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Opinião: Opinião: Single? EP? Álbum? – O ilustre desconhecido é o novo ídolo do próximo verão (Parte 2)

Artigo de opinião assinado por Alexandre Ktenas, para o POPline.Biz é Mundo da Música

Alexandre Ktenas, colunista POPline.Biz é Mundo da Música
Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal

… continuando nosso papo da semana passada (clique aqui para ler a Parte 1):

Hoje um grito de guerra cantado no meio da multidão com uma boa sacada e um bom empurrão dos amigos certos nas redes, tem praticamente a mesma chance que uma música gravada num estúdio caro, mixada em Los Angeles e masterizada em Londres. Sem nenhum tipo de pré-conceitos, sejamos bem vindos ao mundo em que nos perguntamos “que tiro foi esse” que bombou nas plataformas essa semana?

Hoje um rapper tá no topo das listas, ultimamente tão frequentado por sertanejos ou cantoras pop. Ou seja, o rodízio de gêneros afinal dá o ar da graça. E isso torna o “novidades da semana” ainda mais disputado.

Analisando o mercado de hoje (porque o de amanhã, daqui a 24 horas, pode ser completamente diferente), se a verba é pouca, tente ao menos produzir 4 faixas, lance uma a uma, gaste um pouco no tráfego, faça aquele pitching caprichadíssimo, chame todos os amigos pra ajudar nas redes e nos pré, lute por algum destaque nas playlists, mande ver naquele visualizer caseiro, faz aquela live bonitona na virada e manda ver no dedo no play.

Lembra do filme do Zezé onde o pai dele distribui ficha telefônica pra todo mundo na obra? Essa imagem hoje neandertal ganhou sua versão 2022. É você nas redes e nos grupos disparando seu link da música na plataforma pra geral ouvir. Novos tempos mesmas estratégias. Porque “os bons meninos de hoje eram os rebeldes da outra estação”.

Se a verba é praticamente nenhuma, a dica é usar a mesma criatividade que você usou pra compor e gravar na raça a sua música, pra fazer o ‘marketing’ dela.

Fazer filme no seu celular ainda tá de graça, disparar pra todo mundo que você conhece também. Como todo mundo faz exatamente a mesmíssima coisa, o jeito é se virar pra ser mais diferentão e mais criativo que todo mundo. Vivemos no mundo dos excessos. Muita música sendo lançada, mas também, muita gente querendo ouvir música. O único jeito é sair de faca nos dentes pra abrir seu próprio caminho.

Recebo mensagens praticamente todo dia de artistas querendo mostrar seu trabalho e seu jeito de trabalhar. E todos os dias me surpreendo com a inteligência e a vontade destas pessoas pra fazer seu próprio barulho. Isso é genial demais. Pois até bem pouco tempo atrás, os novos artistas dependiam quase que exclusivamente da vontade, do tempo, da verba e da criatividade dos departamentos de marketing das gravadoras. Que bom que mudou.

Agora, se o artista conseguiu separar um tempo e uma verba e resolver que seu trabalho só faz sentido se for ouvido como um álbum, mesmo que lançado aos poucos, mês a mês, este é uma ousadia pela qual tenho simpatia e a qual acho a estratégia que (mais uma vez, olhando a foto do momento de hoje) faz mais sentido em termos artísticos e mercadológicos. Com isso o artista “entrega” o que tem de melhor e o público pode enxerga-lo como um todo e decidir com mais assertividade se quer ou não “consumir” aquela música.

O resultado do papo é que mais uma vez a ciência da música não é uma ciência exata e a decisão de que se vai sair com um single, um EP ou um álbum é muito mais um conceito do que uma realidade nua e crua. Depende da estratégia, da vontade, da verba, de fatores objetivos e subjetivos. Verba, tipo de música, momento do artista, momento do mercado, tudo influencia. Mas acima de tudo o que o artista pensa pra sua carreira. E isso SEMPRE deve pontuar cada decisão a ser tomada por ele. O que gravar, quando gravar, com quem gravar, por onde lançar, quando lançar, porque lançar…

OU NÃO!

Afinal, é como gritavam aos quatro ventos os Titãs ao final da música: “Não importa contradição / Dizem que não há nada que você não se acostume / Cala a boca e aumenta o volume, então!”

AUMENTA O VOLUME ENTÃO:

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Alexandre Ktenas trabalha com música desde sempre, nos quatro cantos desse negócio, com larga experiência na indústria fonográfica no Brasil, América Latina, Caribe e EUA. Hoje é sócio da agência de conteúdo digital Kontente e de lindos selos de música pop como o Selim. Habitante do mundo da música.