Com apenas seis anos de carreira, Pablo Bispo já faz escola. O carioca, cria de Bangu, assina hits que marcaram a carreira de nomes como Anitta, Iza, Pabllo Vittar, Gloria Groove, Lexa, Pedro Sampaio, Luísa Sonza e muito mais.
Aos 33 anos, Pablo coleciona mais de 7 bilhões de plays em plataformas digitais com as suas composições e já venceu 4 vezes os prêmios de música do ano nas premiações do Multishow e MTV. Mesmo com o “pouco tempo” de estrada, a música sempre esteve presente na vida dele, ainda que não fosse como profissão.
Filho de professora, Pablo desde muito pequeno aprendeu a se colocar no lugar do outro, a olhar por outra ótica que não apenas a sua. Sua mãe dava aula para crianças especiais e isso o tornou uma pessoa empática e sensível aos sentimentos das pessoas. Porém, quando o assunto é viver de arte, ele revela que sempre foi desacreditado.
“Não por maldade da minha família, é porque aqui no Brasil a arte é feita para você desacreditar. Por exemplo, quando você fala para uma criança que ela está ‘fazendo arte’ e isso se relaciona a ela estar fazendo bagunça. Então, tem muitos estigmas em cima da arte”, declara.
Em entrevista ao POPline.Biz é Mundo da Música, ele conta que sempre foi artista. Gostava de desenhar, de escrever… mas que caiu na música por acaso. “Eu fazia roteiros antes de ser compositor. Escrevia muito musical, peças de teatro, só que demorava muito tempo para escrever uma peça. Comecei a pensar que eu queria escrever histórias menores, mais rápidas, foi quando me encontrei com a música”, conta.
O encontro
O match aconteceu no projeto Doutores da Alegria, quando ele percebeu o quanto a música poderia ser poderosa e mudar a vida das pessoas. “Entendi que a música poderia tocar o coração do outro. Lá eu tinha que fazer música no momento que eu entrava no quarto, então eu tinha que entender tudo que estava acontecendo ao redor em pouco tempo, para saber o que eu ia cantar e criar para alegrar o coração de quem estava ali”.
E foi em cima desse aprendizado que Pablo construiu sua carreira e personalidade na música. No “enxergar as entrelinhas”, em ver a verdade que cada um tem e transparecer isso nas suas composições. “Nem sempre você consegue enxergar, nem sempre é fácil de ler. Às vezes quando você lê, não é tão confortável. Mas foi onde me encontrei como artista. Foi nesse lugar que pensei “Como é que eu posso fazer disso a minha vida?”.
Ele cursou Administração, foi gerente de banco, e, com muita sabedoria, uniu suas experiências para transformar sua carreira musical em um negócio bem sucedido. “Eu entendo a arte e entendo o negócio, e para mim esse é o equilíbrio perfeito. Porque assim você consegue viver fazendo o que ama, sem perder sua identidade, verdade e autencidade”. Mas, também alerta que não existe um jeito certo ou errado para chegar nesse meio termo.
“Tem o jeito que você é: que se doa para arte mesmo que não consiga sobreviver disso, ou que vá para o negócio, entenda e ganhe dinheiro. No meu entendimento, para mim, e para quem eu trabalho, o ponto normalmente é o equilíbrio”, revela.
Composição
Tudo que o Pablo sabe hoje foi autodidata. Ele criava músicas na capela, já que não dominava a fundo nenhum instrumento. A primeira música escrita por ele foi “Cravo & Canela”, em homenagem a sua mãe, e que virou um sucesso na voz de Anitta em feat Vitin. Mas, a primeira música que foi gravada e ganhou o topo das paradas foi “Essa Mina é Louca”, também na voz da cantora carioca com participação de Jhama – cantor que apresentou Pablo a Anitta e o ajudou a ser lançado no mercado.
“Tive uma sorte enorme de encontrar meus amigos e sócios, a gente se completou. Quando encontrei o Ruxell, por exemplo, eu falei: “Cara, eu tenho muita ideia, mas eu não sei como colocar isso para fora”. Aí ele virou e falou: “Eu sei tocar, preciso que você saiba ter ideias, que você sinta”. E foi assim que nasceu “Pesadão” (gravada por Iza), nossa primeira criação juntos”, conta.
O processo de composição dele não é comum. Ele não escreve música para virar hit. Não tem um banco de composições que podem ser sacadas a qualquer momento para serem gravadas pelo artista X, Y ou Z. A “onda” de Pablo é conhecer o artista, entender sua verdade e, a partir daí, compor. “Eu acho muito bonito quando o artista canta a verdade dele e eu tenho uma outra. É isso, cada um vai ouvir com a sua verdade. Quando a música vai para o mundo ela é a verdade de quem estiver ouvindo”.
Segundo Pablo, quando um artista chega dizendo que quer fazer uma música, a sua primeira atitude é dizer: “Não, primeiro vamos conversar, vamos falar de você, porque a música é consequência”. Para ele, a partir do momento que a pessoa chega com o compromisso de fazer um hit, isso vira uma pressão desnecessária.
“Eu gosto de ouvir o outro para entender ele ao máximo que o meu lugar de fala pode permitir. É por isso que eu sempre tento trazer gente de lugar de fala para colar com a gente. “Ah, mas eu não sei compor”, mas você sabe ser você. Eu não preciso que você saiba como compor, eu sei. Mas eu não sei ser você”, conta.
Questionado sobre sua inspiração, que tipo de livro o Pablo Bispo lê, o que ele consome para escrever, a resposta foi imediata: “Eu leio você”.
Fortalecendo a cena
E é sobre ler o outro e dar fala para quem tem lugar de fala, que a união entre os Pablos (Bispo + Vittar) deu certo. Foi dando aula de matemática financeira como voluntário em uma ONG para Jovens Aprendizes, que Bispo ouviu falar pela primeira vez na Vittar.
O consumo do pop é basicamente o jovem. A juventude é sedenta por novidades, é antenada e serve como uma verdadeira antena para o mercado. “Eles estavam ouvindo Pabllo Vittar e eu me perguntando “Quem é?”. Quando um deles me explicou, pensei na hora: “Preciso fazer algo para ela”. Ela tinha acabado de lançar um EP ., aí eu mandei mensagem no Facebook e foi assim que nasceu K.O.”, minha primeira música com a Pabllo”, conta.
O carioca conta que sempre consumiu o pop, seja pelos irmãos que curtiam Chiquititas, Rouge e Br’oz, ao seu próprio gosto por Nsync, Backstreet Boys, Five e Mariah Carey. “É muito louco porque eu sempre consumi o pop, um pouco do rock, mas o meu entorno, por onde moro, era sempre muito pagode e funk, Claudinho e Buchecha, sabe? Então eu sempre consumi tudo. Sei cantar todas as músicas do Só Pra Contrariar, do Art Popular… O local onde cresci influenciou para eu ser quem eu sou hoje”, revela.
“Por isso, sempre falo que quando você canta algo que não é verdadeiro, pode até fazer sucesso, mas não se sustenta por muito tempo. Ninguém consegue sustentar uma coisa que não é verdade por muito tempo”, completa.
Seguindo esse caminho da auto afirmação e representatividade, Pablo criou, ao lado de Maffalda, Rodrigo Gorky, Zebu e Arthur Marques, a Brabo Music. A produtora é focada em artistas LGBTQIA+, em trazer para o mercado os artistas que o time acredita e acha necessário.
“Nós somos tipo Os Vingadores, tocou o sinal vermelho, todo mundo se junta para fazer algum trabalho. Igual as Meninas Super Poderosas, sabe? Quando toca o telefone a gente se junta. Mas é sempre por algo que a gente acredita, que vai ser divertido”, conta.
Além da Brabo, Pablo também é sócio da Dogz, ao lado de Sérgio Santos e Ruxell. Juntos, o trio de compositores e produtores criaram um selo chamado Inbraza, para incentivar artistas novos. “A gente montou um estúdio no Rio e produzimos a Iza desde “Pesadão”. Quando a Pabllo estourou a gente entendeu que precisava de uma cena, os Dogz começaram a produzir tudo da Gloria Groove e da Aretuza Lovi para a cena ser formada”, conta. “Como a gente é amigo, tinha uma comunicação muito fácil”, completa.
Pensando no produto final gerado pelas duas empresas, é fácil confundir a função e estilo de cada uma. Mas Pablo esclarece: “O Dogz é mais urbano, a Brabo é mais pop”.
Criando na pandemia
A pandemia não mexeu só nas estruturas do entretenimento voltada para os shows e apresentações que carecem de presença física, segundo Pablo, as mudanças ocasionadas pelo momento também impactaram na forma de fazer música. O olhar atento à nova forma de consumir música, às plataformas digitais e ao TikTok, fizeram os compositores também repensarem suas produções.
“A gente tem músicas incríveis prontas, com vários artistas grandes, que a gente pensou: será que é o melhor momento para lançar agora? Porque, se a gente lançar essa música quando estiver tendo balada, ela vai estourar. Então, a gente teve que mudar muita coisa de trabalho da gente para repensar a forma de fazer música”.
Mas, se tem uma coisa que Pablo revela ter pensado muito durante a pandemia é sobre o impacto social que a música tem no mundo. “Os artistas que a gente representa tem um lugar de fala muito forte, eles conseguem se comunicar com muita gente. Muito pelo que eles falam, praticam e quem são. Por mais que a gente estivesse mal para caramba também, a saúde mental pessoal foi para o espaço, a gente sabe o privilégio que tem e não podíamos parar de produzir. Muitas vezes, uma música ajuda uma pessoa a continuar a vida”.
Foi durante a pandemia que a Gloria Groove resolveu fazer um disco de R&B, por exemplo. Ele conta que a cantora foi muito objetiva em dizer que precisava fazer o disco nesse momento, porque acreditava que as pessoas estavam precisando disso. “A gente não pode parar porque precisamos aproveitar o momento. Não, a gente não pode parar porque a gente sabe o impacto que temos na vida das pessoas”, conta.
“A gente precisava se manter forte para manter outras pessoas fortes também. Depois que tudo passar a gente respira”, completa.
Para este ano, além dos tão esperados discos da Iza e da Pablo, parece que vem também alguma novidade musical do próprio Pablo. Ele não deu detalhes mas, dois dias antes desta matéria ir ao ar, ele publicou uma foto em suas redes sociais que deixou no ar a expectativa do que vem por aí.
Pablo lançou durante a pandemia sete grandes álbuns, incluindo o disco do Fran (filho de Preta Gil e neto de Gilberto Gil), da Lexa e do Ruxell. Foram mais de 130 músicas lançadas só em 2020, e, segundo ele, pelo menos umas 25 performaram bem no Top 50 do Spotify. “A gente tem a sorte de poder escolher o trabalho que a gente entra. A gente só escolhe quando acredita, não é pela grana”, finaliza.