Quem não é fã de Sandy & Junior deve estar surpreso com o alvoroço causado pela reunião da dupla pop, tanto tempo depois da separação. Foi tudo muito rápido: no dia 13 de março, anunciaram que fariam uma turnê de dez shows; no dia 22, quando as vendas foram abertas, já havia fã chorando porque tinha ficado sem entradas. Tudo esgotado em poucas horas. Sandy & Junior não lançaram uma música nova, muito menos um álbum, não fizeram um especial de TV, nem nada para promover essa turnê – porque querem deixar claro para o público que não se trata de uma “volta”, mas de somente uma “celebração”. A ausência de material novo torna tudo mais espantoso. Eles mesmos se demonstram surpresos com a recepção do projeto. Em papo com Luciano Huck no IGTV, Sandy admitiu: “estar junto não está causando estranheza, o que está causando é a comoção que está rolando. Socorro, eu não estou entendendo ainda!”.
Os ingressos para o show de São Paulo, o maior desta turnê, para um público de 45 mil pessoas, esgotaram em 30 minutos. Foi adicionada uma data extra na agenda, que cresceu para 12 shows (segundo o diretor Raoni Carneiro, há ainda mais um show para ser anunciado, chegando a 13). É como se o tempo não tivesse passado. Não se pode ignorar que, no início dos anos 2000, Sandy & Junior eram o maior produto pop nacional, inspirado no que havia de melhor no pop teen internacional. “Quando lançava uma turnê era muito comum não precisar fazer mídia porque a mídia já era de ingressos esgotados, e sem internet naquela época”, lembra Xororó. Em grandes capitais, como Rio de Janeiro e São Paulo, Sandy & Junior chegavam a fazer oito shows seguidos para atender a demanda, divididos em dois finais de semana – como uma “temporada”. Em 2002, no auge, os irmãos fizeram uma turnê por estádios no Brasil: foi quando se tornaram os primeiros artistas nacionais a lotarem o Maracanã sozinhos. Colocaram 70 mil pessoas sentadas no estádio, que na época acomodava mais gente do que hoje em dia, por conta da reforma para a Copa do Mundo de 2014.
Todas essas lembranças pesam para que tanta gente queira assistir aos novos shows. O efeito “nostalgia” já se mostrou poderoso com outros artistas, como Los Hermanos, Xuxa, Rouge, Spice Girls, entre outros. Com Sandy & Junior, é importante ressaltar que são mesmo 12 anos de ausência. Neste período, eles focaram em suas carreiras solo e nunca fizeram nenhuma música ou show juntos. Existe, portanto, um público ávido por vê-los no palco novamente. Quando eles encerraram a dupla, em 2007, também esgotaram ingressos para a turnê de despedida. Não é como se tivessem se separado em baixa. Eles apenas não viam mais para onde poderiam ir como dupla, porque já tinham feito de tudo. Não ter explorado o produto até o bagaço reforça ainda mais as boas lembranças dos fãs: ninguém viu Sandy & Junior decadentes. As memórias só são positivas.
Quando eles se separaram, Sandy tinha 24 anos e Junior 23. O público deles girava em torno desta idade para baixo. Eu mesmo, por exemplo, havia acabado de completar 18 anos e fui a zilhares de shows da turnê “Acústico MTV”. O público adolescente e jovem adulto, em geral em idade escolar e universitária, dependia majoritariamente dos pais. Hoje em dia, essas pessoas têm poder aquisitivo e estão dispostas a pagar mais de R$ 500 em um ingresso ou mais de R$ 1 mil em pacotes especiais para viver experiências únicas na passagem de som e nos bastidores dos shows. É um público que, na época, não tinha acesso às maravilhas de um cartão de crédito. Donos do próprio dinheiro, aceitam investir o valor pedido para viajar no tempo. Muita gente poderá ver Sandy & Junior no palco pela primeira vez, porque não teve acesso a esse tipo de evento quando era criança e dependente da família.
O caráter limitado também colabora para o aumento do interesse por essa turnê. São três meses de shows e acabou. Quem viu viu, quem não viu procure no Youtube. Saber que não haverá outra oportunidade deixa o público com a sensação de urgência: “eu preciso comprar logo”. Eu mesmo me surpreendi com a velocidade que os ingressos foram vendidos (a fila online chegou a 500 mil pessoas em espera), mas a verdade é: quem vai arriscar ficar sem o bilhete premiado? Ninguém quer cogitar a hipótese de ficar de fora. Se são só dez shows, é preciso garantir logo. Ótima estratégia.
Além do mais, o repertório de Sandy & Junior perdurou. O clipe de “A Lenda”, lançado em 2001 pré-Youtube e só disponibilizado na plataforma em 2010, possui 14 milhões de visualizações. O seriado da dupla passa no canal Viva, a novela “Estrela Guia” (protagonizada por Sandy) está para ser reprisada, as músicas estão nos karaokês e o público, que cresceu, já passou sua adoração para os filhos. Quantas crianças já apareceram no “The Voice Kids” cantando Sandy & Junior? A obra sobreviveu ao tempo. Dia desses, os participantes do “Big Brother Brasil” estavam cantando “Olha O Que O Amor Me Faz” no jardim da casa mais vigiada do Brasil. Ou seja, as músicas estão por aí o tempo todo.
Basicamente, em uma semana, entre coletiva de imprensa e início da venda de ingressos, Sandy & Junior provaram que estão mais fortes do que nunca. Serão só 12 (ou 13) shows, mas se quiserem podem marcar o dobro ou o triplo disso sem medo de flop. Essa turnê, intitulada “Nossa História”, comprova que a dupla só não volta à atividade definitivamente porque não quer. Então vamos sim aproveitar esses três meses de shows para sermos felizes. Vem que a nossa história está começando…