Se no ano passado Drica Lara, Talent Manager e Diretora Criativa, entregou para a Cidade do Rock um dos shows mais comentados do Rock in Rio, o de Ludmilla, no palco Sunset, este ano, no The Town, novo festival da Rock World, que aconteceu nos dias 2,3,7,9 e 10 de setembro, no Autódromo de Interlagos, em São Paulo, ela esteve nos bastidores de três.
Na estreia do novo festival, WIU, Matuê e Iza foram os artistas que ganharam a assinatura de Drica Lara nas apresentações no palco Factory, The One e Skyline, respectivamente.
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Para a elaboração de três projetos distintos no mesmo festival, Drica compartilhou com bom humor que nunca teve tantos grupos simultâneos no WhatsApp.
“Na parte do operacional e burocrático, Matuê e WIU estão sob o guarda-chuva do selo 30PRAUM, o que facilitou muito a comunicação e alinhamentos! Iza está na Agência de Música que também foi uma comunicação totalmente fluida e organizada!”
Já no criativo, a construção com cada artista foi diferente. Segundo Drica Lara, com WIU foi tudo dinâmico e rápido, uma vez que ela se conectou com o artista e decifrou as referências do álbum ‘Manual de como amar errado’.
“Já estávamos alinhados nas ideias que ele já havia imaginado para o show, na primeira apresentação do palco e conceito do estudo criativo, é o projeto que estava no palco. WIU tem um hit estourado ‘Coração de Gelo’ então minha ideia era trazer o coração de gelo para o palco e, assim, nasceu o também o conceito ‘WIU em busca da chama de fogo’ uma jornada onde a música acende a chama novamente de seu coração congelado”.
Por sua vez, com Matuê o desafio foi outro. O tema para a apresentação no The Town era ‘Matuê convida o nordeste’. A temática em questão tinha uma imponência que precisava ser estudada e respeitada.
“Trouxemos o próprio Matuê como convidado em uma viagem em suas maiores inspirações e referências, como Dona Nubia Brasileiro, sua avó, uma artista multidisciplinar, agitadora cultural e musicista. Ela ressalta em suas poesias (que foram declamadas pela sua própria voz, após 16 anos de sua morte através de inteligência artificial). E Belchior em sua entrevista icônica para a TV Cultura, onde ele dá uma aula de como o sul inferioriza o nordeste”, explica Drica, a concepção do show.
“O show trouxe o nordeste crítico, ácido e livre de caricaturas planas tão repetidas, todos os signos estavam presentes porém revisitados e desconstruídos para trazer essa distopia nordestina que habita em Matuê. O novo signo do nordeste é Matuê, que traz em suas raízes mais profundas a consciência desses pilares e referências que moldaram sua arte e ecoaram sua voz no show”, completa.
O espetáculo da Iza foi uma experiência imersiva para Drica Lara. Ela estudou o conceito do disco e criou uma estrutura e conteúdo que fizesse jus à odisseia de Afrodhit, desde seu nascimento até sua vivência e consciência mundana.
Direção Criativa e Stage Design
Para os shows de Matuê, no domingo (3), e WIU, no sábado (9), além da Direção Criativa, Drica também assinou o Stage Design. Ela explica que a função consiste em afinar todos os elementos do show, ou seja, estar envolvida em todos os processos da elaboração. Isso inclui: Estudo criativo e desenho do palco (Stage Design), conceito, roteiro do show, arquitetura e projeto técnico junto com o executivo + 3D, além do conteúdo led.
Para os espetáculos que foram acompanhados pelo público nos últimos dois finais de semana, a elaboração e construção dos projetos começaram em maio. Ou seja, segundo Drica Lara, foram cinco meses de trabalho.
“No show do Matuê, a Inteligência Artificial foi usada. Recriamos a voz da avó do artista para acompanhar a jornada do show. Já no da Iza, foi usado um Telão de Led Cristal. Ela foi a única artista que usou essa tecnologia de led com transparência”, revela Drica, sobre as curiosidades na elaboração do espetáculo.
Para o show da Iza, Drica assinou a Direção Geral, que contou com participações especiais. Ela conta que quando assume essa função articula todas as pontas do espetáculo, como estudo criativo e desenho do palco (Stage Design), conceito, roteiro do show, arquitetura, projeto técnico, executivo, 3D, styling, lighdesign, conteúdo led e transmissão ao vivo.
O palco da Iza no The Town
Foi a primeira vez que Drica trabalhou com a Iza. O show do The Town, que aconteceu no domingo (10), marcou o início de uma nova fase da cantora, que acabou de lançar o Afrodhit. É estimado que cerca de 250 profissionais foram envolvidos para a entrega do espetáculo.
De acordo com Lara, havia um conceito que já estava desenhado da história do álbum por ela e seu time criativo, a partir disso, ela estudou e adaptou para o formato de show.
“Iza está vivendo uma fase incrível, acabou de fazer um disco, do jeito que queria, e eu tinha a missão de fazer a entrega a altura desse momento e dessa mulher renascida em forma de Afrodhit”, declara Drica Lara.
No show da Iza no festival, um dos momentos mais marcantes e impactantes foi quando a frase ‘Fogo nos Racistas’ apareceu no telão, enquanto o cantor Djonga estava no palco. Drica revela que esse episódio foi construído em conjunto com a artista.
“Foi meio que juntas, queríamos passar uma mensagem no show, mas não estava ainda claro o que seria. Estávamos na casa da Iza, montando a parte criativa, alinhando o setlist e roteiro, quando ela definiu as participações, aí ficou nítido. Ela disse: ‘Vamos botar fogo no palco e escrever FOGO NOS RACISTAS!’”
No entanto, às vezes, o projeto inicial precisa de reformulações devido ao cronograma dos espetáculos. No caso do show da cantora Iza, a versão vista pelo público foi substituída por uma primeira, como revela Drica.
“O palco da Iza é uma segunda versão, a primeira versão ser aprovada (e era fantástica), já estávamos em processo de reunião com a empresa de estrutura e montagem, quando soubemos que o horário seria diurno, pensei muito se manteria mesmo assim, porque já estava apegada, mas também preocupada que o impacto não seria o mesmo, pois ele foi projetado para a noite, seria como você usar uma blusa lindíssima de lã na praia. Então, passei a madrugada desenhando uma segunda versão para apresentar para a Iza, um palco compatível com a luz do dia, refiz toda a estrutura, e luz, para potencializar uma performance diurna. Foi aprovado na hora e refizemos tudo do zero!”, conta Drica Lara.
Mais palcos abertos para Drica Lara
Com o mercado de espetáculos no Brasil está em um momento de ascensão, tanto em receita, quanto em investimento para grandes shows, Drica analisa que “com a ‘crise’ nas plataformas digitais, acredito que os shows são o melhor investimento e a maior vitrine do artista hoje, o mercado está aquecido porque o retorno é imediato após o show”.
Drica Lara conta ainda que esse ano será exibido o projeto Música Preta Brasileira, em um bloco dentro do Fantástico, programa exibido na TV Globo. O projeto foi idealizado por Mariana Coelho e ela diz que é uma honra estar fazendo parte de algo tão poderoso. No momento, ela ainda está com três projetos em fase inicial de pesquisa para festivais em 2024.