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Música Latina: A força global que ainda encontra resistência no Brasil

Bad Bunny-Anitta-Shakira|Foto: Getty Images (Uso autorizado POPline/@shakira (Instagram)

Nos últimos anos, a música latina tem conquistado seu espaço na gigante e competitiva indústria musical. Atualmente, países como Colômbia, Argentina, Porto Rico, Cuba e outros estão começando a exportar artistas do reggaeton para o topo das paradas globais – que antes eram dominadas majoritariamente por norte-americanos. Mas você já se perguntou por que esses astros e estrelas dificilmente aparecem nos charts brasileiros?

Bad Bunny, Shakira, Anitta e J Balvin|Foto: Getty Images (Uso autorizado POPline)

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A indústria da música latina começou uma expansão meteórica nos últimos anos. Artistas como Bad Bunny, Shakira, Karol G, J Balvin, Maluma e mais chegaram ao topo de charts como o Spotify Global e dominaram até a Billboard Hot 100, com músicas cantadas totalmente em espanhol. Isso significa mais uma vitória para os cantores que seguem lutando pela visibilidade de seus respectivos países.

Na última sexta-feira (2), o Top 5 do Spotify Global apareceu apenas com músicas em espanhol. Artistas como Bad Bunny, Eslabon Armado e Bizarrap (que estreou “BZRP Music Sessions #55” direto em #1 no chart com nada menos que 7,9 milhões de plays nas últimas 24 horas) brilharam ao lado de Peso Pluma. Todos possuem mais de uma música no Top 200.

Recentemente, o mundo contemplou a chegada de “Bzrp Music Sessions, Vol. 53”, uma colaboração entre o produtor argentino Bizarrap e a cantora colombiana Shakira. A faixa que versa sobre o fim do casamento da diva com o astro do futebol Gerard Piqué, estreou no topo da plataforma global e quebrou recordes mundiais – entrando no famoso e cobiçado Guinness Book.

Além deles, Bad Bunny debutou recentemente a inédita “Where She Goes” em #1 no Spotify Global e em diversos outros países. Vale destacar que Anitta também entrou no livro dos recordes ao se tornar a primeira brasileira a chegar ao topo da plataforma com o smash hit “Envolver” – sendo um dos poucos reggaetons a entrar em charts brasileiros.

No entanto, outros grandes artistas que estão dominando as paradas ao redor do mundo e desbancando músicas pop cantadas em inglês e rompendo o poderoso mainstream, não chegam nem perto do Top 200 do chart brasileiro. Mas por que?

O Brasil é o único país da América que tem o português como língua nativa e oficial, sendo assim, a maneira com que os brasileiros consomem a música é diferente. Com essa representatividade, os artistas nacionais buscam explorar a grande diversidade de ritmos locais como o funk e sertanejo – os dois estilos mais consumidos por aqui. Mas vale dizer que, ultimamente, o trap também tem conquistado bastante destaque e figura nas primeiras posições.

Artistas como Anitta – que alcançaram ascensão global, assim como cantores de países que exportam o reggaeton – tentam levar os ritmos brasileiros ao mundo. Vale destacar que a voz de “Envolver” foi uma das pioneiras a explorar o espanhol e o estilo latino em solo brasileiro, tendo feito parcerias com J Balvin e Maluma logo no início de sua carreira.

Sendo a primeira brasileira com um contrato multiterritorial, com uma gravadora explorando seus lançamentos em todos os continentes, a nova cartada da poderosa deverá ser grandiosa. A carioca prometeu um álbum focado na cultura brasileira! Decidida em romper barreiras, a cantora tem gravado um extenso projeto visual pelas favelas do Rio de Janeiro.

Recém-contratada pela Republic Records – gravadora que representa vários artistas enormes na indústria, como Taylor Swift, Drake, Ariana Grande, Post Malone e The Weeknd -, em solo nacional e nos países latinos ela é representada pela Universal Music.

Será que o espanhol tem espaço no Brasil?

Mesmo com todo esse avanço e parcerias, os charts de plataformas brasileiras como o Spotify, são dominados majoritariamente por artistas como Ana Castela, Marília Mendonça, Matuê, KayBlack, Israel e Rodolffo e muitos outros. Essa expansão do reggaeton ao redor do mundo ainda não conseguiu bater de frente com os estilos nacionais.

Outro ponto a ser observado é a falta de artistas gigantes e que representam o estilo em festivais e turnês pelo Brasil. Isso mostra que o mercado nacional ainda não consome o ritmo a ponto de gerar demanda, para que os cantores possam colocar o país no itinerário de suas agendas e transportar estruturas para cá. Foram poucos os que vieram: J Balvin e TINI – ano passado – e Rauw Alejandro que chegará com a “Saturno World Tour” em novembro de 2023.

Com o Brasil sendo um dos poucos países que consome majoritariamente a própria música, a Billboard fez um levantamento e afirmou que o mercado brasileiro de música gravada é o 11º maior do mundo e, se não fossem os efeitos da pandemia, provavelmente seria ainda maior (em 2017, alcançou o nono lugar).

Por seis anos consecutivos cresceu 32%, só em 2021, (segundo o Pro-Música Brasil, a associação dos produtores fonográficos do país e afiliada ao IPFI) para  R$ 2,11 bilhões de reais (US$ 451 milhões). O streaming, que representa 85.6% do mercado musical brasileiro, cresceu 34.6% em 2021 para R$ 1,8 bilhões de reais (US$386 milhões).

De acordo com dados enviados ao POPline pelo Spotify, a audição de reggaeton cresceu 147% de 2018 a 2020, e a audição de trap latino cresceu 187% no mesmo período, mas nos últimos dois anos esse destaque foi para a música mexicana – também cantada em espanhol, crescendo em 56% ao ano.

Um grande exemplo é o Top 50 global da plataforma que, atualmente, possui nada menos que nove canções com estilos regionais do México, sendo que três estão no Top 5: “BZRP Music Sessions #55” (Bizarrap e Peso Pluma) em #1; “Ella Baila Sola (Eslabon Armado e Peso Pluma) em #2; “un x100to” (Grupo Frontera e Bad Bunny) em #5. Ainda segundo a plataforma, a voz de “Un Verano Sin Ti” foi o responsável pelo avanço e impacto do estilo em todo o mundo.

O artista global gerou mais de 18,5 bilhões de streams em 2022, conquistando o título de melhor artista do Spotify pelo terceiro ano consecutivo – o primeiro a reivindicar tal feito. Mas esse avanço ainda não chegou com força no Brasil. A plataforma revelou ao POPline que streams em música latina de cantores não brasileiros no país cresceu somente 12% no último ano.

Ainda segundo o Spotify, pessoas com idade entre 18 e 24 anos são as que mais ouvem o estilo internacional por aqui, sendo que São Paulo é a cidade que mais consome a música latina não brasileira no país. Mesmo com o baixo avanço, a plataforma também revelou o ranking com os artistas latinos (não brasileiros) mais ouvidos no Brasil em 2022: Shakira, Mariah Angeliq e Bad Bunny, respectivamente.

Importante ressaltar que as colaborações têm se tornado mais frequentes entre artistas brasileiros e latinos como Anitta – que já fez parcerias com Cardi B, Maluma, J Balvin e muitos outros; e Ludmilla – que recentemente fez uma parceria de sucesso com Emilia em “No Se Ve”, são importantes para naturalizar uma certa tendência à padronização musical dos estilos.

Esse intercâmbio entre os países pode beneficiar tanto o ritmos nacionais, como o funk, a chegar em muitos outros territórios com mais força, bem como fazer com que o reggaeton comece a se instalar no mercado brasileiro. O que poderia ser interpretado como limitador – como a língua e a sonoridade – pode beneficiar a expansão de culturas e fazê-las chegarem a patamares ainda maiores. Como diz o velho ditado: “A união faz a força“.

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