nesse meio?
Queria fazer um trabalho que conversasse com várias pessoas e estilos. Escuto um pouco de tudo, mas minhas maiores inspirações vem do Soul, R&B até mesmo Rock. Na adolescência ouvia muito Nação Zumbi, Planet Hemp, Wu-Tang Clan, mas inspirações de verdade são a Erykah Badu, Sade, Jill Scott, Lalah Hathaway, Karol Conka, Paula Lima, Margareth Menezes, nossa queen Beyoncé… poxa, tem muitas outras coisas boas.

Tem uma frase legal em “Trinks” que expressa bem o motivo dessa série de entrevistas. “Ideias velhas não vão ter plateia”. É importante continuar debatendo sobre o tema e colocando a arte à favor dessa mudança de postura?
Ideias conservadoras segregadoras não cabem nesse diverso de corpos de experiências de vidas em movimentos. Acredito que a arte num todo traz a nossa reflexão atona e nos faz melhor como pessoas, transforma, reforma e informa.

No últimos dois anos a gente viu uma abertura maior da massa brasileira para a cena LGBTQ. Como você encara essa “mudança”, mesmo que ainda estejamos longe de um “ideal”?
Eu fico motivada por estar me envolvendo com a arte e poder ser uma referência para outras mulheres, não só para trans e travestis. Acho que estamos juntas construindo uma nova maneira de falar e de ter a diversidade inserida em todas áreas. Acho que o ideal é criar as possibilidades e assim chegar na naturalização de artistas LGBTQ em todas áreas da arte.

Tudo o que lemos ao seu respeito é de como você é uma importante porta-voz no combate à transfobia. Como você absorve esse “título” e responsabilidade?
Realmente é uma responsabilidade, mas não é só minha é de todos porque não basta não ser transfóbico, tem que combater, eliminar isso do seu cotidiano. Acho que assim como todas as pessoas “consideradas anormais” por uma sociedade como a “nossa” querem ser naturalizadas por todos, então que todos se naturalizem um no outro.

Em fevereiro você lançou “Quebradeira” e reuniu um timão de dançarinos e Gloria Groove. Conta mais sobre essa música para gente e a produção clipe.
Tinha feito a proposta para outros artistas para fazer “feat” nessa música. A Tassia Reis e Linn da Quebrada foram convidadas, mas infelizmente não tinham agenda para gravação. Então fiz o convite para Gloria Groove que tinha agenda. Assim como eu, Gloria também tem o feling do rap nas composições e a parceria ficou perfeita. Os fãs de Gloria já tinham ouvido meu nome citado na sua musica “Gloriosa”. A musica já era sucesso e aí ambos os públicos pediram clipe, foi quando surgiu a proposta feita pelo Los Cabras (composta por Antonio Adriano e Thiago Reis também diretores do clipe “Trinks”). Eles se juntaram com a Trator filmes para dar vida a essa música e que vida virou! Um clipe a nível internacional! A qualidade do trabalho tanto da produção do clipe quanto as pessoas envolvidas orgulhou a todos com o resultado e o público só tem dado feedback bom.

Você foi convidada para um projeto, o Cypher Psicopretas, que tem um discurso que vem sendo cada vez mais repercutido, principalmente nos últimos meses com a morte de Marielle Franco. O de poder, de luta da mulher negra, de periferia. E você está ao lado de outras poderosas mulheres na música. Conta mais gente mais sobre isso!
A luta das mulheres trans tem ganhado força por uma parte feminista. Essas mulheres SISTAH CHILLI, BIA DOXUM, ANARCA, DORY DE OLIVEIRA e CRIS SNJ me trazem orgulho de suas histórias e vivências me inspiram e isso acabou sendo reciproco, então fazer uma musica falando da luta de mulheres negras e eu estando ali mostra que representatividade está na união da lutas, “juntas somos todas mais fortes”. Gravamos essa musica antes da tragédia com Mariele e isso chocou a todas nós pois estávamos colocando em cada rima sobre nossas vivências. Essa musica é a força de muitas Marielles sempre presente em nossas memórias, exemplos de mulheres guerreiras. Marielle vive em nós.

2017 foi um ano de mais trabalho pra você com todos esses lançamentos, 2018 já começou com essa música do Cypher Psicopretas. O que mais podemos esperar para este ano?
Estou ansiosa para compor novos singles para o novo EP. Mas no momento estou em processo de ensaio de uma peça chamada “As Três Uiaras de SP City”. A peça conta um pouco sobre a historia de 3 mulheres, duas travestis sonhadoras que querem viver de arte e uma feminista ativista socialista, isso nos anos 80 época, época que aconteciam operações de caça as travestis nas ruas de São Paulo. Peça da dramaturga Ave Terrena Alves, é dirigida por Diego Moschkovich, projeto do LABTD (Laboratório de Técnica Dramática).

“Acho que o ideal é criar as possibilidades e assim chegar na naturalização de artistas LGBTQ em todas áreas da arte.”

O que você pode detalhar desse segundo EP? Pensando em parcerias? Nomes que estão na produção?
A maior parceria é minha com meu produtor e DJ Nelson D. Ele é responsável por todas as batidas do meu trabalho musical e agora temos mais integrantes. Nosso baixista Samuel Bueno e Fernanda Aimê, trazendo suas musicalidades nas próximas produções musicais. Estou pensando em algumas parcerias… ainda estou bem confusa, pois tem muita gente boa. Vou explorar e arriscar coisas novas, mas sem fugir do que já tenho feito esperem muita dança e nostalgia.

A gente está perguntando para os entrevistados se tem algum nome que você acha que a galera precisa prestar atenção na cultura LGBTQ. Alguma indicação de artista nacional que você gosta muito!
Caramba! Muita gente boa, mas vou citar as manas trans MCDelacroix, Rosa Luz, MCXuxu, Alice Guel, Natt Matt e Zaiiah.

Pra encerrar, uma mensagem pros leitores do POPline!
Só agradeço o carinho de todos amigos e fãs que tem contribuído com meu trabalho. Sejam bem vindos todos em minha trajetória.

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