Pelo segundo ano consecutivo, a União Brasileira de Compositores (UBC) e o cRio, o think tank da ESPM realizaram a pesquisa “Músicos/as & Pandemia”. O levantamento traz um diagnóstico atualizado de como a pandemia de Covid-19 afetou o mercado musical no Brasil. E, assim como em 2020, o cenário do último ano aponta para uma crise continuada.
A pesquisa ouviu 611 músicos e 37 empresas ligadas ao setor. Entre os artistas, 89% afirmaram que passaram a ganhar menos dinheiro na durante a pandemia. O dado representa um aumento em relação a 2020, quando 86% alegaram terem sofrido perdas. A apuração tem margem de erro de cinco pontos e ouviu representantes de todos os estados brasileiros. Confira a pesquisa na íntegra no site da UBC.
Leia mais:
- Pandemia: Governo da Bahia publica novo decreto e grandes eventos são cancelados
- Ecad: arrecadação no digital cresce 36% e alcança R$ 252 milhões em 2021
- UBC promove ‘Impulso 2.0’ com capacitação e mentoria aos artistas
O perfil dos profissionais ouvidos, condizente com a média nacional no mercado da música, é majoritariamente de homens (84%), de 31 a 50 anos (57%) e com ensino médio (32%) ou superior (27%).
Autores, instrumentistas, cantores e produtores são os profissionais mais comuns da cadeia produtiva, e a faixa de renda mínima que eles disseram necessitar para se manter varia: entre R$ 2 mil (18%) e R$ 3 mil (18%). No entanto, 19% afirmaram precisar arrecadar de mais de R$ 5 mil mensalmente. Entre todos os entrevistados, 46% trabalham unicamente com a música.
Sandra Sanches, diretora do cRio ESPM, aponta a importância do estudo para as questões que envolvem o setor musical brasileiro, um dos mais importantes da economia criativa. “Os dados da pesquisa mostram que a pandemia criou inúmeros desafios para o crescimento do país e reforçam a necessidade de se pensar em soluções para a área”, diz Sanches.
Além dos artistas, a crise atingiu os mais diversos elos da cadeia produtiva do setor. Entre as empresas ouvidas pela pesquisa, 33% tiveram que diminuir os salários dos colaboradores desde que se iniciou o isolamento social. E apenas 40% não precisou demitir funcionários neste período.
Perda relevante de renda durante a pandemia
Outro dado que chama a atenção é a proporção de artistas que tiveram suas receitas totalmente interrompidas. O levantamento aponta que preocupantes 50% dos profissionais perderam 100% do que ganhavam com música antes da pandemia, enquanto 25% dos entrevistados perderam até 50% e os 25% restantes tiveram queda de até 80% dos rendimentos.
Apesar de números alarmantes sobre o impacto da crise na renda da categoria, a esperança em dias melhores também foi refletida na pesquisa. 53% dos ouvidos afirmaram que pretendem continuar trabalhando apenas com música, mas diversificando suas atuações neste mercado. Já 30% seguirão se dedicando à carreira da mesma maneira.
Enquanto 3% disseram que pretendem seguir no mercado, mas diminuir a atuação com música e focar em outra profissão complementar. E apenas 2% disseram que pretendem deixar de trabalhar com música.
Diretor-executivo da UBC, Marcelo Castello Branco, destacou a importância dos levantamento dos dados e como eles podem nortear a atuação não só da entidade, mas de toda a indústria. “O mercado da música cada vez se orienta mais por dados , pesquisas e estudos de comportamento e tendência. Eles são vitais ferramentas de trabalho para nossas previsões e estimativas . A inteligência de negócios nos ajuda a enfrentar e desafiar estes dias que manual de sobrevivência nenhum especulou”, afirma.
As perspectivas positivas dos artistas também são refletidas nas projeções dos músicos para volta das plateias. 39% dos ouvidos acreditam que os eventos terão grande adesão de público devido à demanda reprimida do confinamento. 34% acreditam que shows e eventos terão adesão controlada, seguindo os protocolos das agências sanitárias. E somente 11% afirmam que apresentações ao vivo terão baixa adesão de público devido ao medo de novas variantes.
O levantamento traz ainda informações de como a pandemia forçou artistas que antes se dedicavam exclusivamente à música a buscarem outras fontes de renda. Se 46% seguem com renda totalmente proveniente da música, 18% afirmaram que começaram a procurar outras atividades por causa da pandemia, enquanto 35% afirmaram que já tinham outros trabalhos anteriormente.