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POPline ouviu: Jão ateia fogo em inseguranças e se consolida como “SUPER” estrela em novo álbum

Jão. (Foto: Instagram/@jao)

“SUPER”, o novo disco de inéditas do Jão, é a posição mais privilegiada de um pódio, é o ponto de chegada de um menino que veio lá do interior, de Américo Brasiliense/SP, e que, movido por sonhos e ambições nada modestos, conquistou um país inteiro. Depois de se aventurar pela terra, ar e água, o cantor pede licença poética à natureza para se apropriar do último dos elementos: o fogo. O novo compilado revela um Jão mais maduro que, depois de tantos conflitos românticos, finalmente encontrou conforto em si mesmo. Antes de incendiar o coração dos fãs no lançamento desta segunda-feira (14), o POPline ouviu o novo álbum e deixa aqui as primeiras impressões!

Quarto álbum de estúdio de Jão chega às plataformas digitais nesta segunda-feira (14), às 21h. Foto: Divulgação

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Antes de nos debruçarmos sobre cada uma das 14 faixas inéditas, que compõem aquele que é o álbum mais longo do artista, é válido destacar que “SUPER” representa um fechamento de uma narrativa que permeou toda a discografia dele até aqui. Em “LOBOS” (2018), seu disco de estreia, Jão brincou com a terra. Em “ANTI-HERÓI” (2019), ele se aventurou pelo ar. Em “PIRATA” (2021), o artista embarcou pelas águas. E agora, em seu quarto disco, ele se deixa queimar pelo fogo.

O storytelling e o planejamento estratégico que se desenrolam por pelo menos 5 anos fazem de Jão um case único na cena musical nacional, uma vez que não é tão comum vermos artistas se apropriando de uma narrativa de forma continuada e tão longínqua. “SUPER” confirma que, desde o início de sua carreira, Jão definiu que contaria uma história com começo, meio e fim, o fazendo com êxito ao longo de quatro discos. Agora, chegou a hora de o público resistir às chamas e acompanhar o desfecho.

Depois de ‘furar todas as bolhas’, abocanhar o mainstream, lotar casas de show por todo o país, ganhar espaço nos maiores festivais e navegar pelas águas mais improváveis, na apoteótica era “PIRATA”, o novo projeto de Jão chega como a consolidação de uma carreira em ascensão. E, nessa nova etapa, o cantor de 28 anos se prepara para atear fogo nos maiores palcos do país, em uma turnê de estrutura robusta que terá largada no próximo dia 20 de janeiro, no estádio Allianz Parque, em São Paulo, que recebe ainda este ano artistas como The Weeknd, RBD e Taylor Swift.

É indiscutível que essa nova era nos apresenta a um “SUPER” Jão, não apenas em termos de estrutura e dos espaços estratosféricos que, hoje, o artista pode ocupar, mas também no que se refere à grandeza e maturidade do que ele expressa, em sua arte. O novo álbum soa como um bom e velho diário de memórias, no qual o cantor nos aproxima de relações ruins e aquelas que não deram tão errado assim, através de um nível de detalhamento e descrição que exala uma perfeita ambientação e nos permite visualizar todas as cenas.

Nas novas letras, que foram pensadas ao longo dos últimos dois anos, é possível encontrar um Jão que já está anestesiado após tantos corações partidos (dele e dos outros) e desilusões amorosas. É de tanto sentir tudo, que agora ele repete múltiplas vezes que não sente nada. O próprio artista reflete que toda essa ‘casca’ não passa de um mecanismo de defesa de alguém que não quer se sentir mal. Agora, porém, ele conclui que chegou a hora de encarar de frente todos esses sentimentos, e se diz pronto para viver tudo o que vier até ele – o que se evidencia no super elogiado trailer do álbum. “Eu disse tanto que queria incendiar. Finalmente, chegou a hora”, diz Jão.

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Em “Escorpião”, faixa que abre o disco, Jão vai além dos elementos da natureza, e se apropria também do signo do zodíaco (o seu próprio). Ele, que é de Escorpião também com ascendente em Escorpião, surge sem papas na língua e explícito ao mandar recado para um possível ex. O eu lírico denota um certo descontentamento e clima de relacionamento mal resolvido ao cantar “Te quero bem é o caralh*”, uma das passagens da letra que mais prende o ouvinte. A melodia faz uma ode a um dos maiores ídolos de Jão, a quem prestava homenagem nos shows da turnê “PIRATA”: Cazuza. O som, aqui, soa como um rock marcado por ‘arranhos’ de guitarra e sintetizadores.

“Me Lambe”, uma das mais divertidas do álbum, nos introduz a uma ‘historinha’ que veremos outras vezes ao longo da audição: a de um relacionamento que poderia ser chamado de (inteiramente) ruim, não fosse por momentos de intimidade e transas que não saem da memória. Depois de pedir “Me Beija Com Raiva”, um dos maiores sucessos do disco “LOBOS” e queridinha dos fãs, Jão ordena: “Me Lambe” – “Pode me lamber, me enrolar, me apertar”, pede ele. Lamberiam?!

Na sequência, é como se tivéssemos sido transportados para dentro de um fliperama, daqueles joguinhos que não desgrudávamos quando éramos crianças. É a vez de “Gameboy”, que nos envolve em uma atmosfera oitentista, algo que sutilmente poderia ser comparado à skin de Dua Lipa na era “Future Nostalgia”. O uso exagerado de auto-tune em algumas passagens reforça o efeito robótico que a música pretende alcançar. Na letra um ‘Gameboy’, Jão mostra que confia no próprio taco e que pode se adaptar a qualquer cenário, na tentativa de arrematar o coração de alguém. “Me diz qual o seu tipo, eu sei me transformar”, canta ele.

Em “Alinhamento Milenar”, o cantor reflete sobre um amor raro, que não se encontra em qualquer esquina, e com o qual estabelece uma conexão intensa. Aqui, Jão volta a trazer uma palavra que usa e abusa em letras do disco “ANTI-HERÓI”, em canções como “Essa Eu Fiz Pro Nosso Amor” e “A Última Noite”: língua. Quem ouviu essas aos montes vai sacar quando chegar à essa altura do disco. Os fãs, inclusive, ficaram “órfãos” do prometido videoclipe do sucesso “Meninos e Meninas”, extraído do álbum anterior, porém, há uma referência direta a ela aqui. Será que foi uma forma de se redimir pela ausência do clipe?!

Jão expõe toda a sua “Lábia” na quinta faixa do compilado, que, tal qual “Gameboy”, é bastante voltada a uma sonoridade oitentista. Uma das faixas mais sensuais do disco, nela o cantor nos leva a um momento íntimo e intenso com um amor que é meio desajeitado, despretensioso. Tudo o que ele quer é se entregar ao calor do momento (literalmente), sem grandes preocupações com o futuro da relação. Ele bate o martelo, na letra: “E se tudo der errado, a gente já deu certo”. Quem vai dizer que não?!

Uma das canções mais sensíveis de “SUPER”, em “Maria” o cantor está lendo uma carta de um amor que precisou partir. Ao tom de voz e violão, Jão parece estar falando de si próprio, em sua jornada de deixar para trás o interior rumo à cidade grande, aonde enxergava como sendo o palco da realização de seus mais ambiciosos sonhos. O último verso, cantado em inglês, poderia confirmar tal interpretação: “Maybe I wanna be a star” (“Talvez eu queira ser uma estrela”), diz ele. É bom que os fãs decorem a letra dessa de uma vez, pois logo na primeira audição já dá para imaginar que essa é aquela música que se canta a plenos pulmões nos shows. E em estádios vai ficar ainda mais emocionante…

Mas afinal, “o que o amor vira quando chega o fim”? Jão finalmente resgata e responde o emblemático questionamento de “Acontece”, faixa do disco “PIRATA” – só ouvindo para saber! Na faixa 7, o artista reflete sobre o que significa (ou o que significou) o mês 7 do ano para ele. Na baladinha “Julho”, o cantor soa melancólico e nostálgico ao trazer à tona um amor dos tempos de escola. Na letra, ele não parece muito conformado com o fato de que a história ficou para trás, e que nunca mais irá viver um mês de julho como o que cita na música.

Disco está dividido em Lado A e Lado B, cada qual com 7 músicas. A assessoria do artista diz que o Lado A representa a vida de Jão no interior, antes de se mudar para São Paulo, e o Lado B reflete a chegada do cantor à cidade grande e a realização de seus sonhos. Fotos: Reprodução – Instagram/@jao

Se no álbum “LOBOS”, Jão cantava “Eu Quero Ser Como você”, em “SUPER” a coisa muda um pouco de configuração e ele já se assegura de que “Eu Posso Ser Como Você”. Na música, que é introduzida com roupagem R&B até desaguar num rock mais pesado, o cantor parece estar buscando liberdade em um relacionamento que, aparentemente, foi marcado por traições (inclusive da parte dele). “Fui leal de um ponto ao outro, eu só queria viver um pouco”, canta ele, em uma passagem. Não seria de se estranhar se o artista escolhesse a oitava faixa do álbum como um futuro single. Já é possível vislumbrar um videoclipe ardente que traz um Jão indomável caminhando pelo fogo.

Em “Sinais”, o cantor está ardendo de desejo e fazendo de tudo para se perder. Aqui, parece que ele concretiza tudo o que profetizou em “Olhos Vermelhos”, faixa de encerramento do disco “PIRATA”, quando dizia “Eu quero me perder, incendiar”. Na letra, o cantor traz expressões que brincam com o mítico e o espaço, nos guiando a uma possível interpretação de que os sinais a que se refere são fruto do sobrenatural. Essa é uma outra música digna de videoclipe, dessa vez nos apresentando a um Jão que luta contra o próprio desejo e sendo perseguido por discos voadores até culminar em uma abdução.

Na décima faixa do disco, Jão quer saber: “Se o problema era você, por que doeu em mim?”. Aqui, o cantor lida com uma série de questionamentos a respeito de um amor que se foi. Embora a letra imprima um certo pesar de um amor que o machucou, a melodia quebra o clima denso ao soar chiclete. Talvez faça sentido dizer que a canção faz lembrar “Idiota”, um dos maiores hits do artista até então, mas é uma interpretação que não deve ser unânime.

“Locadora” e “Rádio” são outras faixas que bebem da sensação de nostalgia, sobretudo no que diz respeito às letras. Ambas contêm passagens em inglês – a segunda, inclusive, é introduzida com uma voz à lá John Travolta que remonta aos clássicos do cinema antigo. As músicas de números 11 e 12 poderiam, facilmente, ganhar um audiovisual em continuidade, talvez até em plano-sequência – uma ambientação na Los Angeles dos anos 60 e um Jão bad boy vivendo os sabores e dissabores de um flerte despretensioso.

Jão está perto de todos os perigos noturnos em “São Paulo, 2015” e, aqui, ao contrário do que ele canta no disco “LOBOS”, parece que “A Rua” não vai o proteger. De narrativa cosmopolita e que parece revelar as noites traiçoeiras da cidade grande, o eu lírico revela uma fuga de si mesmo e a busca por algo que o possa preencher.

A faixa-título é o ponto final de “SUPER”. A melodia com elementos da música country nos leva a pensar que “SUPER”, a música, é a versão animada da capa do álbum, que traz o cantor no campo. A faixa se apresenta em tom de narração, de conversa com o ouvinte, tal qual Jão já está acostumado a fazer nas faixas de encerramento de todos os seus outros álbuns. Na letra, é como se o artista condensasse em 4 minutos e 28 segundos toda a mensagem que ele transmitiu e todo o conceito do projeto. Ele fala sobre não se sentir mal, e sim não sentir nada, e sobre renascimento até desembocar em uma frase que compila e amarra a sua proposta de explorar cada um dos quatro elementos da natureza nesses quatro álbuns, dando espaço a outras narrativas e histórias em discos que virão pela frente.

Faixas favoritas

“Gameboy”, “Eu Posso Ser Como Você” e “Sinais”.

Ouça agora!

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