Presidente da Hipgnosis revela ‘falhas nos relatórios e controles financeiros’

No final de 2023, a história da Hipgnosis teve outra reviravolta. Segundo o Music Week, na sequência do relatório de que os resultados financeiros de seis meses da empresa seriam adiados devido à incerteza sobre a avaliação, esses números foram publicados. 

De acordo com o avaliador independente, Citrin Cooperman, o valor do portfólio da Hipgnosis diminuiu 6,4%, para US$ 2,62 bilhões em 30 de setembro de 2023, em comparação com a avaliação de US$ 2,8 bilhões seis meses antes. 

No entanto, o conselho recomendou que os investidores utilizem os resultados mais recentes, incluindo o NAV operacional, com um “maior grau de cautela e menos certeza do que poderia ser associado a eles, como um reflexo preciso do valor justo dos ativos da empresa”. Os dividendos foram suspensos pelo menos durante o restante do exercício financeiro.

Nos resultados intercalares de seis meses até 30 de setembro, o NAV operacional por ação diminuiu 9,2% para $1,7392, como resultado da redução no valor do portfólio.

A receita bruta de operações contínuas no período foi de US$ 63,2 milhões, em comparação com US$ 86,4 milhões no ano anterior, como aponta o Music Week. A receita líquida de operações contínuas caiu para US$ 54,0 milhões (contra US$ 76,8 milhões no ano anterior), impulsionada principalmente por pagamentos retroativos futuros previstos mais baixos, no valor de US$ 11,9 milhões, provenientes da decisão de royalties do CRB III.

A queda de 9,2% no NAV operacional ocorreu apesar do mercado musical positivo e do crescimento comparável da receita dos ativos da empresa, de acordo com o comunicado. O valor da Hipgnosis Songs Fund diminuiu globalmente, embora tenha havido um impacto positivo de US$ 24,3 milhões, incluindo o resultado de alterações nos preços de assinatura de serviços de streaming.

Os comentários do novo presidente da Hipgnosis Songs Fund, Robert Naylor, chamaram a atenção e intensificaram a pressão sobre a Hipgnosis Song Management, liderada por  Merck Mercuriadis.

Leia Mais:

• Hipgnosis Songs Fund reduz dividendos para investidores após recálculo de royalties de US$ 11,8 milhões
• Receitas de streaming do catálogo da Hipgnosis aumentaram 15%
• Hipgnosis investe no Beatclub, de Timbaland, e concede acesso à amostra de seu catálogo

Após a sua nomeação em novembro, Robert Naylor é encarregado de supervisionar a revisão estratégica após o voto dos acionistas contra a continuação do fundo da empresa, pelo menos no âmbito dos seus planos atuais. Uma proposta de venda de catálogos de músicas à Hipgnosis Songs  no valor de 417,5 milhões de dólares também foi rejeitada.

A Hipgnosis Song Management, detida maioritariamente pela Blackstone, foi convidada a propor termos alternativos para os seus futuros acordos de consultoria de investimento para a empresa. Se o conselho acreditar que isso não atende aos melhores interesses do futuro da empresa e de seus acionistas, explorará a apresentação de propostas alternativas. 

“Estou satisfeito com o progresso alcançado na revisão estratégica em andamento”, disse Robert Naylor, presidente da Hipgnosis Songs Fund.  “O conselho, por meio de seus consultores, iniciou a devida diligência sobre os ativos da empresa com a Shot Tower LLC, especializada em direitos musicais, atuando como conselheiro principal. Este processo ajudará o novo conselho a apresentar propostas para agregar valor aos acionistas.”

No entanto, Naylor expressou preocupações sobre o papel do consultor de investimentos, Hipgnosis Song Management, inclusive chamando a atenção para um erro contratual que poderia custar à empresa até US$ 4,5 milhões.

“Não obstante este progresso, desde que entrei para o conselho tem havido uma ocorrência regular de questões levantadas como resultado de falhas contínuas no processo de relato e controle financeiro”, disse Robert Naylor. “Embora consideremos que foram feitos progressos substanciais na identificação e retificação destas questões, tivemos de suspender os dividendos pelo menos durante o resto do ano, a fim de garantir o cumprimento dos nossos acordos bancários.”

A Hipgnosis “só começará a pagar dividendos aos acionistas quando acreditar que podemos cumprir de forma sustentável os nossos acordos bancários e requisitos de capital de giro”, afirmou o presidente em um comunicado.

Com base nas previsões fornecidas pelo consultor de investimentos, o conselho acredita que a Hipgnosis deverá ter espaço suficiente para operar dentro dos seus acordos bancários durante pelo menos os próximos 12 meses. 

“No entanto, isto é qualificado pela continuação de questões relacionadas com relatórios e controlos financeiros”, acrescentou a declaração do presidente. “Por exemplo, o conselho tomou conhecimento na sexta-feira, 15 de dezembro de 2023, de um erro de redação em um contrato, pelo qual a empresa recebeu notificação do exercício de uma opção de venda contida em um contrato de aquisição, que aumentou o passivo estimado de US$ 4 milhões para US$ 25 milhões. O consultor de investimentos procurou remediar isso no fim de semana seguinte por meio de uma alteração ao contrato e o conselho agora entende que o passivo potencial está na região de US$ 7,5 milhões a US$ 8,5 milhões.”

O conselho também solicitou uma resposta do consultor de investimentos sobre o valor justo dos ativos da empresa.

“Lamentavelmente, o consultor de investimentos inicialmente recusou-se a fornecer uma opinião”, disse o presidente Robert Naylor. “Embora o consultor de investimentos tenha eventualmente fornecido uma opinião ao conselho, ela foi fortemente ressalvada. assunto a ser publicado no site da empresa, a fim de proporcionar transparência aos acionistas, o consultor de investimentos se recusou a consentir sob as cláusulas de confidencialidade do acordo de consultoria de investimento.

A declaração do presidente também refletiu as preocupações dos acionistas sobre questões chaves, incluindo a “falha dos relatórios financeiros e controles do consultor de investimentos”. 

Desde a nomeação do CFO Dan Pounder, em setembro de 2023,  foi observado uma melhoria nos relatórios e divulgações financeiras, embora isto tenha levado a impactos negativos de curto prazo nos relatórios. Isto inclui pagamentos adicionais de bônus de catálogo a compositores totalizando £ 23 milhões, a redução da receita do ano anterior nas receitas esperadas do CRB III e uma alteração proposta na metodologia de acumulação de receitas que pode resultar em um ajuste que reduz a receita anual em até 10%.

Em outra parte da declaração, o presidente observou as preocupações dos acionistas sobre a “percebida má gestão dos conflitos de interesse, tanto na venda recentemente fracassada de ativos para a Hipgnosis Songs Capital, um fundo que é de propriedade majoritária da Blackstone, em um valor material desconto ao valor justo desses ativos, e nos termos do contrato de consultoria de investimento com a Hipgnosis Song Management”. 

Apesar destas preocupações, o Music Week aponta que registou-se algum desempenho positivo nos ativos subjacentes, o que mostra um crescimento comparável nas demonstrações de receitas de cerca de 10%. A receita anual pró-forma (PFAR), que mostra as declarações brutas de royalties recebidas ou a receber dentro do período do relatório e não inclui quaisquer acréscimos de receita sob IFRS, cresceu 10,4%, para US$ 64,9 milhões, nos seis meses encerrados em 30 de setembro.

Ainda segundo o Music Week, em 30 de setembro de 2023, o portfólio era composto por 146 catálogos contendo 65.413 direitos de músicas adquiridos.

O Hipgnosis Songs Group, a empresa operacional dentro do fundo que realiza atividades administrativas e de publicação de linha de frente, relatou, de acordo com o Music Week, uma perda de US$ 63,2 milhões nos seis meses, em comparação com US$ 20,1 milhões no ano anterior.

A Hipgnosis Songs Fund também anunciou a nomeação da KPMG como sua auditora. Anteriormente, a PwC fez a auditoria para a empresa, mas não apresentou proposta para a renovação do contrato.