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‘Não existe copiar uma fórmula, cada artista é único’, diz Kamilla Fialho

Kamilla Fialho, CEO da K2L Empresariamento Artísticoe alguns artistas do seu casting: Kevin o Chris, MC Rebecca e 3030

Com mais de 16 anos de experiência na Indústria Musical, Kamilla Fialho, CEO da K2L Empresariamento Artístico, acompanhou de perto as últimas grandes mudanças tanto do mercado musical, quanto do Funk em específico.

Durante sua trajetória, Kamilla visualizou tanto a ascensão da Furacão 2000, quanto o momento atual sob o ritmo 150bpm e o crescimento do digital.

Kamilla Fialho é uma das pioneiras no segmento de empresariamento artístico ao enxergar o Funk a partir de uma estrutura Pop.

Para isso, era necessário um olhar estratégico, identificar potenciais projetos e realizar o crossover da valorização do cachê artístico, como resultado de uma organização Pop.

Essa estratégia que era comum no mercado internacional, mas, não tão presente no mercado brasileiro no início da última década.

A mentalidade de organização Pop visualizada por Kamilla, abriu portas.

A partir disso, o mercado do Funk percebeu que o investimento em Coaching, Media Training, Aulas de Inglês, Stylist, Personal, Canto, Interpretação, Expressão Corporal, entre outros; são fundamentais para criar carreiras sólidas e, também, aumentar a base e o engajamento dos fãs.

O planejamento realizado por Kamilla, ao longo desses anos, reuniu inúmeros cases de sucesso, com artistas como MC Sapãoque faleceu precocemente no último ano Anitta, Naldo, Valesca Popozuda, Lexa, entre outros; e os atuais artistas do seu casting: Kevin o Chris, MC Rebecca, 3030, Gabily e Banda Fuze.

No último ano, a K2L assinou os cases dos atuais artistas do casting que possuem ótimos desempenhos, tanto no digital, quanto no offline; além de parcerias internacionais e presença em grandes eventos.

A empresa possui, atualmente, mais de 832.552.397 milhões de visualizações se somarmos as visualizações dos canais oficiais dos presentes artistas do casting e apenas no YouTube.

Além dos artistas, a K2L promove o serviço de Consultoria, que consiste em uma reunião presencial ou digital, com Kamilla, para um direcionamento ou planejamento de carreiras artísticas.

Analisando o último ano e as tendências do mercado para 2020, o Mundo da Música entrevistou Kamilla Fialho, que revelou a sua visão da indústria musical e os diferenciais de gestão organizacional estratégica que geram bons resultados.

Confira abaixo a entrevista na íntegra:

 

Mundo da Música MM – Em 2019, a K2L completou 16 anos. Durante esse período, em especial a última década, você vivenciou as mudanças do mercado da música. O que mudou em relação ao Funk?

 

Kamilla Fialho – O que aconteceu com o Funk foi que ele ficou cada vez mais Pop, e está cada vez mais Pop

Em 2019 foi uma virada de chave para o Funk Carioca, que de fato é quem dita as regras do mercado pop com uma pitada de Funk.

No mercado de São Paulo isso já estava acontecendo e com uma significância absurda nos streamings, mas, nenhum artista do Funk de São Paulo consegue migrar para o Pop de forma direta como os artistas do Rio de Janeiro conseguem.

O que mudou no último ano,  foi o retorno da liderança do Funk do Rio de Janeiro no mercado.

 

Foto: Desempenho do canal oficial do cantor Kevin o Chris, com crescimento diário, em média, de 10 mil seguidores. | Créditos: Charmetric/Mundo da Música

 

MM – Hoje o casting da K2L possui três artistas (Kevin, Rebecca e Gabily) e dois grupos (3030 e Fuze). Como funciona a dinâmica interna para organização das demandas desses artistas que possuem características tão únicas?

Quais as ferramentas utilizadas de gestão?

 

Kamilla Fialho – O formato que encontramos para conseguirmos administrar artistas que são únicos,  já que não existe “copiar uma fórmula” de um artista, mesmo ele sendo do mesmo segmento de um outro; o que nós fizemos foi dividir por núcleos internamente.

Desenhamos um outro formato para a equipe de Comercial, a partir de um modelo de gestão que influencia diretamente no impacto positivo da venda de shows.

Então, hoje nós temos uma Gerente e dois vendedores para gerenciar um núcleo. A depender de um artista que a gente distribua, tanto de hip-hop, rock, funk, que estão aqui dentro; um profissional fica com cada núcleo.

Em termos de mudanças aqui na K2L em 2019 foram mais para o departamento Comercial. E, principalmente, na relação entre o Artista e o Vendedor de Shows.

Antigamente, o setor Comercial não participava das reuniões de planejamento ou marketing do artista e hoje, participa através das organizações dos núcleos.

E essa estratégia tem dado muito certo!

Foto: Desempenho atual de Rebecca no Spotify, ela cresceu mais 999% na plataforma no último ano. | Créditos: Chartmetric/Mundo da Música

 

MM – Kevin e Rebecca possuíram destaque expressivo durante 2019 e são um dos principais nomes que estão reescrevendo a história do Funk no Brasil, aliados com o ritmo 150bpm.

Os cases de sucesso dos dois artistas possuem abrangência tanto no digital, quanto no offline. Como foi o planejamento desses artistas durante esse ano?

 

Kamilla Fialho – Kevin é um hitmaker. Ele é artista que produz, escreve e canta. Quando ele veio para a K2L no início do ano, ele não tinha imagem.

Ele tinha grandes hits lançados, mas, ele não tinha imagem atrelada aos hits. Então, todo o nosso foco no planejamento de 2019 foi: entregar o máximo de músicas atreladas à sua imagem.

Esse ano, foram lançadas 72 músicas. Dessas músicas, nós escolhíamos sempre os principais singles que seriam trabalhados com investimento maior, no Digital, Rádio e em divulgação em geral.

E a partir disso, traçamos o seu planejamento para trazer a imagem para a música, já que ele não tinha. Além de colocar o maior número de músicas possíveis na rua, já selecionando os principais singles com investimento maior de mídia.

 

 

No caso da Rebecca, a imagem dela foi trabalhada ao longo de 2018 para quê, em 2019, ela estivesse com a imagem em alta para que outros artistas quisessem gravar com ela.

E foi exatamente o que aconteceu este semestre: o hit com o 3030, que mesmo sendo um grupo que está no mesmo escritório, até então, ainda não havia sido cogitada a possibilidade de parceria.

 

 

Nós trabalhamos a imagem da Rebecca para que, até mesmo o 3030 quisesse trabalhar com ela.

Começou com a parceria com o 3030, depois veio o single “Combatchy” e agora, com o Kevin em “Repara, que era alguém que já tinha uma música.

Então, a nossa estratégia foi: usar a imagem da Rebecca para fortalecer a música do Kevin e utilizar a imagem do Kevin para fortalecer a música da Rebecca.

 

MM –  Além do Funk, com o 3030 a K2L também realizou um importante case de sucesso com um grupo que dialoga com o hip-hop, R&B, trap.

Seja com a participação no Lollapalooza, parcerias, e a própria gravação do audiovisual “Tropicalia”, você consegue perceber o crescimento da popularidade do segmento no Brasil?

 

Consigo, mas, a gente ainda depende muito de outros artistas para que o segmento seja fortalecido. A mesma coisa que eu passei com o Funk, quando tinha um artista que se destacava e executava o planejamento da maneira que era necessária.

E hoje, nós temos vários empresários grandes de Funk que administram carreira e tornam o segmento sólido, fazendo com que ele cresça a cada ano, como temos visto.

No caso, do Rap, eles sempre trabalharam muito com o Underground, eles sempre estiveram dentro do digital, mas, nunca buscaram gerenciá-lo.

O 3030 veio para a K2L com este objetivo: ampliar o público, fazer com que mais pessoas os conheçam, e  “sair” do streaming.

Porque o 3030 são muito fortes no streaming, mas, faltava também a imagem.

 

 
Foto: Desempenho do 3030 no Spotify superando mais de 1,4 milhões de ouvintes mensais. Créditos: Chartmetric/Mundo da Música
 

E então, nós montamos o planejamento 360, que incluía aulas de coaching, de expressão corporal, coisas que o Rap, antes, não assumia.

E o resultado tem sido positivo. Em 2020 os lançamentos do 3030 em parcerias, serão com artistas do tamanho deles ou maior do que eles.

 

MM – Antes da popularização das parcerias como elemento estratégico, você já falava há anos sobre o quanto o mercado poderia ser fortalecido se houvesse tanto parcerias, quanto novos artistas em destaque no mesmo segmento.

Para você, o mercado enfim compreendeu essas dinâmicas? E quais as parcerias que você acredita que podem ser exploradas, a exemplo do recente case de “Combatchy”?

 

Kamilla Fialho – No Funk, eu acredito que as pessoas já tem têm entendido que esse é o caminho. No Rap, ainda não. No Rap as pessoas ainda acham que lançar o próprio disco ou música eles vão cantar o sucesso mais rápido do que em parcerias.

Já o 3030, não. Eles já abriram a cabeça para isso. Eles participaram da gravação do DVD do Rennan da Penhan no último dia 15 de janeiro. E estarão com artistas do mainstream e do Pop.

Você não vê um DVD de Rap com artistas de outros segmentos. Eles ficam só dentro do Rap.

E isso que eu acho que atrapalha o crescimento do segmento.

 

 

MM – O relacionamento com contratantes e a manutenção de uma rede de contatos é um dos grandes desafios do mercado. Como manter uma boa logística e uma relação duradoura com esses players da indústria?

 

Kamilla Fialho – Com os contratantes, depende de um departamento comercial que entenda o mercado e quem são os nossos clientes.

Precisamos vender um show pra eles, não cobrar um cachê absurdo (…) o formato que a gente chegou foi que em uma série de eventos, os contratantes acompanham o planejamento do artista.

Eles entenderem que podem contar a partir daquela data, para frente, porque o futuro, a partir daquela data, já está planejado.

 

 

Tivemos a festa de aniversário da K2L, a festa de lançamento da Rebecca, a festa de lançamento do 3030 com o single “Mapa Astral”, todos esses nosso eventos foram para apresentar os nossos hits e que os nossos parceiros acompanhem a agenda de planejamento dos nossos artistas.

E esses foram alguns dos nossos diferenciais em 2019.

 

MM – Com o processo de autogestão na indústria, como você analisa os novos artistas e profissionais da música brasileira? Eles compreendem as dinâmicas de mercado?

Ainda há o desejo de pertencer às grandes gravadoras? O que você costuma ouvir em suas Consultorias?

 

Kamilla Fiallho – Ainda há o desejo de participar das grandes gravadoras. Na verdade, os artistas que estão começando eles ainda acreditam que somente a partir de uma gravadora que eles irão conseguir se posicionar no mercado, infelizmente.

Porque isso não é uma verdade absoluta do mercado.

Inclusive, os 5 artistas nossos aqui da K2L, nós trabalhamos no independente. Mas, eu acho que nos próximos anos a tendência é que você não vai precisar estar “amarrado” em nenhuma das coisas.

Ou seja, o artista não precisa ser 100% independente e nem estar 100% em uma gravadora.

No caso do Kevin, nós estamos distribuindo o DVD dele pela Som Livre, nós fechamos uma parceria com a gravadora para o DVD dele – o maior projeto dele até então – mas, ainda assim, ele continua lançando músicas de forma independente.

 

 

Então, basta ter um planejamento para isso, para um não prejudicar o outro.

Mas, sim, o que eu mais ouço é “o meu sonho é entrar em uma gravadora, se não eu não aconteço” e isso não existe!

Você alcança o sucesso como um artista independente, consegue se autogerir, mas, para isso, é necessário o planejamento e organização.

Desde como o artista está, até como ele precisa fazer para chegar até lá, onde ele deseja.

 

MM – O número de eventos sobre a indústria musical aumentaram nos últimos anos e inclusive, você esteve presente em várias rodas de conversa.

Esse eventos apontam atualizações do mercado que muda a cada instante. Como foi participar desses eventos e quais os principais insights que você teve?

 

Kamilla Fialho – Isso é mais uma prova que o mercado está entendendo que quanto mais houver esse intercâmbio de pessoas, entre profissionais da indústria, mais o mercado anda.

Quanto mais a gente troca, uma vez que hoje é tudo focado no digital e tudo muda muito rápido, então esses encontros de profissionais da indústria nesses eventos, só proporcionam a melhoria do mercado.

As pessoas se conhecem, criam network, pensam em parcerias, collabs, e isso é muito importante!

 

 

MM – Diante de um artista que está começando a sua carreira agora e apenas mantém sua presença nas Redes Sociais: quais as principais atitudes que ele precisa para iniciar um novo capítulo na sua trajetória?

 

Kamilla Fialho – O espaço dentro da Rede Social deve ser utilizado para trabalhar com a música: se artista canta, cantar; se o artista toca, tocar, fazer covers.

Usar a Rede Social para conseguir repertórios, se por acaso, ele não escreve. Para conseguir músicos, compositores, produtores musicais e entrar em contato com gravadoras.

As pessoas exergam, através das Redes Sociais, o potencial do artista. E é um caminho para conseguir divulgar a música e logo, conseguir alcançar o sucesso.

No offline, ele precisa de um produtor musical, de um diretor musical e um repertório. O sucesso de uma presença nas redes sociais, com música, parte de um repertório.

É investido um estudo pra saber se àquela música cabe com àquele personagem que está dentro da Rede Social.

Essa hora é necessário o contato com produtores musicais, diretores musicais, pessoas que possam dizer ao artista que o caminho que ele está buscando está dando certo ou não.

 

 

MM – Durante esse ano, vimos a força do Tiktok, dos Podcasts por meio do áudio, da alta qualidade audiovisual, estratégias específicas para lançamento de álbuns, entre outros.

O que você considera que serão fortes tendências para a indústria musical em 2020?

 

Kamilla Fialho – O que eu estou vendo hoje voltando à tona – nunca caiu, na verdade – são as coreografias.

As músicas com coreografia, e eu tenho sentido isso através da Rebecca, por exemplo; logo depois que nós lançamos e ela não possui um vídeo de coreografia, elas andam em uma velocidade menor das que possuem coreografia.

Então, estrategicamente para a Rebecca, em 2020, nós vamos focar muito em coreografias.

Além do trabalho de imagem, como fizemos com o Kevin. O que foi importante para posicionar o artista em um outro lugar e trazer um cartão de visitas que as pessoas ainda não possuam.

O que eu acho é que para os artistas de Funk que já estão consolidados, o álbum musical, o álbum visual (antigo DVD) são fortes tendências para 2020, além dos vídeos de coreografias.

 

Em tempo, estão abertas vagas para o Programa de Estágio da K2L.
 
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