A presença de artistas negros nas telas do audiovisual brasileiro tem crescido exponencialmente nos últimos anos. Pela primeira vez na história da TV Globo, a emissora produziu três novelas ao mesmo tempo com protagonistas negros. Mas o que de fato seria um mercado seguro, para nós, pessoas negras?
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Vejo muitos talentos negros em ascensão, mas quem são as pessoas por trás dessas carreiras? Você conhece algum empresário ou agente de talentos negro? Assistimos a muitas produções com narrativas negras, mas quem tem escrito e assinado por essas histórias? Todo povo deve e merece contar sua própria história. Ou então, criar estórias.
Enquanto empresário artístico, me sinto genuinamente inspirado quando me vejo inserido neste mercado, como uma ponta de lança fazendo a diferença na indústria. É inegável que eu enquanto um homem negro, olhando para uma carreira negra, terei um outro olhar e um outro cuidado se comparado ao modus operandi de pessoas brancas (por mais cuidadosas que sejam), será de fato uma maneira diferente de planejar e executar as estratégias. Vide exemplos de grandes atrizes da nova geração que colaboro, como Clara Moneke e GABZ.
Clara Moneke e GABZ. Foto: Divulgação
Penso que vá pela mesma linha de raciocínio quando um roteirista negro assina uma obra ou quando um diretor negro está inserido em um projeto e o backstage é repleto de representatividade. A receita para um bom projeto audiovisual, da realização à boa aceitação do público, é um ‘behind the scenes’ diverso.
Vejamos, se estamos contando uma história negra, precisamos de uma certeza que a narrativa será contada sem estereótipos para que se tenha uma satisfação do público quanto as próprias representações e, para isso, a equipe de fato precisa funcionar como um bom reflexo pelo que é visto nas telas. A entrega vai ser diferente e o produto terá ainda mais chances de se tornar rentável.
É extremamente desafiador ser um jovem negro, de origem periférica e hoje aos 26 anos liderar uma empresa que representa um movimento que se contrapõe ao mercado tradicional e homogêneo, em que por vezes preciso me submeter a homens e mulheres brancas cis. A Agência Dutra é uma empresa voltada para o entretenimento com enfoque no gerenciamento de carreira artística e produção audiovisual, representando artistas majoritariamente negros com uma equipe também majoritariamente negra.
Chegar nos lugares com a minha equipe e receber olhares estranhos, ter a capacidade de entrega questionada e ao final servir excelência, é de fato o nosso grande triunfo. Não temos o direito de apenas sermos bons, vamos sempre em busca da excelência. E não, não é só sobre representatividade, é sobre dinheiro também. Estamos fazendo o capital girar entre nós e, gradativamente, se tornando um grande ativo no mercado. Somos de fato uma grande potência.
Já existem vários estudos que comprovam a eficiência de se ter diversidade no ambiente de trabalho, pois é através de uma equipe diversa que o trabalho como um todo ganha mais abrangência, o que se converte automaticamente em bons impactos e, logo, em lucro. Sejamos inteligentes.
Neste Dia da Consciência Negra, celebramos o quanto a gente avançou até hoje, mas refletimos também sobre os caminhos e estratégias que precisaremos adotar para dar seguimento a um trabalho que vem sendo desenvolvido há tempos pela comunidade negra. Celebro quem sou e celebro outros tantos nomes da indústria como Nathalia Santos, Viviane Ferreira, Val Benvindo, João Pedro Oliveira, Shirlene Paixão, Evandro Fióti, Pedro Alvarenga, Renata Sofia, Ju Almeida, Eliane Alves Cruz, Sandra Menezes, Rudson Martins, Michel Carvalho, Ronald Lincoln, Samantha Almeida, Bernardo Conceição, Yuri Costa, Elisio Lopes, Mayara Aguiar, Nathye Ribeiro, Silvio Guindane e muitos outros profissionais negros que com grande excelência atuam nos bastidores da indústria artística e audiovisual do nosso pais.
Que vivemos em uma sociedade estruturalmente racista, todos nós sabemos, mas refletindo neste atual momento, fico feliz por ver que estamos não só construindo, mas se utilizando de estratégias ancestrais para galgarmos espaços mais dignos para nós e para o nosso povo. Li de Sandra Menezes que a autoria negra recria um passado não registrado e proporciona novos horizontes que talvez ainda não possam ser vistos. Sigamos em busca da construção de um futuro próspero, seguro e legítimo.
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