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Opinião: A Cultura do cancelamento – Desinformação, fake news e radicalismo político

Foto: Markus Winkler/Unsplash

A Cultura do cancelamento, vai muito além de “haters” e uma avalanche digital “abstrata”. Quando alguém é “cancelado”, ele já foi julgado, condenado e é banido, sem direito de resposta. Uma verdadeira “inquisição” em praça pública, ou melhor, em redes sociais “públicas”.

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Acredito que muito da força dessa cultura do cancelamento se dê por uma junção de ingredientes bombásticos que assola a todos nós:

1º ingrediente: Não há brasileiro que não esteja indignado com algo na politica, seja de direita, centro ou esquerda, e/ou que nem queira ouvir falar em politica. A sensação de impotência com os “parlamentos” (congresso nacional com deputados e senadores, e/ou assembleias estaduais com deputados estaduais, e/ou câmara dos vereadores), um gigante invisível, que não tem nome e nem rosto e parecem não olhar pro que realmente importa ao povo e ao crescimento sustentável do país.

2º ingrediente: O caos da pandemia, o medo, as perdas, as dificuldades pra atravessa-la, e quando parece que vai melhorar, descobrimos que seus efeitos são violentos e se estenderão por muito tempo. Outro gigante invisível pra enfrentar;

3º ingrediente: A Guerra. Como um elemento surpresa de péssimo tom que afeta diretamente a economia global e tende a agravar e piorar o que já estava muito difícil. Um gigante global.

4º ingrediente: Ano de eleições (com Copa do Mundo junto). Em ano de eleições o Brasil passa por um fenômeno de potencialização de extremos. O que é bom se torna excelente e o que é ruim, mil vezes pior. Aparecem soluções pra tudo, aprovações de pautas bomba e adiamento de pautas bomba…

Foto: Kate Torline/Unsplash

Não há brasileiro que não esteja no mínimo cansado, incomodado, indignado e sedento por mudanças.

Com tantos gigantes invisíveis pra enfrentar, sem saber por onde e nem como começar, somos todos pavis de pólvora em potencial e qualquer mínima faísca nos faz explodir. O cenário é propício pro cancelamento de qualquer pessoa ou elemento palpável e concreto onde possamos descarregar toda essa raiva.

Todo o cuidado é pouco com tudo o que nos chega, com qualquer “senso comum” por mais inocente que pareça. Mais do que nunca precisamos apurar os fatos e as informações que nos chegam.

Minha primeira dica é: Preste atenção “no que se fala” antes de se preocupar com “quem tá falando”. Apurados os fatos e verificada a informação passada, podemos fazer nosso juízo de valor sobre ela. Ninguém é de todo bom e nem de todo mau. É possível que alguém que você não goste e não apoie esteja falando algo que você concorde e esteja alinhado com você, da mesma forma, que o contrário também vai acontecer. Não é correto e nem razoável essa história genérica de: “se fulano(a) tá de um lado, eu tô do outro”, troque por: “Nesse assunto, eu tô a favor ou contra fulano(a)”.

A cultura do cancelamento das pessoas tem me trazido uma preocupação maior: o interesse por trás em cancelar alguém para tolir as suas ideias, causas e lutas.

Observo hoje uma evolução da cultura do cancelamento, pro cancelamento da cultura. Tudo o que é ligado a cultura é muito amplo, são diversos setores, categorias, demandas sócio-econômicas distintas e sim, trazem sim retorno financeiro ao país e uma enorme classe trabalhadora ligada a ela.

Me preocupo quando vejo distorções latentes tanto pra coisas boas culturais que funcionam, quanto pras coisas que não funcionam. Não podemos colocar todas as questões no mesma sacola de mercado, dar um nó e rotular.

A coisa chegou a um tal ponto, que já existe um juízo prévio à determinados grupos de artistas, à determinadas leis, à determinados posicionamentos, sem mesmo ninguém se dar ao trabalho de entender qual o ponto em questão. Isso é péssimo.

Estamos em colapso artistico/político/cultural. Ninguém fala a mesma língua. O ponto positivo é que todos os lados, mesmo que antagônicos, conseguem verificar que existem problemas e à sua maneira, vislumbram a melhor saída pra resolvê-los.

Porém, questiono a forma. Me preocupa a superficialidade de temas profundos e sensíveis. Na cultura temos leis que versam sobre direito privado, não passam por verbas públicas e não precisam de leis de incentivo, ou auxílios governamentais. Da mesma forma, que existem outras leis de incentivo que em contrapartida um rigor técnico e burocrático pra ser executada.

A única forma da gente sobreviver a isso sem cair em armadilhas e nem sermos “usados” como santos ou hereges, é nos informando, conversando, debatendo de forma saudável.

Precisamos aprender que é possível “discordar, respeitar e conviver”.

Somos 200 milhões de uns. Você é sim um elemento de mudança e parte importante nessa engrenagem. Se eu consegui sua atenção até aqui e te levei a refletir, já valeu. Seja qual for a sua posição, quero que ela seja consciente e tomada por motivos seus. Para termos opinião devemos buscar boa informação, acrescentando à isso, tolerância e respeito. Só assim passaremos a ter discussões sadias, mesmo num mundo doente.

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Sergio Jr. é integrante do grupo Sorriso Maroto, Músico, Compositor e Produtor Musical, com 22 anos de atuação no mercado fonográfico. Bacharel em Direito, Criador e Diretor Artístico da “Artesanal Digital” (Editora/Selo/Produtora).

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