Anitta

Pesquisador da UFRJ avalia clipe de “Vai Malandra”, aposta funk de Anittta

“Parece que não importa o que alguém com a origem de Anitta faça, sempre vai ter uma ressalva”.

Todo mundo parece ter uma opinião sobre “Vai Malandra”, o clipe novo da Anitta, que quebrou recorde de estreia brasileira no Youtube, com 15 milhões de visualizações em 24 horas – número divulgado pela cantora. Houve alguma controvérsia por conta de um tweet de Lulu Santos, que não era sobre a cantora, mas foi interpretado assim: “Caramba! É tanta bunda, polpa, bum bum granada e tabaca que a impressão que dá é que a MPB regrediu pra fase anal. Eu hein”. Com menor visibilidade, houve também quem levantasse questionamentos sobre apropriação cultural e exploração da miséria. Nada disso surpreende Rodolfo Viana, pesquisador da UFRJ e autor da dissertação de mestrado “Poses imundas: imagens e performances no portrait fotográfico da pessoa negra e LGBT do funk”. Estudioso sobre a estética do funk, ele de alguma maneira está acostumado com as polêmicas.

– É interessante como Anitta consegue emular tantos fãs e haters. Sabe aquele meme “nunca leia os comentários”? Eu leio. Nos comentários, vemos o mais claro racismo do brasileiro e tudo que é tipo de preconceito disfarçado de bom gosto. Quando não gostam do que Anitta faz, fico me perguntando o que realmente estão rejeitando. Parece que não importa o que alguém com a origem de Anitta faça, sempre vai ter uma ressalva. – ele avalia em entrevista ao POPline.

“Vai Malandra” é a música mais funk de Anitta desde que se tornou nacionalmente conhecida. O clipe foi gravado na favela do Vidigal, no Rio de Janeiro, com participação do funkeiro Mc Zaac, e retrata a cultura local. Há o biquíni de fita isolante para pegar sol na laje e ficar com a “marquinha perfeita”, trancinhas, o negro em lugar de destaque, os barracos, o mototáxi que sobe o morro, a piscina de plástico e, claro, o baile funk.

– Anitta não é originalmente de uma comunidade. É da periferia, de Honório Gurgel, bairro bem suburbano do Rio de Janeiro. É bom não esquecer que, quando Anitta não tinha recurso para clipes, utilizava a própria filmagem da Furacão 2000. Notem que no clipe “Vai Malandra” tem um SoundSystem, o paredão de caixa de som. Ela sabe o que está acionando com isso. Agora, me pergunto, se uma diva pop internacional pode vir aqui e levar da favela o que quer, por que Anitta não pode fazer isso praticamente dentro de casa? – questiona Rodolfo.

Na verdade, o pesquisador considera que a brasileira tem muito mais propriedade para retratar uma comunidade. Ele destaca a fiação confusa, chuteiras ou sapatos jogados e “coisas que passam despercebidas nas filmagens gringas”. Só o olhar de quem tá dentro capta esses detalhes. “Isso não é escondido. Isso aparece”, sublinha, “óbvio que é o modelo de favela para exportação. Predomina a hegemonia de um tipo de mulher que está a serviço do desejo do homem, quando o sujeito tem praticamente um harém só pra ele na laje. Mas, em takes rápidos, podemos ver pessoas trans, mulheres mais gordinhas e uma senhorinha que deixa tudo muito cool”. Até Jojo Toddynho, afinal, está ali.

O pesquisador faz ainda um paralelo entre o clipe e uma antiga publicidade de Gisele Bundchen caminhando ao som de bossa nova nas praias cariocas. “Vai Malandra” começa com um close na bunda de Anitta no mototáxi.

– Para criar controvérsia com as palavras que Anitta costuma dizer por aí, não foi Carmem Miranda a última brasileira a cristalizar nossa imagem no exterior. Foi Gisele Bundchen, uma mulher linda, branca, do sul do país, de extremo carisma. No entanto, Gisele é perfeita demais. Aí Anitta repagina e bagunça esse lugar, caminhando com uma bunda imperfeita. Oh wait. Uma bunda em condições normais de temperatura e pressão, que balança e tem celulites bem à mostra. Temos aí uma mulher de 20 e poucos anos, que derrubou sua empresária, gerencia sua carreira e a intensidade de seu rebolado em um superclose. Quando digo que gerencia, é porque Anitta praticamente dirige o próprio clipe. Ela intervém nas questões conceituais e diz ao diretor o que quer e como quer. Sem dúvidas, esse close da bunda, dessa maneira, seria desautorizado pelos gestores de cabelos brancos e de mentalidade pouco arejada como a de Anitta. Ela manipula seus quadradinhos e rebolados de acordo com o que considera importante. – analisa.

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