Há exatamente 17 anos Pitty entregava o seu primeiro álbum solo, “Admirável Chip Novo”, que a levou para dentro da casa de milhares de brasileiros com o bom e velho rock n’ roll. Até então anônima para o grande público, Pitty se destacou desde o lançamento do single de estreia “Máscara” que junto com videoclipe era executado incessantemente na saudosa MTV Brasil da Abril. Pitty na época tinha 26 anos e proporcionou o frescor feminino na cena rock do país, sempre dominada pelos homens, com letras fortes e de fácil identificação, que lhe renderam uma legião de fãs instantânea e posteriormente um certificado de diamante para o disco.
O álbum, que foi produzido por Rafael Ramos da gravadora Deck, tem onze faixas assinadas pela cantora baiana que com tranquilidade poderiam descrever os dias atuais, apesar de passadas quase duas décadas desde seu lançamento. Além de “Máscara”, singles posteriores, como “Teto de Vidro”, “Semana Que Vem”, “Equalize” e a faixa título, e músicas não trabalhadas, como “O Lobo” e “Só de Passagem”, se fazem mais contemporâneas do que nunca! Para celebrar a data, Pitty fará uma live hoje no Twitch às 21 horas e nós decidimos entrar na festa listando 5 motivos que fazem de “Admirável Chip Novo” um trabalho atemporal!
1 – Na Bahia tem rock?
Quando Pitty apareceu em 2003 com um visual totalmente rock n’ roll e o “Admirável Chip Novo” embaixo do braço muito se falava de sua naturalidade. A cantora é soteropolitana e na época parecia ser esta uma das características que mais chamavam atenção daqueles não muito entrosados com o gênero musical. “Como assim? E se faz rock na Bahia?”. É óbvio que sim! As pessoas pareciam anular figuras emblemáticas como Raul Seixas para fazer tais perguntas, mas o que importa é que sempre que pensamos em rock baiano, o nome de Pitty é lembrado e muito disso graças ao seu primeiro álbum que foi um pontapé na cena rock do início dos anos 2000.
2 – “Admirável Mundo Novo”
O primeiro álbum de Pitty foi nomeado em referência a “Admirável Mundo Novo”, romance do autor inglês Aldous Huxley publicado em 1932, que abordava desenvolvimentos em tecnologia reprodutiva, hipnopedia, manipulação psicológica e condicionamento clássico. Temas novos para a sociedade de 1930, que muito pouco conhecia dos avanços tecnológicos. Em 2003, Pitty trouxe ao mundo “Admirável Chip Novo” quatro anos antes do lançamento do primeiro smartphone da Apple e parecia também se antecipar a história com suas letras, que hoje podem ser comparadas ao comportamento das pessoas na web e principalmente em redes sociais. “Teto de Vidro” pode servir como uma analogia à famigerada cultura do cancelamento proveniente da internet, que nem sonhava em existir, pelo menos não com este nome, há 17 anos.
3 – “Admirável Chip Novo” e “Máscara”
A faixa título do álbum de estreia de Pitty como artista solo é a coluna vertebral da obra. Nesta música, que foi o segundo single trabalhado, ela fala sobre subserviência e falta de questionamento. Os famosos versos “Não senhor, sim senhor, não senhor, sim senhor” nos fazem pensar em diversos recortes da nossa história – em especial neste doloroso 2020. Em “Admirável Chip Novo” Pitty foi certeira na crítica, que pode ser utilizada dentro de diferentes narrativas, sejam elas políticas ou sociais. No mesmo disco encontramos “Máscara”, single de estreia da artista, onde ela fala em alto e bom som “Seja você mesmo que seja estranho, seja você mesmo que seja bizarro”, uma mensagem crua e clara de encorajamento que se contrapõe as questões levantadas em “Admirável Chip Novo”. Ambas as sensações retiradas das músicas estão em pauta hoje em dia, o resgate da individualidade é discutido diariamente e certamente será assim ainda por muito tempo.
4 – “Equalize” e amor
Pitty sempre falou sobre como “Equalize” foi uma música difícil para ela, que precisou brigar com ela mesmo para apostar no single e perder o medo de ser confundida. “Equalize” é no entanto apenas uma canção de amor, uma música bonita, e falar de amor para ela naquele momento parecia superficial. A faixa, que já estava entre as favoritas de quem ouvia o disco, ganhou ainda mais fôlego quando um clipe foi produzido e até hoje aparece nas listas de músicas memoráveis da cantora. Definitivamente uma faixa que saiu da bolha do fã-clube e chegou a pessoas que possivelmente nunca escutaram uma outra música do catálogo de Pitty ou torcem o nariz para o som pesado de guitarras. Se existe algo mais atemporal do que o amor e o romance, eu desconheço.
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Colabração: Pamella Renha.