No dia 26 de junho de 1946 nascia o cantor e compositor Gilberto Gil na cidade de Salvador, Bahia. Além de artista, ele já foi vereador em Salvador e ministro da Cultura, de 2003 a 2008 e deu uma entrevista reveladora ao jornal “O Povo”. Na publicação, o artista celebra o aniversário e também fala sobre a sua visão de futuro!
Qual a sua visão de mundo hoje? Como é que ela se reflete em sua alma?
Gilberto Gil – Quando eu era menino e ainda além, na juventude, e até bem pouco tempo de vida adulta e dita madura, eu ainda tinha muitas ilusões em relação ao mundo, ainda sonhava, idealizava um mundo que depois de muitas transformações chegaria a ser um mundo idílico, de sonho. Nem diria um mundo de perfeição, mas de muita harmonia, de muita capacidade de integração entre os homens. E eu, depois mesmo da maturidade, tendo que encarar os grandes problemas da vida e os próprios existenciais e os problemas do entorno, os sociais, as grandes dificuldades de estabelecer uma conciliação e uma concórdia entre todos os homens, eu fiquei… Não diria que eu tenha ficado pessimista e que eu tenha saído de um otimismo idealizado para um pessimismo. Mas, hoje em dia, eu tenho uma noção bem clara de que a imperfeição é a medida do homem. (risos).
Vamos falar do “Expresso 2222” que partia para além do ano 2000. A gente já ultrapassou quase 20% do século 21, já está vivendo para além do anos 2000. Ali existia uma projeção de futuro, que parecia distante, mas agora já estamos naquele futuro. Você tem uma projeção de futuro para médio e longo prazo?
Gilberto Gil – O futuro ficou urgente. Aos 77 anos de idade o futuro ficou muito próximo, porque muita coisa já virou passado na minha vida. Então o presente é esse inqualificável, o presente é aqui e agora, é imediato e não há o que dizer. Ele é a gente, é esse dado vital, o vitalismo profundo. Já o futuro é a projeção, o desenrolar e aí, aos 77 anos de idade, o futuro fica logo ali, daqui a pouco (risos). Além disso, fica em aberto, não é mais aquilo que você almeja, que você quer e constrói. Para mim não é mais construir o futuro. Só há agora me deslocar no presente para o encontro permanente com o futuro. O futuro é permanência para mim agora.