Você já viu no POPline o que esperar do primeiro episódio de Quiet on Set: O Lado Sombrio da TV Infantil”, mas ao todo a série documental foi dividida em quatro partes. Sob direção de Mary Robertson e Emma Schwartz, a produção estreou nos Estados Unidos em março e neste sábado (13) chegará ao catálogo da plataforma de streaming Max para mostrar como as produções infantis da Nickelodeon foram construídas em cima de abusos, agressões, racismo e dinâmicas inapropriadas com os funcionários e artistas mirins.
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O primeiro predador sexual era assistente de produção
O segundo episódio revela que dois funcionários da emissora infantil foram presos no começo dos anos 2000. O primeiro, Jason Michael Handy, era assistente de produção do programa “The Amanda Show” e tinha como função orientar as crianças, tanto os atores fixos como recorrentes, seja no transporte até o set como também nas gravações.
A mãe de uma das vítimas deu um depoimento ao documentário e explicou que conheceu Jason quando sua filha de 11 anos fez uma participação em um dos episódios do programa estrelado por Amanda Bynes. Ela contou que o assistente de produção se aproximou da menina gradativamente, prometendo oportunidades na indústria, e que eles começaram a trocar e-mails sob supervisão, até que ele mandou uma foto nu. A família não soube como reagir na época e optou por não prestar queixa.
Meses depois, em abril de 2003, a polícia entrou em contato, pois uma outra vítima havia denunciado Jason. Investigações revelaram que ele tinha comportamento inadequado com diversas crianças e mais de 10.000 imagens de pornografia infantil foram encontradas em sua casa. Além disso, objetos pessoais de suas vítimas e diários pessoais nos quais assumia ser um predador sexual. Ele foi sentenciado a seis anos de prisão e nunca houve manifestação ou pedido de desculpas por parte da Nickelodeon.
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Dan Schneider fazia diferença entre os atores e curtia “coisas estranhas”
O documentário também seguiu acompanhando Dan Schneider e explorou sua relação com Amanda Bynes. Quando a atriz fez 16 anos e expressou seu desejo de fazer papeis mais adultos, ele criou a série “What I Like About You” em 2002 e se afastou da Nickelodeon, migrando para emissora The WB.
A relação de Amanda com os pais, por sua vez, estremeceu em determinado momento e ela pediu ajuda de Dan para fugir de casa. De acordo com “Quiet on Set”, a polícia precisou ser envolvida e pouco depois a atriz entrou na Justiça para tentar ser emancipada, ou seja, mesmo sendo menor de idade, ela queria os direitos e responsabilidades legais de um adulto.
A jovem foi ao tribunal apoiada por advogados contratados por Dan, mas perdeu e isso interferiu permanentemente na proximidade dos dois. Eventualmente, o criador deixou a série “What I Like About You”, sendo creditado como produtor apenas na abertura, e voltou para Nickelodeon a fim de liderar novas temporadas de “All That”.
De volta na Nick, Dan assume uma posição ainda mais poderosa do que da última vez como escritor e produtor executivo, tornando-se a pessoa mais influente no set. Ele tinha tanto poder econômico como emocional sobre as crianças, que o viam como um “Deus”. Ao documentário, o ator Bryan Nearne falou sobre suas experiências com o criador, dizendo que ele gostava de “coisas estranhas” e que era “mais próximos das crianças brancas”.
Certa vez, em “All That”, uma cena foi montada como se o personagem de Bryan, que era o único menino negro do elenco, fosse um traficante de drogas. Já em outro programa, o “Fear Factor”, o ator precisou passar manteiga de amendoim por todo corpo e ser lambido por vários cachorros. Para ele, foi um dos momentos mais humilhantes e desconfortáveis da sua vida.
A mãe de Bryan também participou do documentário e disse que sua presença no set passou a ser indesejada, pois ela não admitia o tratamento que o filho recebia. A retaliação veio pouco depois, quando o jovem não foi convidado para continuar em “All That”. Hoje ela agradece o rompimento, pois acredita que o filho foi poupado de consequências muitos piores.
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Introdução a Brian Peck
O segundo episódio termina com uma pincelada sobre a história de Brian Peck, outro funcionário da Nickelodeon preso por abuso sexual. Ele trabalhava muito perto de Dan e, além de atuar como produtor e técnico de diálogos, interpretava o “Pickle Boy” (“Menino Picles” em tradução livre) na série “All That”. O personagem era bem controverso, pois não tinha falas e apenas entregava picles para as pessoas, o que remetia muitas vezes a conotações sexuais que não condiziam com o programa infantil.
Ele foi detido em 2003 por 11 acusações de abuso infantil contra o ator Drake Bell, que falou pela primeira vez publicamente sobre o assunto ao documentário, e ficou 16 meses detido. Porém, voltou a trabalhar com crianças em 2005, na série “Zack & Cody: Gêmeos em ação”, antes da Disney ser pressionada a demiti-lo.
Quando a prisão veio a tona, os atores de “All That”, hoje adultos, contaram que a produção do programa, incluindo Dan, os levaram para uma sala sem a presença dos pais para saber se mais alguém também teria sido vítima de Brian. Todos negaram e, como se nada tivesse acontecido, voltaram a trabalhar.