Entrar no Big Brother Brasil é o sonho de muitos, mas é uma grande exposição. Um ato de coragem, eu diria. A vida muda antes mesmo de o jogo começar, pois quando apresentam-se os novos participantes as redes sociais já ficam em polvorosa, ainda mais em tempos de Camarote x Pipoca.
A supervalorização do programa nos últimos anos, especialmente a partir da edição de 2020, em que vivíamos um momento delicadíssimo da pandemia, abriu margem para inúmeros debates. Como a ideia da coluna é sempre trazer assuntos relativos à assessoria de comunicação, preciso dizer que o questionamento “como ter mais engajamento?” foi o que mais recebi neste período.
Veja bem, a clássica pergunta “como faço para ficar famoso (a)?” perdeu força, apesar de não ter desaparecido. A questão da atualidade, contudo, é engajamento. Mas para obter o tão desejado número de likes e interações, é preciso, antes de mais nada, ter talento. E sempre ser verdadeiro. A melhor forma para engajar é com a verdade.
No duelo fama x engajamento, posso afirmar que o BBB vai entregar mais engajamento do que fama. A ordem natural é sair do programa com milhões de seguidores, fato que tornará as redes sociais um ativo para negócios. São muitas as possibilidades de publiposts e parcerias, sendo que algumas podem ser fechadas quando o participante ainda encontra-se dentro na casa.
É válido ressaltar que os algoritmos, digamos assim, trabalham em função dos brothers enquanto o programa acontece. Assim, uma vez que as redes tornam-se um ativo para negócios, apesar de não existir fórmula certa, um dos caminhos mais seguros para construir um engajamento que se sustente por um longo período é falando a verdade. Quando existe autenticidade, pode-se errar, seja no BBB ou fora dele.
A sociedade deve entender que pessoas erram publicamente, acertam, recalculam, mudam pensamentos e posicionamentos… e tudo isso está inserido no universo do chamado “discurso e lifestyle” sobre o qual já escrevi a respeito em uma coluna anterior.
Para ser bem direto com você que está lendo este artigo, é preciso ter em mente que autenticidade gera credibilidade. Então, caso a pessoa verdadeiramente seja engajada a assuntos como racismo, homofobia e feminismo, deve-se seguir assim, já que há um compromisso com essas pautas. Qualquer outra estratégia que não passe honestidade em relação a tópicos políticos e sociais cairá facilmente. É questão de tempo.
Voltando alguns passos e falando da vida dentro do reality, reafirmo que o BBB é um jogo em que as pessoas são estimuladas a competir entre elas o tempo todo e, com isso, muitas ficam vulneráveis. Como referência, trago as participações da Boca Rosa e Viih Tube, pois vejo uma situação comum na trajetória das duas.
Fiz a assessoria de ambas, conheço a fundo suas histórias e vejo que a dupla passou pelo tribunal das redes para ser lançada ao cancelamento. Não com a mesma intensidade, é verdade, porém trata-se de circunstâncias da mesma natureza. No plano das semelhanças, tanto Bianca como Vitória, entraram no BBB com um número exorbitante de seguidores, fato que não foi suficiente para levá-las até a final. Desta forma, é trabalho do assessor entender o que não foi bem interpretado lá dentro e, com base nisso, criar uma consciência da própria imagem. Assim foi feito o trabalho, inicialmente, com Boca Rosa.
Bianca está sempre muito preocupada em aprender e evoluir. Como na época ainda não tinha uma assessoria de imprensa, me procurou para desenvolvermos juntos um modelo de trabalho. Com muito entrosamento entre nós, pude ser uma ferramenta no processo de assessoria da imagem, para fazer com que hoje olhem para ela exatamente do jeito que ela é. Todos os méritos são dela, claro, pois estamos falando aqui de uma mulher, empresária do ramo de cosméticos, maquiagem e produtos para cabelo… Como ela mesma diz: “entrei no BBB para poder vender mais”. E vendeu.
Como vender também é gerar valor, Bianca, de maneira muito sábia, buscou na relação feminismo x empreendedorismo o estímulo para influenciar seu público-alvo. O segredo para concretizar esse plano foi justamente pavimentar, de forma adequada, o caminho a ser percorrido na imprensa, entendendo que algumas fases teriam que ser encaradas. No início, dada a participação recente no BBB, as entrevistas vinham com uma tendência à polêmica, alfinetadas e coisas do tipo. Ela não subestimou, não reagiu. Houve calma e paciência. De forma muito ética e profissional, enfrentou a situação, porque tinha consciência de que era preciso responder a essas inquietações da mídia para depois dar o passo seguinte.
Feito isso, em uma segunda fase, foi possível ter espaço na mídia, mas agora para comunicar o que ela pensava e não o que a imprensa queria ouvir. Não era mais a Boca Rosa ex-BBB, mas sim a empresária Boca Rosa. Sucesso nas vendas, pautas estratégicas em veículos como Vogue, Marie Claire, O Globo e Folha de São Paulo. Todo esse conjunto culminou na citação de Bianca como uma das 20 mulheres mais importantes na lista da Forbes. Um verdadeiro case de sucesso.
Falemos agora de Vitória, que foi, sem dúvidas, uma das grandes personagens do BBB nos últimos anos. Foi eliminada do programa com 96,69% de rejeição em uma edição com audiência estrondosa e muita repercussão por causa de outros personagens como Karol Conká, Lumena, Gil do Vigor, Juliette…
É bem verdade que Viih Tube não tinha a simpatia dos jornalistas, talvez por ter assumido uma postura completamente estratégica durante o jogo. Cada ação era calculada. Muitos colegas da imprensa nem mesmo queriam tratar das polêmicas, como, por exemplo, a questão do banho, que ficou em evidência ao longo do entretenimento. Usou-se, então, um artifício imprescindível em momentos delicados: o humor. Bem utilizado, o humor é capaz de promover a comunicação de forma mais empática.
Passado o boom depois do encerramento do programa, Viih teve a vida pessoal mais uma vez exposta… tudo mudou. Percebeu-se ali a mudança de status, ficando para trás a carreira como youtuber infanto-juvenil para ocupar o lugar de celebridade e mulher. O evento Farofa da Gkay, em que beijou várias pessoas, foi marcante para sinalizar à imprensa a nova fase da vida que estava disposta a viver.
Alguns recursos de comunicação foram utilizados para demarcar a entrada em um novo universo. Inicialmente e orientada pela equipe, a própria Viih anunciou publicamente o fim do namoro. Em seguida, a imagem de solteira e pegadora fortaleceu o lado independente e feminino. A conclusão do plano de comunicação ocorreu com o lançamento do livro “Cancelada“, onde a artista abriu a discussão sobre o cancelamento nas redes.
Com essas pautas, Viih “frequentou” espaços importantes, como Estadão, Marie Claire e programas de TV que falavam com todas as idades. Paralelo a esses movimentos, outro ponto marcante foi em relação ao visual com cabelos loiros que estava atrelado à menina inocente, tida como filha mais nova dos outros participantes do reality.
Aconselhei a Viih ficar ruiva, que era o seu estilo no início da carreira, para reconectar com o os fãs mais antigos e ao mesmo tempo se reapresentar para o país. Agora, entretanto, como uma mulher disposta a levar a vida da maneira que bem entende, sendo livre e decidida. Não é nem um pouco simples, aos 21 anos, adotar uma postura preenchida de tanta originalidade.
As pessoas gostam de redenção – e no meio artístico este é um enredo conhecido. Viih Tube e Boca Rosa têm muito em comum. Cada uma ao seu estilo, com a sua própria história e habilidade, mas ambas já estão no seleto rol dos poucos ex-BBB’s que conseguiram alavancar a imagem de maneira consistente depois de tanta exposição e julgamento. Aguardemos os próximos capítulos. Enquanto isso, a gente segue daqui espiando…
Não posso finalizar essa coluna sem mencionar a jornalista Eduarda Vilar, que trabalhou comigo em toda comunicação de ambas artistas.