Nesta sexta-feira, 17 de maio, é celebrado o Dia Internacional de Luta contra a LGBTfobia. A data surgiu por intermédio da Organização das Nações Unidas (ONU), em virtude da exclusão da homossexualidade da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID) da Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1990. Entretanto, o Brasil segue como o país campeão em assassinatos de LGBTs e a situação se degrada para esta população nos últimos meses.
Nomes como Pabllo Vittar, Daniela Mercury, Gloria Groove, Liniker, Jaloo, Johnny Hooker e muitos outros hoje em dia, mais do que em qualquer época da história, nos mostram que existem diferentes realidades e pontos de vista por aí. Mas ao mesmo tempo em que a música pop feita no Brasil por artistas transexuais, bissexuais ou gays consegue extrapolar este nicho e ter sucesso nacional, vivemos uma onda repressora e conservadora nos aspectos políticos, sociais e econômicos.
“Se os governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff intensificaram políticas públicas para combater a violência contra a população LGBT, inclusive criando o Dia Nacional de Luta Contra a LGBTfobia, o atual governo liderado por Jair Bolsonaro vem retirando direitos, congelando investimentos sociais, aprofundando o desemprego, as desigualdades e as violências, acarretando um verdadeiro genocídio das pessoas trans e da juventude negra”, diz Andrey Lemos, presidente da União Nacional LGBT (UNA-LGBT).
É por isso que, em conscientização ao Dia Internacional de Luta contra a LGBTfobia, o POPline selecionou 5 clipes nacionais lançados este ano sobre o tema:
Congo Blue – “Simplesmente Assim“
Não por acaso, a banda formada por Pedro Palma (Vocal), Matheus Reis (Guitarra), Jeferson Elias (Guitarra) e Bruno Vila Nova (Baixo) lançou este clipe exatamente nesta sexta-feira. A música fala sobre aceitação, descoberta e liberdade em uma data que celebra a diversidade contra todos os tipos de preconceito. Para o clipe, pessoas reais levam mensagens de ódio que marcaram suas vidas e transformam em uma atitude de resistência e união, dando um novo significado de esperança. Em um pop rock animado, a canção diz: “Meu coração já não precisa mais dizer ‘não’. Nada vai me impedir de seguir minha direção”. A banda veste a bandeira para passar uma mensagem de otimismo e empatia.
“É uma maneira de dizer que tá tudo bem ser quem você é. Mostrar que as diversas formas de amor existem e que isso não é um problema. Essa é uma luta de todos nós! É a nossa forma de combater toda essa violência e ódio que vemos diariamente”, diz Pedro. A música também irá resultar em um mini documentário que vai dar voz a todos os participantes do clipe, para que eles possam se empoderar juntos e contar suas histórias. A previsão de estreia do documentário é no dia 28 de junho, Dia do Orgulho LGBTQI, data que é lembrada e celebrada mundialmente.
Davi Bandeira – “Seu Boy“
Amar com leveza, desejar com intensidade, se libertar dos padrões. Essas são as sensações que o recém-lançado clipe de Davi Bandeira transmite. “Seu Boy” é uma canção feita para fazer a imaginação viajar em boas lembranças de um amor já vivido um dia. “Sem arrudeios”, como diz Davi, ele quis revelar sem medo as suas reais intenções, com romantismo e atitude. A ideia do clipe foi produzir algo mais orgânico, sem muito roteiro.
“Eu quis transmitir coisas que eu gosto de fazer quando eu estou com alguém que amo, como sair, andar de moto, contemplar lugares e ficar dando uns amassos sem pensar muito na vida. Eu queria que o clipe mostrasse essa liberdade que, infelizmente, está ameaçada a cada dia que passa”, conta Davi. O clipe, que mostra um relacionamento entre dois homens, é um grito de liberdade para naturalizar o amor e a diversidade. “Eu quis mostrar que nós existimos e também amamos. Não somos objeto sexual nem um estereótipo, somos pessoas comuns”, completou o cantor.
Thalles Cabral – “Olivia“
Ser transgênero no Brasil é uma tarefa árdua. Segundo levantamento feito pela ONG Transgender Europe, o país lidera o ranking mundial de assassinatos de mulheres travestis, mulheres transexuais e homens trans. Falar sobre o assunto é o primeiro passo para contribuir com a visibilidade da causa na sociedade atual. “Olivia”, de Thalles Cabral, é protagonizado pela atriz, cantora, dançarina, compositora e mulher trans, Danna Lisboa. Com cenas fortes, o clipe questiona a vida espetacularizada e inferiorizada, assim como o cotidiano violento de quem sofre a transfobia na pele.
“Não falar sobre isso seria uma decisão muito fácil para mim, para evitar polêmica e outras questões. Mas não é como eu me relaciono com a arte. Sei dos meus privilégios e quero usar esse espaço pra falar de coisas importantes. Não é um problema que deve ser lidado apenas pelas pessoas trans, é um problema de todos nós enquanto cidadãos. Deveríamos nos sentir envergonhados de viver em uma sociedade onde isso acontece com tanta frequência e com números tão significativos. É inadmissível”, explica Thalles.
As Bahias E A Cozinha Mineira – “Das Estrelas“
“O romance universal e o amor são tratados sempre como um tema heteronormativo. As mulheres trans são sempre muito hiperssexualizadas”, aponta Raquel Virgínia, uma das vocalistas da banda As Bahias E A Cozinha Mineira, sobre o recente single “Das Estrelas”, faixa com um clima de blues sombrio e com um clipe estrelado pela atriz transexual Renata Carvalho, conhecida por ser a protagonista da polêmica montagem brasileira da peça “O Evangelho segundo Jesus, Rainha do céu”.
“No clipe, o cara mata a travesti. Se alguém tiver que morrer vai ser a gente. O nosso prazer, o gozo, a diversão está num limiar com a morte. Quando saio de casa, estou pensando que talvez eu morra hoje. Isso porque sou uma travesti privilegiada, mas, mesmo assim, me sinto desprotegida”, lamenta Raquel. “Essa música tem a ver com as minhas relações, os meus afetos. Ela fala para a humanidade: ‘você se perdeu’. A gente se perdeu dentro da nossa perspectiva de progresso, de ordem. O que é progresso quando o Brasil é o país que mais mata travestis no mundo?”, questiona a outra vocalista Assucena, que, assim como Raquel, é transexual.
Fiákra (ft. Paulo Amaro & Pocs Crew) – “Legado“
Encerrando a lista, um típico clipe afrontoso. Exatamente no dia 1º de janeiro, enquanto milhões de LGBTQ+ começavam o novo ano incertos sobre tantas especulações acerca do governo Bolsonaro e um possível futuro militar no país, o cantor Fiákra lançava o videoclipe para a faixa “Legado” e mandava o recado: “Se for pra nos intimar, chega preparado!”
Com muita ironia, o clipe faz uma metáfora entre uma sociedade que prega a diversidade e a aceitação e a intimidação que por muito tempo foi sofrida pela comunidade LGBTQ+, através das instituições militares (oi e tchau, Ditadura!). A música escrita pelo artista ao lado do rapper Paulo Amaro – que divide os vocais – ganhou um vídeo com participação do grupo Pocs Crew e aposta pesado em muita coreografia. O bafão rolou no Quartel General do Exército de Brasília, no Distrito Federal. “Com total consentimento dos soldados locais”, ponderou Fiákra. Lacrou!