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POPline ouviu: O que vem “Depois do Fim”? Lagum explora novos caminhos narrativos em 4º álbum

Banda mineira ressignifica seu estilo ao apostar em diferentes sonoridades em projeto ambicioso

(Foto: Weber Padua)

O POPline recebeu um convite para escutar o novo álbum do Lagum dias antes de seu lançamento, proporcionando assim uma experiência sublime para a jornalista (e fã) que vos fala. Rodeado de mistérios sobre seu nome e data, “Depois do Fim” (Sony Music) traduz a nova fase da banda, explorando métricas e sonoridades diferentes do que estamos acostumados. O quarto disco de estúdio de Pedro, Zani, Chicão e Jorge chega no primeiro minuto desta sexta-feira (14) em todas as plataformas digitais, mas por aqui você já tem um spoiler sobre as novas faixas.

(Foto: Instagram @lagum)

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“Depois do Fim” não é para os apaixonados. Ponto. E seu nome também não foi escolhido por acaso. Segundo o guitarrista Zani, “o álbum é um mergulho de introspecção” e representa a jornada de um eu lírico que acaba de passar por um fechamento de ciclo. O ponto de partida é um término de relacionamento e, ao longo de 14 canções, a banda ressignifica a dor, a raiva, os anseios e descobertas que envolvem esse processo.

Sem parcerias, “Depois do Fim” firma identidade do Lagum

Pela primeira vez, o Lagum deu espaço a uma “Intro” para abrir o álbum e fez alusão ao conceito escolhido de uma forma bem simbólica. Você começa escutando alguém mexendo em um fogão, em seguida o barulho do fogo toma forma e fica mais e mais alto até parar bruscamente, sendo substituído pelos vocais do próprio Zani. Ele canta: “O mundo reiniciou / E diz que é para melhorar / Aonde eu estou para onde eu vou / O acaso vai me guiar”.

A ideia, que também está representada na capa do álbum, é relacionar o fogo à transformação e como “Depois do Fim” tem sempre um recomeço, a segunda faixa dá o recado. Pedro assume o microfone e entrega uma balada que começa acústica, mas que vai crescendo com batidas rápidas em meio a uma letra que mescla pesar e resiliência. O refrão até dá vontade de dançar, mesmo sem um sorriso no rosto.

“Vê se vai, sem voltar / Não olha para trás que eu estou seguindo em frente / Tem gente que começa só depois do fim”.

Em seguida vem “De Amor Eu Não Morri”, que começa com um som arrastado, cheio de contrastes antes pouco usados, junto de um rap. A letra corre dizendo “Depois de me cansar de errar / Eu decidi não ser mais de ninguém” e ao final um detalhe curioso chamou a atenção. Não se trata de sample ou algo do tipo, mas os acordes por volta do minuto 02:20 lembram “Como Tudo Deve Ser”, sucesso do Charlie Brown Jr.

O single “Olha Bela”, lançado em fevereiro, traz um reggae gostoso e até já ganhou clipe. O estilo, vale dizer, não foi muito explorado no novo álbum e até se perde um pouco em meio a camadas de piano, cordas, metais e texturas. Ainda assim, tem seu potencial e mostra que o Lagum segue olhando com carinho para sua identidade já existente apesar das novas apostas.

“Esse álbum tem um poder muito grande de fazer a pessoa se sentir pertencente ao Lagum que já existiu e transportar ela junto com a gente para um Lagum que é um novidade para todos nós”, diz o baixista Chicão.

Pedro segue o caminho de ‘superação’ com Zani, Chicão e Jorge em “Nem Vi Que O Tempo Voou”, sendo sincero — até demais — ao expressar o ponto de vista do desapego: “Olha no meu olho e fala que eu sou seu / Olho no seu olho e repito que eu não sou de ninguém”. Depois, se arrisca em três línguas diferentes com “Outro Alguém”.

A virada de chave chega com “Habite-se”, dando liga a todas as músicas do álbum como um mantra. Ela inicia calma com um piano, mas expande na medida em que o refrão se aproxima misturando-se com batidas eletrônicas pesadas. A canção ainda leva um trecho adaptado do livro “Quando me amei de verdade”, de Kim e Alison McMillen, e arrisco dizer que tem tudo para ser uma das mais contagiantes nos shows.

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“Frágil”, a faixa oito, é curta e soa muito mais como um diálogo — tanto que termina com uma gravação de voz feminina na caixa postal. São muitas rimas e entre elas tem um aviso: “No pior dos cenários eu vou escrever muito / E no melhor dos cenários ela vai chorar muito quando me ouvir / E se não chorar também, tô nem ai”. Mas será que não está mesmo?

“Esse álbum visual admite coisas feias. É a sombra da personalidade que não tem como ignorar, mas que passa pela cabeça de todo mundo. A cabeça do ser humano não é só flores. O álbum tem muita luz e sombra: descobrir coisas boas, superar, mas ao mesmo tempo olhar pra dentro, encontrar-se e admitir que você teve pensamentos ruins“, explicou Pedro.

O final da música abre a próxima, “Mudou Nada”, que diz: “Eu ainda te amo mas eu sinto muita raiva”. A canção é corrida, só tem 49 segundos, com versos repetidos e ritmo eletrônico. Nela também é possível escutar com mais destaque o som de bateria, detalhe que marcou a produção do álbum.

“Foi a primeira vez que a gente se viu em um processo tão grande sem a presença de um baterista”, explicou o guitarrista Jorge. O grupo não tem um baterista fixo desde a morte precoce de Tio Wilson, em 2020. O que talvez possa ter contribuído para um maior destaque de outros instrumentos em detrimento do peso das baquetas.

Além de “Ponto de Vista”, lançada em 16 de março com o EP “FIM”, as últimas faixas de “Depois do Fim” finalizam com calmaria, seguindo a jornada do eu lírico que, após tantas versões de si (“Sobre Mim”), assume sentir saudade (“Ou Não”), mas também entende o processo de finitude do momento (“Mantra Do Bom Término”) e o abraça.

Músicas favoritas“Depois do Fim”, “De Amor Eu Não Morri” e “Habite-se”.

Agradecimentos Sony Music e Melina Tavares Comunicação.