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POPline ouviu: Marina Sena soa ousada ao experimentar ritmos globais em “Vício Inerente”

Sucessor do aclamado e premiado álbum “De Primeira” será lançado nesta quinta-feira (27/04)
Foto: Fernando Tomaz

Marina Sena surgiu no palco da Áudio, em São Paulo, com a pose de uma estrela do trap durante a última edição do Baile do Brime, no dia 6 de abril, para se divertir ao lado dos amigos Febem, Fleezus e Cesrv, criadores do ousado projeto, lançado em 2020, que mescla elementos da música britânica (Grime) com o que há de autêntico na música brasileira contemporânea. Foi essa sonoridade que inundou o cotidiano da cantora de Taiobeiras (MG) e inspirou boa parte do seu segundo álbum solo de estúdio, “Vício Inerente“, que será lançado nesta quinta-feira (27), às 21h.

Capa de “Vício Inerente”, o aguardado segundo álbum de Marina Sena (Foto: Fernando Tomaz)

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O POPline ouviu as 12 faixas que compõem o sucessor do aclamado e premiado “De Primeira”. É desnecessário dissertar sobre o quanto o projeto de estreia, lançado em agosto de 2021, mudou a vida da artista. Mas antes de escutar o novo álbum talvez seja importante saber que, desde então, ela enriqueceu, ficou famosa e se mudou para São Paulo com Iuri Rio Branco, produtor musical e namorado dela.

Tendo a caótica e vaidosa capital paulista como o seu principal dispositivo cênico, era impossível que este álbum soasse como o antecessor – e não seria tão interessante também. Com a destreza de quem veio da cena independente, Marina Sena agora também é uma diva pop.

Pelos motivos citados, é preciso adiantar: talvez “Vício Inerente” não agrade os mais apegados ao “De Primeira“. A artista faz questão de quebrar essa expectativa pela brasilidade caricata ou literal logo na primeira faixa – a sua favorita.

Foto: Fernando Tomaz

Dano Sarrada” praticamente brinca com esse anseio ao esconder o beat nos primeiros segundos antes de se revelar um drill — sonoridade sombria e cheia de distorções. Para Marina esse tipo de som inspira modernidade. Com acenos ao R&B, ela usa a batida a seu favor e transpõe o movimento quase palpável de sarrada com as distorções desaceleradas de trip-hop.

Com um refrão grudento, “Olho no Gato” transforma nuances do trap no que há de mais pop. Marina incorpora a sua versão mais sagaz explorando flows e uma forma esquisita, mas não menos encantadora, de colocar a voz em uma ponte igualmente estranha e cativante.

“Tudo Pra Amar Você”, o lead single do projeto, ganha uma nova proporção quando escutada dentro do contexto sonoro. A canção funciona como um momento de transição no disco, equipando a cantora com uma roupagem mais pop, permeada por afrobeats .O jogo de sedução e flerte que transpassa todo o disco fica mais evidente aqui, quase como uma síntese narrativa do projeto.

Em “Tudo Seu”, a mineira domina a brasilidade e traz guitarradas à la Carlos Santana – apenas um dos acenos à musicalidade latina que domina as paradas globais neste momento. Sena caminha para outro lugar pouco explorado no disco anterior em “Mande um Sinal“, onde canta como se estivesse inspirada por seus ídolos Gal Costa e Cassiano em uma atmosfera melancólica de Emílio Santiago. Não seria uma surpresa se essa fosse eleita a favorita dos fãs.

A densidade inicial de “Me Ganhar” permite que Sena siga sua viagem por ritmos urbanos com experimentos latino-americanos contemporâneos sem comprometer a coesão do disco. Com a bem-vinda participação de Fleezus, a artista desenha paisagens exuberantes com a sensação de liberdade e de paixão, amparadas por uma produção rebuscada que chega a mencionar o funk.

Foto: Fernando Tomaz

Nuances vocais exóticas que consagraram a originalidade de Marina voltam ao cerne da canção em “Meu Paraíso Sou Eu“, cujo o desenvolvimento faz falta, embora a mensagem fique clara e ela funcione quase como uma curta oração.

Partiu Capoeira” remonta cenas de um relacionamento cotidiano que está acabando, enquanto a autoestima da intérprete é redesenhada por um excelente pagotrap – mistura de trap com pagodão baiano. A faixa parece predestinada a sonorizar vídeos inspiradores com cenas empolgadas de viagens e momentos alegres de jovens wanderlust no TikTok.

Enquanto o pop brasileiro quase sempre apela para os mesmos recursos ao tentar trazer o indispensável funk dos bailões para o mainstream, Marina foi até Belo Horizonte à procura de elementos que conversassem não apenas com a sua trajetória, mas também com o seu estilo e marca.

Mais de Mil” traz a cadência do funk belo-horizontino, consagrado por Mc Rick, Anjim, Zaquin e WS da Igrejinha, ao estilo “Marina Sena de composição”. Com essa escolha, ela não força a barra ou soa como alguém desabituado ao gênero.

> Do pop ao funk: como a cena mineira dominou a música brasileira em 2021

Sonho Bom” é um relato de flerte sensual sem qualquer tipo de modéstia. Contemplativa e surpreendente, “Pra Ficar Comigo” apresenta uma produção amparada na música eletrônica contemporânea – trazendo experimentações com amapiano, subgênero sul-africano da house music.

Reflexões sobre transições e recomeços transformam a faixa de encerramento do álbum em uma peça para além do campo do relacionamento. Marina descreve um momento de introspecção e autoconhecimento permeado por sons que remontam a liberdade e a solidão do ambiente urbano.

Foto: Fernando Tomaz

Vício Inerente” faz Marina Sena parecer um caso peculiar no pop brasileiro, talvez porque a sua raiz alternativa a segure no lugar da originalidade mesmo em momentos em que ela faz saudações amigáveis ao mainstream.

Sempre respaldada por um estiloso trabalho de produção de Iuri Rio Branco, a cantora continua provocativa – e, provavelmente, só isso bastaria para satisfazer os fãs mais autênticos. O lançamento do segundo álbum de uma artista que fez sucesso “de primeira” poderia soar amedrontador. Porém, o medo não combina com a ousadia deste projeto.

Arriscando em experimentações, usando recursos tecnológicos — mesmo sabendo que isso renderá comentários e narizes torcidos daqueles atraídos por tudo o que é “orgânico”  —, antenada no que há de mais interessante na música global e perdendo amarras em relação à própria voz, Marina Sena mostra, entre (mais) acertos (que) erros, o vasto universo sonial-musical que a compõe.

E isso já soa bem mais interessante do que o restante da prateleira do pop que a colocaram.

Faixas favoritas:

Dano Sarrada“, “Olho no Gato“, “Pra Ficar Comigo“.

Não perca: 

  • Nesta quinta-feira (27), às 21h, nas redes sociais do POPline, serão publicados vídeos com um faixa a faixa com comentários de Marina Sena sobre o álbum.
  • Além disso, o POPline também entrevistou a cantora. O conteúdo será divulgado na íntegra na próxima segunda-feira (1°/05).

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