São os prédios da Cohab 1 de Itapevi, na zona oeste de São Paulo, que aparecem na capa do álbum brasileiro com a melhor estreia da história do Spotify Brasil. “Dos Prédios Deluxe“, o disco disponibilizado por Veigh no dia 19 de maio, também fez a melhor estreia de um projeto em nível global na plataforma, desbancando nomes internacionais.
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Embora o trapper de 22 anos tenha ganhado destaque nos grandes noticiários de música nos últimos meses, o corre dele começou em meados de 2016, quando, ao lado de Heitor, produziu as suas primeiras faixas e formou o duo Constelação. Os moradores dos prédios da Cohab foram os primeiros ouvintes de Veigh, que acaba de superar um recorde de Anitta no Spotify Brasil.
“Dos Prédios Deluxe” – projeto com canções inéditas e uma espécie de continuação da edição original, lançada em novembro do ano passado – recebeu mais de 6,5 milhões de streams em seu primeiro dia na plataforma, superando os 6,05 milhões de plays do disco “Versions of Me“, lançado pela veterana do pop no ano passado com foco no mercado internacional.
Em 2019, Veigh lançou a sua primeira música fora do duo. O sucesso “Indispensável” foi produzido por Nagalli, de quem, hoje, ele é sócio na gravadora Supernova Ent. Desde então, muitos fatores contribuíram para o excelente momento vivido pelo trapper paulistano, agregador de 7 milhões de ouvintes mensais no Spotify.
Com influências que marcaram a música global dos anos 2000, o artista esbanja carisma, não nega atenção à sua sólida base fãs e tem uma assinatura divertida, trazendo samples inusitados, versos despretensiosos e elementos do soul. Além disso, apresenta ao público vertentes não convencionais no trap brasileiro, como o Jersey Club.
Aproveitando a ascensão do gênero que ajudou a construir, Veigh viu os cachês de seus shows praticamente dobrar após o sucesso do novo projeto e tem planos de produzir colaborações internacionais, levando o maquinário do trap brasileiro para novas dimensões.
Ao longo de um bate-papo com o POPline, na última quarta-feira (31), a voz de “Novo Balanço” repetiu diversas vezes a palavra “rapaziada”, apenas um dos sinais do enorme senso comunitário que o artista carrega consigo. Veigh parece entender que ninguém cresce sozinho e está disposto a fazer ainda mais pelos seus. Ainda assim, agora é o momento dele.
Confira, abaixo, uma entrevista com Veigh:
POPline: Acho que uma pergunta óbvia, mas que eu preciso fazer: Você estava esperando essa repercussão toda em relação a edição deluxe do álbum “Dos Prédios”, a ponto de quebrar um recorde da Anitta?
Veigh: Certo. Ah, eu não esperava. Esperava coisas grandes, mas, realmente, foi algo muito novo que aconteceu, que eu ainda estou tentando acreditar que é realidade, tá ligado? Porque é um marco histórico o que ocorreu, o álbum com a maior estreia que teve. Eu ainda estou tentando entender o que é de verdade e o que não. A minha mente continua um pouco anestesiada.
POPline: Você lançou a versão original do álbum em novembro e agora uma versão deluxe com músicas inéditas. Não que a primeira não tenha sido um sucesso, mas porque você acredita que essa nova edição fez tanto barulho? Foi a estratégia?
Além da estratégia, eu acho que foi consequência da primeira edição do álbum. O “Dos Prédios” foi um álbum que realmente me colocou aonde eu estou hoje, me mostrou para o público. Foi ali que eu conquistei mais fãs, que eu conquistei mais lugares, que eu consegui ter mesmo o reconhecimento da rapaziada do mainstream. Conforme eu consegui essa base de fãs bem forte através do meu álbum, eu acho que o próximo passo era só mostrar para eles do que eu realmente era capaz de fazer e apresentar algo novo. Então, eu já estava com uma base de fãs formada quando eu apresentei outro trabalho. Foi tudo que eles precisavam para me consumir mais e para me abraçar de outra forma. [A primeira versão] foi numa estreia, o outro álbum a gente lançou e a rapaziada foi conhecendo de pouco em pouco, foi entendendo o que era, do que se tratava, quem eu era e que tipo de música eu fazia. Então, foi algo que foi se criando, foi crescendo de pouco em pouco e, quando se firmou, toda essa rapaziada entendeu o movimento que eu estava fazendo. Foi quando a gente lançou esse essa versão deluxe. Já estava concentrado toda essa base de fãs ali, toda essa rapaziada que estava procurando me conhecer e, com essa concentração, quando a gente lançou o projeto, só direcionou todos eles e por isso eu acho que teve essa essa explosão maior aí.
POPline: Porque você acredita que o seu som encantou essa rapaziada? Qual o seu diferencial em relação a outros trappers e artistas do mercado?
Bom, eu acho que o meu som conversa bem com a rapaziada de vários públicos que eu tenho. tanto a rapaziada de quebrada, da favela, quanto a rapazeada de uma classe mais alta para tocar numa festa, então eu acho que eu acabo conversando com esses dois tipos de público, assim, que é bem interessante porque todo mundo tem que ouvir uma mensagem, seja ela qual for. Eu acho que a mensagem ela tem que ir pra todo mundo, tá ligado? E eu acho também que o meu diferencial é a minha base de fãs. Ela é muito forte, eu acho que eu conquistei uma base de fãs bem consistente, que realmente procura saber as coisas sobre mim. Elas movimentam de uma forma muito incrível a minha carreira também, então eu acho que eles só espera um alguma coisa para eu fazer para eles estarem noticiando, para eles estarem compartilhando, comentando. Fora isso, esteticamente, também na parte da música, eu gosto bastante do estilo de flow que eu faço, são flows bem diferentes. Gosto também da minha versatilidade nas músicas, em várias vertentes do trap que têm no meu álbum. O trap tem várias vertentes dentro dele – o plug, jersey, drill – e em vários desses eu acabo me encaixando bem. Acho que a rapaziada acaba entendendo legal o que eu consigo fazer e vendo que realmente eu sou uma pessoa que gosta de música, que estuda sobre antes de fazer. E quem sabe mesmo, quem gosta mesmo de estudar sobre isso, acaba identificando que eu não estou fazendo por fazer, eu realmente parei, estudei, entendi como é feito, ouvi bastante e fiz, tá ligado? Então, eu acho que a rapaziada gosta bastante disso, porque quando você começa a fazer por fazer, você vira só uma pessoa que está fazendo de tudo para alcançar algum lugar.
POPline: E você citou as vertentes do trap com as quais você se relaciona bem, e na primeira edição do álbum tem um Jersey, chamado “Jeito Bandida”, com o Kyan. Acho que você foi um dos primeiros grandes nomes a mandar um desses em um disco. Se você tivesse que explicar para o público do POPline, que é um pessoal acostumado com música pop, o que é um Jersey, como você explicaria?
Explicaria como uma vertente que ela tem uma mistura do trap com a música eletrônica. É uma parada que ela é bem forte, parece que você está mais rico quando ela começa a tocar no show. Então, para o público mais leigo sobre o assunto sobre o Jersey, é bem isso mesmo, um trap com eletrônico, umas batidas bem malucas mesmo, que você começa a sentir, a vibrar junto ali, porque não tem como ficar parado com essa, mano. É o grave que você começa a sentir como se fosse a pulsação do coração, tá ligado? É uma parada bem bizarra e bem legal da rapaziada conhecer. Eu acho que tem captado muito o público do eletrônico e o público do funk mandelão também porque remete muito a isso – a batida forte, a movimentação quando toca, assim como eletrônica, assim como o mandela, que quando toca você sente a vibe. Para a rapaziada que quer entender mais o que é, é mais ou menos isso ai. Agora, para quem quiser ouvir de verdade, é só ouvir “Jeito Bandida”, que é o pique.
POPline: Falando ainda sobre as suas influências e tudo mais, eu sinto uma influência muito da Black music dos anos 2000, tem uma coisa bem de soul na sua música também. De maneira geral, eu estou correto? Quais são assim suas principais referências musicais?
Certo, mano, eu gosto muito do hip hop anos 2000. Eu acho que é uma parada bem forte assim na minha característica vocal também, que acaba sendo mais da parte melódica ali. Eu sempre tento trazer elementos que eu ouvia quando eu era mais novo para a música atual que eu faço. E eu gosto bastante, uma referência atual minha, é o Pharrell Williams, um artista muito grande pra mim, que trabalha sempre essa estética de música antiga com elementos de instrumento da música que ele faz – ele também é produtor e entende bastante disso. Akon também, que tem essa voz mais melódica, os caras do R&B das antigas, como Usher…Muitos manos que eu gostava bastante eu procuro trazer para as músicas atuais. Já fiz bastante músicas com sample também – que é você retirar um trecho do instrumental de uma música antiga e adicionar outra batida outro ritmo nela e, quando tocar, a pessoa já vai lembrar “pô, é aquela música lá”. Então, eu acho muito legal fazer esse movimento. E eu acho que a rapaziada acaba se identificando bastante também comigo por conta disso e, quando ela ouve, um ritmo que ela já ouviu em algum lugar, ela já acaba gostando de forma mais automática, tá ligado? Porque ela já gostava daquela música aí vê um mano fazendo…É um segredo para você captar o público também. Quando começa a tocar a música [com elementos da música] que você gostava lá atrás, você já automaticamente já gosta um pouco dela. E aí, se você faz um trabalho bem feito em cima disso, você acaba captando com mais facilidade o público. Eu gosto bastante de trabalhar isso tanto pela minha referência e tanto para que as pessoas gostem mesmo e vejam algo novo. Por mais que seja uma parada antiga, os samples, misturar ele com beats atuais, com coisas atuais, é bem novo na cena e a rapaziada tem feito bastante no coisa assim no trap e tá sendo bem legal. O público tá gostando bastante.
Essa semana eu vi um vídeo seu muito emocionado cantando “Mil Maneiras” em um show. O que se passou pela sua cabeça naquele momento e te deixou emocionado?
Certo, que legal. Pô, mano. É tipo assim, foi um festival que teve em Salvador, o Festival Hit, e foi uma parada muito incrível porque eu também fui surpreendido com a minha família lá. Era o sonho da minha mãe conhecer a Bahia. E aí, tipo, eu tentei levar ela só que não estava dando nada certo e aí, de repente, quando eu subi no palco começou a tocar a faixa, estavam minha mãe e meu sobrinho, minha irmã, tá ligado? Tinha mais [gente] do que eu imaginava. Então, fiquei bem emocionado nessa música, que eu falo sobre eles especificamente. Uma música que eu achei que nem ia estourar nada, que a rapaziada nem ia entender muito sobre ela, porque é uma música bem pessoal, minha mesmo e acabou que, quando a gente lançou a primeira parte do “Dos Prédios”, os fãs se identificaram bastante com ela e até hoje se identificam. Então, tipo, ver a rapaziada cantando, ver minha família lá, ver geral na chuva lá por mim foi uma parada bem emocionante. Eu comecei a tentar entender, realmente, o que que estava acontecendo. E pelo momento também que eu estou vivendo. Deu uma uma falha na Matrix ali de ‘Caramba, mano. É isso mesmo que tá acontecendo pá’, sabe? Eu comecei a entender quando eu vi a rapaziada toda ali, eu comecei a entender um pouco mais do quão grande eu estou me tornando, sabe?
Veigh se emociona ao cantar ‘Mil Maneiras’ no Festival Hit Salvador. pic.twitter.com/Dw4lnxLt1l
— Thiago Veigh Brasil (@thiagoveighbr) May 27, 2023
POPline: Você está no corre há muito tempo, fazendo músicas desde 2015, mas a sua ascensão aconteceu de forma muito rápida nos últimos meses. Você está tendo tempo para absorver isso? Como é lidar com o crescimento do assédio tanto dos fãs quanto da mídia?
Muito legal, mano, é muito da hora mesmo. Só que é muito rápido, né? Eu sempre estou preparado para várias coisas, mas tem coisa que ainda é muito bizarro, que eu ainda não consigo entender se realmente está acontecendo, se é sonho, se não é. É uma parada muito maluca mesmo de querer entender ao mesmo tempo não conseguir, você acaba levando até como algo normal, porque parece sonho, parece mentira você conquistar tantos números, tanta coisa, você postar uma coisa e aquilo ser tão impactante para tanta gente, direcionar para tantas pessoas. Tudo o que eu for fazer agora, eu sei que vai gerar conteúdo, vai impactar muita gente. É um pouco assustador também, sabe? É muito maluco, mas é tudo o que eu pedi para Deus desde o início. Então, isso é algo que eu sei lidar, estou aprendendo de pouquinho em pouquinho, mas já estava me preparando antes. Desde que eu comecei a fazer eu já me preparava para quando isso acontecesse, então eu levo de boa.
Em relação a minha pessoa, eu não mudei, continuo a mesma pessoa, até porque as vezes parece que tudo isso nem é real, então não consigo ter uma mente transformada ao ponto de “ah, não, agora eu tô aqui, eu só quero isso ou só quero ser tratado assim” ou “essa pessoa não me alcança mais, não mais falar com tal coisa”. Como parece que eu continuo no mesmo lugar, foram só os números que cresceram, eu acabo tendo a mesma mente de antes ainda, não tenho muita percepção das coisas, mas quando eu paro para ver e percebo que o bagulho está realmente acontecendo, dou uma sufocada, “mano, pode pá, sou famoso, né? As pessoas me conhecem mesmo. Eu saio na rua não dá para ficar saindo sozinho toda hora pá”. Dá uma brisa, dá uma balanceada na mente, mas é de felicidade, tá ligado? Graças a Deus estamos chegando aonde a gente queria, onde eu pedi pra ele há muito tempo atrás. É bem legal.
POPline: Desde então teve algum convite ou alguma situação que você pensou “estou chique agora”?
Tem alguns eventos que às vezes não dá para ir por conta do cansaço de shows e essas coisas. Em alguns lugares, eu iria muito, seria muito legal de ir mas não dá porque você voltou de uma situação cansativa, de um corre maluco que você estava. E aí você fala “Hoje não. Eu vou ficar de boa, vou descansar aqui mesmo. Vou ficar em casa”, mas, se fosse um tempo atrás, eu iria com certeza. Então, tem algumas coisas que a gente acaba se privando por conta disso. Mas nada muito que eu fale “ah, não cansei disso aqui, não quero que aconteça mais”. Levo tudo numa boa, foto com fã, trombar a rapaziada que fica muito em cima, a mídia fica muito em cima, levo numa boa essas paradas. Só fico meio assim quando eu estou atrasado, que eu tenho que falar “pô, rapaziada, não vou conseguir”. É um bagulho que eu vou embora pensando “mano, podia ter tirado foto com a rapaziada”, mas ao mesmo tempo, se eu paro lá, eu ia perder o voo. Aí eu fico “pô, mano, eles vão ficar meio tristes comigo e tal”. Então, eu sempre tento estar ali. “Pô, rapaziada foi mal, mano, tô indo lá por conta de tal coisa”. Sempre fico me explicando, tenho uma mania de ficar me explicando. Eu sei que eu devo me explicar para os meus fãs, mas, às vezes, é necessário eles entenderem também que as coisas não são tão [simples] assim sabe. Eu ainda tenho essa mania de tentar responder todo mundo, de tentar dar uma atenção para todo mundo, só que é difícil, tá ligado? E, às vezes, eu acabo me cobrando muito por isso, mas eu estou trabalhando isso também porque eu preciso entender que eles precisam entender que as vezes não dá pra ser que a gente quer. Por mim, eu ficava lá horas e horas trocando ideia com geral, tirando foto com geral, mas, realmente os dias tem sido complicado em relação a correria.
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POPline: Você publicou um tuíte sobre a ascensão do trap no Brasil reagindo a uma notícia de que o gênero superou o sertanejo e está entre as músicas mais ouvidas. Você disse se lembrar de quando o trap era motivo de piada. Ao que você atribui o crescimento do trap no Brasil?
Mano, eu acho que a rapaziada que começou a fazer trap são pessoas muito inteligentes. Eu acho que o trap já surgiu aqui no Brasil sendo feito por pessoas inteligentes. Ele já chegou aqui bem forte, com a rapaziada que trabalhava muito em cima do marketing, tanto marketing negativo ou positivo, de qualquer forma, subia a música da pessoa. Então, muita rapaziada trap, molecada de 13, 12 anos, já se gravava, tinha o computador, tinha estúdio em casa. Eles já estavam mexendo muito no computador, produzindo beat, se gravando, tacando marcha nessa parte aí. Então, quando o trap começou a se popularizar aqui, muita gente criticava, muita gente zoava, mas ainda assim quem estava fazendo eram pessoas muito inteligentes. A gente mesmo subia a nossa própria música nas mídias digitais, coisa que outros artistas não faziam – isso era papel do empresário ou das gravadoras. Por exemplo, no sertanejo, quem faz sertanejo, eu tenho para mim que nunca subiu a própria música assim não. Tenho para mim que pô [os sertanejos] iam numa gravadora e faziam bagulho. Isso [estou falando] da rapaziada que começava a fazer e já estourava, pá. Eu não conheço, não sei se tem, mas eu não conheço pessoas que faziam sertanejo, se gravavam em casa, subiam as próprias músicas e foram fazendo dessa forma até que deu certo. Agora, no trap, os moleques desde novos, já estavam fazendo, já se produziam, subiam a música. Eu acho que a ascensão do trap veio de pessoas bem inteligentes que eram curiosos para saber como fazer acontecer. Como não tinham gravadoras de trap, não tinha produtoras de trap – essas coisas estão aparecendo agora. Tinham gravadoras de funk, gravadoras de sertanejo, [mas], gravadoras de trap não existiam. Quem tinha que fazer as coisas, eram nós mesmos. Não tinha como a gente se afiliar à alguma coisa e a pessoa fazer pela gente. Todo mundo era curioso e se virava até conseguir.
Com isso, a inteligência era tanta a ponto de você pensar em adicionar algo novo numa música, porque se você tem um estúdio na sua casa, você tem uma liberdade maior, você consegue adicionar uma coisa que às vezes você não testaria no estúdio convencional, porque tem um monte de gente em volta ou tem outra pessoa ali ou não é você que está se gravando, então acaba tendo vergonha. Agora, na sua casa, você faz o que você quiser. Então, a rapaziada já testava coisas novas, coisas que as pessoas não viam em outras músicas. Já era um diferencial. Isso também engloba um videoclipe. A rapaziada – com a criatividade toda que estava tendo, com as coisas que consumiam – pensava “vamos colocar isso aqui no clipe, que é diferente e pá”. Foram fases e fases, pequenas etapas assim foram juntando e se criando coisas diferentes, coisas grandes e que chamavam a atenção do público.
Então, hoje, a ascensão do trap, eu acredito que é muito pela inteligência e a curiosidade que a rapaziada tinha lá no passado, de fazer as paradas acontecerem colocando detalhes nisso, tá ligado? Isso vai fazendo com que o seu trampo seja diferente e cada um tem um diferencial hoje em dia. Tipo, a música de trap, por mais que o beat seja uma linhagem, cada um tem seu jeito, cada um tem um detalhezinho que só ele faz, cada um tem uma frase que só ele fala no começo da música.
Outra coisa também que eu acho um diferencial são os instrumentais, os beats. A rapaziada tem computadores um monte de elementos que dá para colocar no beat. Você consegue adicionar qualquer coisa em um beat. Para fazer um sertanejo, em contrapartida, você precisa de violão piano e uma guitarra ou algo assim, não se diversifica tanto. E muitos músicos têm esse preconceito com a rapaziada que produz pelo computador, não produz com instrumento. Eles ficam malucos que a rapaziada coloca o instrumento que eles quiserem através do computador, através do aplicativo e toca. Às vezes [o beatmaker] não tem anos de estudo de música, mas tem a inteligência e a curiosidade de aprender a fazer e faz. E isso se torna diferente, mano. E eu acho que diferente atrai o público. Eu acho que o trap está acima de outras vertentes da música hoje por conta disso, a rapaziada sempre foi muito inteligente e curiosa e acabou atraindo o público que estava cansado de ouvir mais do mesmo.
POPline: E agora vocês têm várias gravadoras…
Hoje já temos um monte de gravadora só do segmento do trap (30PRAUM, Nadamal, SuperNova, Bairro13…). Antes não tinha mesmo, era cada um por si, fazendo o seu e vamos ver no que dá. Hoje é bizarro ver esse crescimento. Tá ligado? Eu estava falando ali [no Twitter], a rapaziada realmente criticava muito mesmo, dizia que era zoado. Hoje, é um gênero maior que o sertanejo que dominava tudo há muito tempo. É muito louco. A consegue identificar mais um gênero quebrando barreiras assim como foi o funk. O funk é representa muito junto com o trap, é o ritmo da rua, da periferia. Ver mais um gênero desse mesmo nicho em alta é muito importante para todos, para música e para o pessoal de comunidade, que sempre busca crescer também.
POPline: Você é sócio da Super Nova? Como funciona?
Sim, nós somos todos sócios aqui na nossa gravadora. E hoje a gente tem essa linhagem de criação em conjunto. Todos nós crescemos juntos desde o início. Eu desenhei a logo da empresa, então nós fizemos todo esse movimento de crescimento juntos e foi muito da hora. Desde de não ter nada mesmo, de ter o estúdio só. E, agora, ver a nossa gravadora também sendo algo notável em questão de listas de gravadoras com mais ouvintes mensais, gravadoras com tais posições pá, é muito da hora porque fica eu e minha gravadora. Ver esse processo é uma vitória dobrada para mim.
POPline: Você pretende lançar mais algum videoclipe da parte deluxe do álbum?
Sim, pretendo lançar mais alguns mais um vídeo agora que vai sair logo menos. Estou esperando confirmar para ver se a gente vai querer soltar de outra de outra faixa também, mas, de início, acho que a gente vai soltar só de uma dessas faixas e ver que a rapaziada vai esperar aí, mas tá bem legal. A gente já gravou já tá no processo de edição. Vai ser bem da hora quando sair essa também, estou bem ansioso.
POPline: Você convidou a cantora norte-americana Kaash Paige para “Vida Chique”, uma das faixas do álbum. Você tem a pretensão de fazer mais alguma parceria internacional no futuro?
Pô, tenho muito, mano. Gostaria muito de fazer alguns feats internacionais mesmo, de fazer essa movimentação. Eu acho muito legal vincular essas paradas. Eu acho que nossa música tem grande potencial de sair para fora do país. O meu álbum ficou em primeiro lugar global, então eu acho que não é difícil a gente chegar em grandes artistas lá fora, sabe? Acho que a gente precisa ir abrindo caminhos e esse foi um dos caminhos que eu tomei. A Kaash Paige tem parcerias com Travis Scott e Don Tolliver, tem grandes números lá fora e a gente bateu, se eu não me, engano 50 milhões [de plays] na faixa junto com ela. É um bagulho bem bizarro porque uma faixa com gringo, às vezes, é difícil de bater tudo isso e essa foi uma das faixas que mais bateu no “Dos Prédios”. Eu acho muito interessante que a gente tente novamente fazer com outras pessoas de lá de fora, porque esse vínculo é muito interessante e abre portas. A rapaziada, às vezes, não tem noção dos números que a gente consegue bater aqui e, quando eles veem, ficam de cara. “Não acredito que vocês estão fazendo tudo isso”. E aí, acaba que eles querem vir, querem se aproximar mais e é muito da hora. Na real, às vezes, a gente faz coisas que batem bem mais do que lá fora. Os fãs daqui são bem mais calorosos do que os de lá de for. Eles tem artista que nem estão ligando muito para Instagram, para internet, essas coisas, só fazem a música mesmo no puro. E aqui os artistas têm que dar maior atenção nas redes sociais. porque, se eles só fazem a música a música por si só, não fala sobre ele. Então, a gente acaba atraindo o público para bem mais próximo do artista, deixando o público bem mais amigo do artista, conhecendo bem mais sobre ele. Isso faz com que, quando sai uma música, os fãs publicam em todo canto. Acho que, na realidade, os fãs daqui são bem mais malucos, bem mais da hora do que a rapaziada lá de fora. E, quando a rapaziada de fora souber que aqui o pessoal é desse jeito, já era, os olhos vão estar voltados todos para nós aqui.
POPline: E aqui no Brasil, tem alguma colaboração que você queria muito fazer?
Pô, mano, gostaria muito de fazer uma música com Seu Jorge. Acho que seria bem da hora e bem diferente. Gostaria muito mesmo. Acho que seria uma parada bem legal de fazer acontecer, seria um marco muito grande, seria uma parada muito foda.
POPline: E com alguém do pop, você acha que rolaria?
Totalmente, mano, gostaria muito. Ludmilla, Anitta são duas minas que eu acho mil grau mesmo, também que seria muito quente de fazer uma faixa junto. São duas meninas responsa mesmo. Eu acompanho mesmo a trajetória dessas meninas e ver o quão grande elas conseguiram se tornar, onde elas conseguiram alcançar. A Ludmilla participando do filme ‘Velozes e Furiosos’, a Anitta também fazendo vários trabalhos lá fora. Bizarro, tá ligado? Eu gostaria muito de fazer uma faixa com elas, assim, seria algo inédito e bem da hora para o trap também.
POPline: E elas curtem bastante trap…
Curtem muito. Elas já têm umas faixas com alguns artistas próximos, amigos meus, e que já foi bem legal de ver eles fazendo. Se eu conseguir alcançar esse nível aí, vai ser bem da hora.
POPline: Você recentemente falou sobre o seu cachê, que aumentou após o sucesso do álbum, mas disse que não estava falando a respeito para se gabar ou algo do tipo, mas porque era um reconhecimento do seu trabalho. Pode falar sobre isso e dizer que tipo de mudança os seus fãs podem esperar nos shows a partir de agora?
Certo, eu quero trazer mais performance para os shows. A gente já pegou alguns cenários para shows em festivais e investiu bastante em relação a isso. Nos shows que a gente ainda tá para cumprir, estamos adicionando as músicas novas, do álbum Deluxe, então já tá bem mais legal também. A gente quer adicionar algum instrumento também, testamos bastante o violino em alguns shows passados e ficou bem legal. Então, tipo, eu acho que a rapaziada pode esperar a vibe lá em cima, shows com mais tempo também. A gente quer dar um espetáculo bem legal e eu estou ansioso mesmo para começar a botar em prática tudo isso.
Quero entender o que o público tá achando. Se não tiverem gostando, a gente vai estruturar mais. Eu acredito que a rapaziada vai gostar bastante. Eles falam bastante do show, gostam bem mesmo. Falam que eu sou bem expressivo e eu acho bem da hora também. Pessoal, às vezes, fica falando “pô, tá com o olho estirado, usou droga, não sei o que”, mas não. Nem uso droga, não bebo, não faço nada, mano. O que eu faço quando eu subo no palco é realmente ativar a performance, fazer de coração mesmo e, por isso, que eu me movo, me contorço, coloco o mic para cima, desço, faço toda graça que eu preciso fazer porque eu quero entregar mesmo show. Porque eu vou ficar parado e cantando? Às vezes, tem pessoa que eu acho quer é isso, porque não pode ver uma performance que já fica “pô, tá com o olho assim, abrindo a boca demais”. É uma parada bem bizarra, mas eu entrego o show para quem é realmente e fã e quer ver um espetáculo, não para quem quer ver eu cantando parado. Eu dou tudo de mim mesmo, faço de coração porque é algo que eu sempre quis fazer, sempre quis estar ali. Sou outra pessoa, viro totalmente o Veigh e taco marcha.