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Precursora do funk feminino, Deize Tigrona fala sobre Anitta e Ludmilla: “Estão num outro patamar”


Foto: Reprodução/Instagram

Você já parou para pensar que sua artista favorita poderia não existir se outras não fossem corajosas o suficiente para desafiar os homens que davam as cartas na indústria fonográfica? No início dos anos 2000, sem o advento da internet, Deize Tigrona escancarou todos os limites do que deveria ser o funk feito por mulheres. As letras que falavam abertamente sobre sexo eram o prenúncio do empoderamento feminino não só na música, mas como um modo de vida.

É isso mesmo! Sem Tigrona, talvez não existissem Anitta e Ludmilla. Em entrevista ao jornal O Globo nesta sexta-feira (3), a precursora falou sobre as atuais representantes do movimento. “[Elas] são necessárias porque hoje em dia o funk não envolve só a favela, envolve outras coisas. Elas estão num outro patamar, que é o do capital. Hoje em dia os produtores investem no funk, na minha época não existia isso. Eu e a Tati Quebra Barraco fomos totalmente precursoras em insistir nisso. Porque hoje Anitta e Ludmilla podem até cantar pop, mas elas dançam como se fosse funk”, avalia.

E se hoje as nossas funkeiras já estão galgando seu lugar ao sol em outros países, Tigrona já havia experimentado o reconhecimento internacional quando o então emergente produtor norte-americano Diplo sampleou “Injeção” no hit “Bucky Done Gun”, que fez M.I.A. explodir no mundo inteiro e a trouxe para o extinto TIM Festival em 2005. A carioca foi convidada para dar uma canja no show da rapper cingalesa e pasmem: ela simplesmente “engoliu” a atração principal e botou o público pra dançar. Saiu do palco ovacionada e com datas agendadas para uma turnê na Europa.

Após afastar-se dos palcos em 2009 e lutar contra a depressão por um longo período, a ex-empregada doméstica e mãe de três Deize Maria Gonçalves da Silva permitiu que seu alter-ego Deize Tigrona voltasse a rugir e prepara um novo álbum. O primeiro single, “Vagabundo”, saiu em dezembro e mostra que a funkeira ainda está em forma com seus versos livres de quaisquer amarras.

“Quando eu falo de sexo, é sobre o que acontece realmente, sobre o que pode ser bom ou o que pode ser ruim. Sobre as pessoas que incomodam de tal forma que você acha que vai acontecer um estupro, ou sobre aquelas que você vai amar para a vida toda. E quando eu saio de casa para curtir um funk, é para dançar. As pessoas que curtem funk sabem o que estão ouvindo e querem dançar de quatro, como está nas letras dos funks. Para alguns homens, isso é obsceno; para a gente, é arte”, conclui.