#Noticias

POPline entrevista Marina Sena: “Não consigo fazer música ruim, é mais forte que eu”

Foto: Fernando Tomaz

“Eu estou vivendo um filme”, disse Marina Sena ao recapitular os seus últimos dois anos em uma entrevista na sede da gravadora Sony Music, na Avenida Paulista — o maior centro financeiro do país. Mesmo em uma tarde de quarta-feira agitada, com dezenas de entrevistas agendadas ao longo do dia, a cantora esbanjou simpatia e prontidão durante os 30 minutos que passou com a reportagem do POPline, conversando sobre o seu segundo álbum solo, “Vício Inerente“, lançado na última quinta-feira (27).

O novo projeto sucede o aclamado e premiado “De Primeira“, divulgado em agosto de 2021 e responsável pela fama mainstream de Marina.

Foto: Fernando Tomaz

LEIA MAIS: 

Usando cropped, saia e botas escuras — uma montação digna de qualquer boate underground do centro de São Paulo — a cantora, natural de Taiobeiras, Minas Gerais, respondeu todas as perguntas com bom humor e desprendimento, em alguns momentos exalando autoestima e confiança, em outros em dúvida se havia superado a pressão de parte dos fãs de música pop, que implicaram com a sua voz e jeito de cantar, quando o single “Por Supuesto” apresentou ela a todo o país. “Eu não sei se eu me livrei dessa pressão, será? Eu acho que sim, mas talvez não, né? Daqui a pouco você vê que você está pressionado ainda. A vida, gente, é uma caixinha de surpresas”, declarou.

Foto: Divulgação

Um ano antes do lançamento de “Vício Inerente“, Marina apareceu na TV Globo, em entrevista para o apresentador Pedro Bial, lamentando os comentários de ódio que recebeu pelo o que acreditava ser a sua maior preciosidade, o seu canto. Na ocasião, ela chegou a dizer que mudaria sua forma de cantar para evitar reclamações. “Estava fazendo um drama, gente. Só pra galera que falou se sentir culpada, entendeu? Era pra isso”, disse a artista, que investiu em aulas de canto e sessões de fonoaudiologia desde o sucesso comercial do primeiro disco.

“Eu nunca tinha estudado, nunca tinha feito uma aula de canto, nunca tinha feito uma fonoaudiólogo, nunca tinha feito nada, era tudo completamente espontâneo. Agora, eu sinto que minha voz mudou também por conta de uma profissional, eu sinto que eu estou cantando muito mais”.

As experimentações vocais de Marina são perceptíveis em “Vício Inerente” e ela sabe disso. “Não, o pessoal que tá ouvindo o álbum agora está chorando sangue“, brinca. Em seu novo álbum, ela provoca ainda mais o fórum das redes sociais incrementando recursos tecnológicos, distorções e até mesmo o tão criticado efeito de voz auto-tune — em evidência no lead-single “Tudo Pra Amar Você“, que dividiu opiniões.

“Eu acho que a galera gostou bastante, ela [“Tudo Pra Amar Você”] acabou de bater três milhões de plays. Eu fiquei bem feliz com isso. Eu acho que teve uma galera que não compreendeu por conta do uso do auto-tune ali e tal, mas eu não estou nem aí, gente…Mas tudo bem, tipo, é isso. Tem coisas que eu vou fazer, que as pessoas vão gostar e tem coisas que eu vou fazer que outras pessoas não vão gostar e cada um com seus problemas (risos)”.

Foto: Instagram/@amarinasena

Marina explicou que a faixa escolhida para apresentar a nova era, de certa forma, preparou as pessoas para o álbum por estar em “um lugar de experimentação“, característica que permeia quase todo o projeto. “Para mim, a música é isso, só vale a pena fazer música se eu tiver experimentando a cada momento uma sonoridade nova, pirando mesmo, pirando no som, pirando na poesia, pirando em metáforas, pirando nessa coisa toda, né?”, disse a mineira.

Eu acho que quanto mais eu puder usar dos artifícios da tecnologia, dos instrumentos e de vibe, eu sempre vou usar porque eu acho que é isso que é fazer música, é você ousar sempre. É melhor errar e ousar do que ficar fazendo tudo certinho sem ousar nunca. Pra mim, na minha carreira, isso isso funciona bastante. Eu gosto de ousar, eu gosto de me tirar da zona de conforto o tempo inteiro.

Talvez a única semelhança entre o “De Primeira” e “Vício Inerente” seja a sinergia da intérprete e compositora com o produtor Iuri Rio Branco, que assina os dois discos com Marina e é seu namorado. Ela acredita que o fato dele ser o único produtor dos dois discos faz com que o trabalho soe mais coeso. “Segue um um movimento tímbrico, tem uma textura, né? Porque ele [Iuri] tem a textura dele como produtor e ela toda está envolvendo o disco”, explicou.

“Iuri é bem direto quando ele fala das coisas, sabe? E ele sempre fala isso de que ‘ou você é ou você quer ser’. Quando você tenta ser, pode ser que as coisas pareçam que não são naturais. Agora, quando você age como quem é, tipo, ‘eu estou fazendo o que é natural pra mim’, acho que fica coeso. Tipo, não tem como fugir de mim se, onde eu ia, estava naquela coisa. Não tem como fugir de mim se eu estou sendo muito sincera com o que eu quero fazer, tipo, é isso que eu tô com vontade de fazer. E eu acho que o fato também de eu compor as minhas próprias músicas ajuda bastante a manter a coesão, porque eu sempre trago pra minha linguagem, eu tenho um jeito específico de compor. Então, todas as músicas você vê que, mesmo uma sendo diferente da outra, é Marina Sena que compôs aquilo, porque é um muito específico de compor uma assinatura”.

Por essa ideia, reforçada por Iuri à Marina, que ela soa tão natural mesmo em ritmos não habituais ao seu público, como o drill “Dano Sarrada“, que abre o disco e é a faixa favorita da cantora. A composição talvez seja uma consequência de quem Marina se tornou desde se mudou para São Paulo e passou a conviver intensamente com Febem, CESRV e Fleezus. Em 2020, o trio do hip hop paulistano lançou o projeto “Brime!“, que mescla elementos da música urbana britânica (Grime) com a brasileira.

“Desde que eu mudei pra São Paulo, eu acho que as pessoas com quem eu mais me relaciono são Cesinha, Febem e Fleezus. Toda vez que eu saio pra ir num show eu vou no show do Febem”, revelou Marina, que mantém uma relação de proximidade com o Hip-hop desde o início de sua carreira. Durante a conversa, ela falou com empolgação do último “Baile do Brime” que havia ido em São Paulo, no dia 6 de abril. “Experiência surreal, surreal”, definiu. “Eu acho que tinha que ter um por mês aqui só pra gente se sentir feliz, sabe?“.

“Eu me relaciono muito com eles porque eu acho que eles sintetizam São Paulo de uma forma muito linda. Eu gosto muito do jeito que eles representam uma juventude trabalhadora de São Paulo, que sai de casa cedo, pega o metrô e tá tocando o que no fone? Tá tocando BRIME! no fone. Sou muito fã deles, me relacionei muito com o som deles. Acho que tem um ano que é a coisa que eu mais escuto é Fleezus e o BRIME!”.

Fleezus, inclusive, aparece na faixa “Que Tal” de “Vício Inerente” e é a única colaboração do álbum. “É isso que eu escuto 24 horas no meu dia. Então, acabou que isso entrou muito em mim”, explicou a artista. “Artista vai absorvendo coisas e aí, sem ver, ele vai colocando isso no seu próprio trabalho. Quando você vê você a única coisa que você consegue fazer é isso”, continuou.

O drill entrou através deles na minha percepção de música e eu sou apaixonada. Eu acho que é a coisa mais moderna que existe hoje em termos de sonoridade no mundo, não é nem no Brasil, é no mundo. Pra mim, o drill é tipo o ápice da modernidade.

Em outro momento, Sena traz o funk de Belo Horizonte para o disco em “Mais de Mil“, segundo ela, uma das canções mais trabalhosas do projeto. “Mudou o arranjo várias vezes, ela era uma coisa, depois virou outra“, revelou. Essas canções são apenas alguns exemplos de como o segundo álbum de Marina a transporta para novos lugares na música brasileira, com acenos ao reggeaton, house music, trap e pagodão baiano.

“Eu acho que no ‘De Primeira’ eu ainda estava com um pouco de medo da tecnologia, de distorcer a voz, de brincar mais com a tecnologia mesmo. Não é que eu tinha medo, mas, assim, eu fui devagar, fui aos poucos, entendeu? No ‘De primeira’ eu ainda estava mais orgânica. Mas, agora, eu já banco isso. Agora, eu banco um auto-tune, uma voz distorcida que a pessoa não vai entender o que eu vou falar. É isso gente, vocês estão escutando música inglês, estão sabendo o que esse povo está falando? Sabe de nada. Aí quando não entende o que a gente fala na música vem reclamar. Não! É assim mesmo. Vai lá no Letras.com, dá uma busca na letra e aprende a cantar”

São Paulo, cidade profana

A cidade assume um papel fundamental em “Vício Inerente“. Marina se mudou de Minas Gerais para a capital paulista para trabalhar, assim como seus amigos e boa parte da população que reside em São Paulo. Sobre a relação da metrópole com a sonoridade e a mensagem de “Vício Inerente“, ela diz: “Eu acho que eu mostro essa fome, eu mostro essa sede de vencer [no disco], sabe?”.

“Eu mostro esse vício com esse game que eu estou vivendo. Eu estou vivendo um filme: fiquei famosa, ganhei dinheiro, aquela coisa toda. Eu acho que vem essa vaidade também, porque rola uma vaidade, rolam vários sentimentos (…) Eu acho que há uma coisa meio profana também. Esse disco tem essa coisa da vaidade, de trabalhar e não querer descansar, de querer ganhar dinheiro, de ficar viciada em seduzir também. Enfim, todo tipo de vício”.

Pressão em relação ao segundo álbum

Semanas antes do lançamento de “Vício Inerente“, Marina Sena precisou tranquilizar alguns fãs e desmentir alguns seguidores que duvidavam da qualidade de seu segundo álbum. Durante o bate-papo com o POPline, ela explicou como se sentiu em relação a essa reação de fatia do público.

“Sabe qual é o meu sentimento? Meu sentimento é de ‘mas esse povo está falando vai pagar tanta língua, mas vai pagar tanta língua, meu Deus do céu’. Eu queria ser um mosquitinho na casa de cada só pra eu ver essa pessoa pagando a língua. É porque eu acabei de acabei de aparecer. Lancei meu primeiro disco, vou lançar o meu segundo disco agora, mas vocês vão acostumar comigo, gente. Eu sou compositora mesmo, entendeu? É cantorona mesmo, entendeu? É cabulosona mesmo. Todo disco vai ser bom, não tem jeito. Não consigo fazer música ruim é mais forte que eu”, declarou.

De certa forma, ela estava certa. O disco agradou boa parte dos fãs e estreou com dez faixas no Top 200 do Spotify Brasil, com mais de 2,2 milhões de plays.

POPline ouviu: Marina Sena soa ousada ao experimentar ritmos globais em “Vício Inerente”

Foto: Fernando Tomaz

Fama e dinheiro

Marina admite que sente saudade da simplicidade da vida antes do sucesso, quando não tinha que se produzir sempre que fosse sair de casa. Ela contou que, agora, famosa, tudo é um acontecimento. “Tudo você tem que estar arrumada, maquiada, não sei o que…”, disse a artista. Questionada sobre os seus aprendizados em relação a fama, ela precisou refletir por um tempo até a equipe soprar uma boa resposta: “ela aprendeu a gastar dinheiro‘”.

“Uma coisa é você ter o dinheiro, outra coisa é você saber com que gastar. Eu tinha que chegar para as pessoas que já eram ricas já e falar assim ‘ou como é que é que gasta dinheiro? Com o que é que rico gasta dinheiro?’. Porque eu queria o quê? Queria comer um PF no centro. Doze reais. Aí, o rico fala assim, ‘não, tem que ir no restaurante ali, comer uma comida italiana’. Foi então que eu entendi. Ia pedir uma coisa a noite, eu queria pedir um açaí e um sanduíche. Eu achava que era só isso que se pedia. Depois, não, tem comida árabe, tem peruano. Fui aprendendo como é que gasta dinheiro”.

Diversão e coragem

“Eu acho que eu só consigo fazer música se eu me divertir mesmo. Se eu estiver gostando do que eu estou fazendo. Se eu não estiver gostando, não vai pra frente e o negócio trava ali. Nesse disco eu me diverti bastante, eu eu fui bem bem corajosa eu acho e eu gostei de me sentir corajosa pra explorar sonoridades, gostei dessa sensação. Eu acho que no “De Primeira” eu ainda estava um pouco na zona de conforto da voz e violão, ali que eu sempre compus um violão, né? (…) Pra mim, era simples, pra mim aquilo ali era normal. Agora, eu eu me tirei da zona de conforto e eu gostei de saber que eu sou corajosa e consigo me colocar fora da minha zona de conforto porque isso me me faz ser feliz como artista. Tipo, eu eu sou minha fã, sabe? É esse tipo de artista que eu sou, o que eu gosto. Artista que ousa, artista que explora sonoridades e e tem coragem até de errar. Sabe? Tem coragem, principalmente, de errar. E e eu sou essa artista. Então, realmente, é bem divertido ser assim”.

Foto: Fernando Tomaz

‘Olho no Gato’ e ‘Mande Um Sinal’

Marina divulgou o videoclipe de “Olho No Gato” neste domingo (30), em entrevista ao ‘Fantástico’, na TV Globo. Ao POPline, ela disse acreditar que a música é muito completa a ponto das pessoas experimentarem diversos sentimentos enquanto escutam. “Dá bastante pano pra manga“, disse. Além da faixa, “Mande um Sinal” também deve ganhar um videoclipe em breve.

“Ela é super lentinha, mas, quando vocês verem o clipe que a gente vai fazer, vocês vão falar ‘não, para’. Tipo assim, nada a ver, uma coisa com a outra. A música super lentinha e o clipe…tipo, outra coisa. Porque eu gosto disso também, de gerar um pouco de desconforto que logo após gera um grande amor e um vício inerente”. 

 

 

 

 

 

Destaques

#Noticias

Enquanto aguardava o resultado da categoria que concorria com “Mil Veces”, Anitta subiu ao palco do Latin GRAMMY 2024 para uma performance especial. Além de...

New Music Fridays

E cá estamos em mais uma sexta-feira! O dia da semana já é conhecido por reunir novidades de diversos artistas para as suas carreiras....

#Noticias

Enquanto passava pelo tapete vermelho do Latin GRAMMY, a vencedora Ana Castela conversou com o POPline e revelou um novo projeto para 2025. A...

Copyright © 2006-2024 POPline Produções Artísticas & Comunicações LTDA.

Sair da versão mobile