Atração do Festival de Verão 2020, Baco Exu do Blues é conhecido pelo seu ativismo contra o racismo através das suas performances, discursos e canções. Entrevistado pelo jornal “Correio”, o músico falou sobre a importância da sua arte para a desconstrução de estereótipos e também sobre as suas expectativas para o evento.
“Como pessoa, além de artista, eu represento alguns nichos: a questão do negro, a questão do gordo, a questão do baiano, do nordestino também. Então, quanto mais eu consigo me autoafirmar, me achar bonito, me achar invencível, me achar poderoso, mais eu consigo fazer com que pessoas semelhantes também se sintam nesse lugar. Acho que a arte é uma das formas de mudar isso, até porque a nossa referência de preto fora do crime, midiaticamente falando, são os artistas, né. A mídia faz um desfavor muito grande ao só mostrar o negro, quando não é no papel das artes, como um vilão, como um criminoso, como um chulo, como um burro. Acho que não só a arte, mas tudo tem que mudar, saca? Os papéis de representatividade, a forma como se entrega as coisas”, explicou.
Baco Exu do Blues também falou sobre um tema que merece atenção, de como a saúde mental dos negros sofrem com racismo: “Quando você nasce e cresce em uma perspectiva de que, através da TV, dos jornais, do rádio, dos filmes, todos os personagens que se parecem com você estão no local de errado – porque é assim que fazem questão de abordar a temática negra durante muitos anos, no papel do feio, do burro -, você acaba trazendo isso para você e surtando com isso. Surtando por não querer ser esse papel que as pessoas te colocam. Quando você perde a liberdade de sair de casa e ser olhado como uma pessoa normal mas, sim, olhado como um criminoso ou como uma ameaça para as pessoas à sua volta, os olhares racistas mexem com nossa saúde mental. Acho que pouco a pouco isso vai minando sua autoestima, vai minando sua segurança, vai minando tudo. Então chega um momento que você simplesmente é uma grande energia defensiva, tipo: eu preciso me defender do mundo, em vez de vivenciar o mundo”.
Sobre o show, ele é direto: “O repertório vai ser o Bluesman com Esú, a gente vai levar a rapaziada do 999, que é o meu selo, e ‘vamo’ fazer um show lindo”.