Se tem uma coisa que eu fiz muiiiito durante 2020 foi estar em milhares de reuniões online. A maior parte delas com pessoas de diversos cantos do mundo conectadas e tentando diminuir um pouquinho da falta que as viagens e reuniões presenciais fizeram.
Nas áreas em que atuo acabei descobrindo em 2020 que dá – sim – pra aguentar a barra no online: as aulas que ministrava fisicamente nas faculdades ganharam novas dinâmicas, palestras e eventos foram repensados, ações de ativações dos artistas ganharam espaço na internet e até rolaram os shows… com as tão faladas Lives.
Muitos artistas e profissionais se viram tendo apenas o “online” como fonte de renda na música. O streaming virou rei… e todo mundo (ou quase!) passou a acompanhar bem de perto esse universo, procurando saber mais sobre plataformas, regulações, formatos de monetização e estratégias para lançar e engajar sua música no digital.
É claro que o físico faz falta. Na alma e no bolso de muitos… Tanto de pessoas conhecidas e que vemos nos holofotes, quanto de gente que a gente não vê, mas que faz muito show acontecer. Na medida do possível nos adaptamos ao online. E tudo aquilo que a falávamos com expectativa para o futuro, começou a tomar forma em poucos meses, acelerando mudanças que já estavam sendo escritas, pensadas e desenhadas por muitos cientistas, empreendedores e marcas.
Como eu sou fascinada por conexões que as coisas do dia-a-dia podem ter com questões mais profundas da nossa vida pessoal e profissional, eu logo me peguei prestando atenção num hábito (bem ruim, confesso) que eu tenho e que ficou mais visível com as reuniões online.
Às vezes eu penso um monte de coisa, mas numa fração de segundo muito, muito, muito mínima… e, para não perder o timing de encaixar uma ideia, eu acabo falando antes que o outro termine de falar, interrompendo a fala de outra pessoa.
Santo Zoom! Essa ferramenta me ajudou a perceber isso de forma bem clara. Afinal, numa reunião online cada um precisa ter seu tempo de fala aguardado, para não ficar aquela bagunça sonora imensa e ninguém se sentir desprestigiado por ser silenciado/interrompido pela fala do outro.
Tenho me esforçado para resistir aos impulsos de interromper. Tenho me esforçado em ouvir para “escutar” de verdade, e não para “responder” rápido. Quando é realmente “extremamente necessário” interromper, tento fazer de forma cautelosa, pedindo “desculpas por interromper”.
Em Ciências da Comunicação, a gente até estuda sobre isso, sabia? Tem uma área que estuda os “turnos conversacionais” e como interrupções, silenciamentos, entonações, gestos e alguns tipos de discursos podem ser usados de diversas formas, até mesmo para manipular, diminuir ou oprimir. E não é que eu me peguei pensando e conectando tudo isso com a publicidade e estratégias de divulgação/promoção e engajamento?! (risos)
Veio o questionamento: quando a gente tá promovendo os nossos conteúdos, músicas ou produtos, será que temos o mesmo cuidado? Ou será que a gente tá só tentando interromper a vida das pessoas e esperando ter engajamento e audiência com isso? Será que a gente não tá forçando a barra?
Será que estamos escutando a outra parte de forma genuína? Será que estamos criando diferentes formas para disseminar um mesmo conteúdo, entendendo que as pessoas consomem de forma diferente em diferentes plataformas?
Será que, para se dar bem no online, talvez a gente tenha mesmo é que ser bom de offline? Afinal, rede social a gente sempre teve. Todo mundo sempre se relacionou com muita gente de maneiras e em tempos/espaços diferentes, não é mesmo?
Já parou pra pensar que de “inovador” mesmo, as mídias sociais não têm quase nada? A sacada dos caras foi entender essas relações que já existiam e adaptar tudo para um ambiente chamado “internet”. (risos)
O confinamento trouxe cases memoráveis, até mesmo de quem nem sabia ainda o que era estar em quarentena. Como não falar da estratégia da Manu Gavassi durante o BBB? O reality show era uma mídia, o Instagram era outra, e assim por diante. Ela mostrou sua essência para o público de diferentes formas, entendendo a dinâmica de cada um destes espaços.
Ouça o Podcast “Cases” com Manu Gavassi e Felipe Simas:
Essas coisas têm até nome bonito na Comunicação e Marketing Contemporâneos: “Semântica das Mídias e Comunicação Transmídia”. Um cara chamado Henry Jenkins fala sobre esses assuntos de forma bem bacana desde 2006, quando lançou seu livro “Cultura da Convergência”. Mas, mesmo antes dele, já existia gente discutindo isso.
John Beck e Thomas Davenport falavam – há duas décadas atrás – que estávamos vivendo a “Era da Economia da Atenção” (mal sabiam o caos que seria 2020!). E, bem antes deles, na década de 70, Herbert Simon já escrevia sobre informação x atenção. Uau… olha Zoom aí me fazendo relembrar a faculdade de Publicidade.
Mas (a pergunta que não quer calar) se publicitários e comunicadores estudam tudo isso, por que nem sempre põem essas coisas em prática? Por que acabam algumas vezes desenvolvendo estratégias baseadas em interromper (com mais do mesmo) os leitores, internautas, telespectadores, fãs, seguidores? Por que não buscam entender, ouvir mais e criar conversas saborosas com estas pessoas nos diferentes espaços em que elas estão? Engajamento que chama, né? Isso dá trabalho. Exige paciência de construir e manter um discurso consistente que proporcione oportunidades para que o outro se sinta representado e à vontade para participar da conversa também.
Bom, o papo tá bom, mas vou parar por aqui.
Agora eu tenho que ir ouvir, ver, sentir e engajar (mais uma vez) com o “COR” das ANAVITÓRIA, com visualizers incríveis para o YouTube; o “Sol a Sol” da Cláudia Leitte, com uma abordagem de lyric vídeos cheios de easter eggs que conectam o storytelling de todas as músicas; e o “#AvisaQueÉoFunk” do Mc Hariel, que mobilizou toda a comunidade do funk (e muita gente fora dela também) com um verdadeiro “manifesto cultural” sobre a complexidade deste ecossistema musical tão dinâmico.
Assista a playlist dos visualizers de COR das Anavitória:
Eita nóis! Olha o merchan! (risos)
Enfim… Desculpe interromper.