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Pitty: ‘Admirável Chip Novo’ completa 18 anos se firmando um disco atemporal

Pitty. Foto: Divulgação

Um dos discos mais importantes da carreira de Pitty e também da história do rock nacional atingiu a maior idade. É isso mesmo! O aclamado “Admirável Chip Novo” completou 18 anos, na últimas sexta-feira (7/05), desde seu lançamento, provando que envelheceu muito bem. Obrigado!

Foi através desse menino rebelde que a cantora baiana foi alçada aos olhos do público e inserida aí mainstream com os hits “Máscara”, “Admirável Chip Novo”, “Equalize”, “Teto de Vidro” e “Semana Que Vem” – que, diga-se de passagem, dominaram as rádios e toda a programação da MTV Brasil. Um disco repleto de sucessos, que chegou a ter cinco singles trabalhados com clipe. Nada mal para o debut de estreia de uma cantora, até então, desconhecida.

Lançado mais precisamente no dia 7 de maio de 2003, o título faz referência ao romance do autor inglês Aldous Huxley que se debruça pelos desafios tecnológicos de “Admirável Mundo Novo”. O livro é ambientado no ano de 2540 e retrata uma sociedade manipulada pela pela high-tech. Trilha que estamos seguindo muito bem tendo em vista uma geração dominada por smartphones e redes.

Por entre os versos do disco, Pitty, no auge de Deus 26 anos, convidava o público a uma imersão entre verbos. O paradoxo entre ter e ser é constante na poesia, ao mesmo tempo que guitarras rasgadas, bateria potente e uma energia adolescente permeia a energia do projeto produzido por Rafael Ramos. O discurso democratizou o rock verde e amarelo. A cantora conseguiu agradar a massa roqueira e a juventude que se identificava com o som.

Os shows pelas lonas culturais, Circo Voador, Concha Acústica e Áudio, por exemplo, reunia todo tipo de gente. Com o disco, Pitty se apresentou em festivais como Vibe Zone e em premiações tipo VMB ao lado de nomes da cena como CPM 22, Detonautas, Capital Inicial, Raimundos, Charlie Brown Jr e Dead Fish.

Pitty. Foto: Divulgação

Mulher baiana no “rock pesado”

O que esse movimento todo simbolizava? Era evidente que a cena do rock era guiada por homens. O diferencial do álbum estava na voz da cantora, acompanhando as bases instrumentais, em sua maioria, influenciadas pelo hardcore. No geral, as vozes femininas tocadas nas rádios brasileiras daquela época eram de vertentes da música pop, no máximo pop-rock. O que colou Pitty como uma espécie de sucesso de Rita Lee no gênero. A ruiva, inclusive, chamava a baiana de filha.

Na contramão, surge Pitty na MTV Brasil como o primeiro single, “Máscara”. Um clipe ainda experimental, energético e com a menagem que ecoou e continua viva na mente de quem tem 20 e tantos anos +: o importante é ser você. Choque cultural no mundo homogêneo das redes sociais.

“Acho que foi o rock que me descobriu. Chega uma certa idade em que você começa a se identificar, a descobrir o que você gosta. A mensagem contida nas letras falava de uma forma que me tocava, que me emocionava mais”, disse Pitty em entrevista ao programa de Jo Soares na época do lançamento.

Foto: Divulgação

No Twitter, a cantora falou sobre os impactos e barreiras que teve que superar para bancar o projeto há 18 anos. “Lembro dos questionamentos acerca do que deveria ser o primeiro single. “Máscara? tá doida? a música tem quase 5 minutos, parte em inglês, muro de guitarra no refrão. não vai tocar em lugar nenhum” a intuição dizia que tinha que ser essa. e foi”, disse. E foi muito!

Amor! Por que não?

Abaixando a distorção e trazendo uma temática de amor e até sexual, “Equalize” se tornou hino indispensável nos shows. Com a voz mansa, pouco explorada pela cantora, Pitty embalou casais apaixonados por gerações. Trilha sonora para muitos até hoje. Basta começar o reef de guitarra para o coração bater mais forte. Afinal, quem não tem teto de vidro que atire a primeira pedra.

“Briguei tanto, tanto com Equalize… morria de medo porque sabia que era uma música bonita, e tinha receio de músicas bonitas. falar de amor dentro do meu contexto parecia superficial. medo de ser confundida. no final, ela me venceu e ganhou vida própria”, disse no Twitter. E, sim! Ganhou muito, Pitty. Acredite!

Pitty. Foto: Divulgação

“Admirável Chio Novo” vendeu mais de 800 mil cópias e tornou-se o disco de estilo rock, mais vendido de 2003 no Brasil. Tá bom ou quer mais? O single “Máscara”, cujo clipe passou na MTV de cinco em cinco minutos, concorreu a duas categorias do VMB (a famigerada premiação anual da MTV) e protagonizou na novela global “Senhora do Destino”.

A segunda faixa, título do disco, “Admirável Chip Novo” é uma crítica contra “o sistema” e à indução de consumo alienante. Em uma sincronicidade instrumental e de palavras, cria-se uma fábula de ficção-científica onde a própria sociedade acaba se tornando um robô mitificado por um sistema maior (que por acaso encontra-se em pane total).

Pitty. Foto: Divulgação

“Teto de Vidro” abre o disco com tapete vermelho fazendo uma critica à sociedade capitalista e um paralelo ao texto bíblico sobre atirar pedras na vida alheia. Com um fácil refrão, daqueles que você sai cantarolando a qualquer momento. Mas quem pensa que é uma música pop se engana, é hard rock puro. Pesado e sem frescuras e com trechos falados, que lembram um rap. A faixa compôs a trilha sonora da série adolescente “Malhação”.

Fechando o disco com chave de ouro, “Semana que Vem” divide o peso dos arranjos com melodia. Sob fortes influências do Nu Metal e do grunge e uma poesia depressiva, a música, melancólica suscita o tempo que perpassa pelos dedos e traz a reflexão sobre o dia de amanhã, o futuro, e o tempo perdido.

De lá para cá, Pitty se consolidou como uma das maiores potências femininas na música e no rock com os discos “Anacrônico”, “Chiaroscuro”, “Setevidas” e “Matriz” até aqui. Prontos para mais muitos anos de som?

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