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Quem dita a música do Carnaval é o povo? Daniela Mercury e Psirico confirmam!

Psirico é vencedor de 4 Troféus Bahia Folia de música do Carnaval; Daniela coleciona 2 vitórias

Daniela Mercury e Psirico são donos de algumas das músicas mais atemporais da folia baiana. Fotos: Célia Santos; Liko Santos

É unânime: todo artista quer ter ‘A’ música do Carnaval, aquela que conquista as massas, que está na ponta da língua do povo e que é lembrada para a posteridade. Mas, em Salvador, a própria cidade tem um modus operandi para intensificar a disputa pela música mais tocada da folia. Psirico, vencedor 4x do Troféu Bahia Folia de música do Carnaval, e Daniela Mercury, 2x campeã, falaram ao POPline sobre como escolhem suas apostas para a festividade, o que precisa ter uma música de sucesso para a folia, planejamento e mais!

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“Quem escolhe a música do Carnaval é o povo”, concordam Daniela e Márcio Victor. Foto: Igor Santos

Culturalmente, eleger a música do Carnaval sempre foi muito forte na capital baiana, que tem o maior Carnaval de rua do planeta. E, além de os próprios foliões intensificaram a disputa por meio do boca-a-boca (e, hoje, das redes sociais), isso é formalizado através do Troféu Bahia Folia. Desde 1994, a Rede Bahia promove uma espécie de premiação que elege a música mais tocada e comentada da festividade.

Daniela, que celebra seus 40 anos de carreira, arrematou o título em 1997 com “Rapunzel” e, mais à frente, em 2004, com “Maimbê Dandá”. Psirico, por sua vez, é dono de 4 troféus. Em 2008, ele levou a melhor com “Toda Boa”. Venceu por dois anos consecutivos no biênio 2014-2015 com “Lepo Lepo” e “Tem Xenhenhem”. E, em 2018, venceu com o hit “Elas Gostam”.

Ambos os artistas concordam que planejamento a longo prazo é essencial, mas que quem escolhe mesmo a música que vai vingar para a folia é o povo. É preciso estar atento ao que o público quer, entender os sinais e reagir pautado nisso, traçando-se, a partir daí, novas estratégias de divulgação.

“De acordo com a data, a gente vai sentindo quando é que deve lançar a música de Carnaval […]. A gente vai sentindo como as coisas acontecem durante o ano, como vão os projetos que a gente tá fazendo, como tá o espírito do povo brasileiro […]. Às vezes a música vai se fortalecendo nos anos seguintes. Às vezes até elas ganham o prêmio do Carnaval num ano, e no outro ano ela é muito mais conhecida. No terceiro ano mais ainda. Aconteceu isso com muitas músicas minhas”, analisou Daniela.

O importante é deixar o trabalho fluir e não se prender a um planejamento inicial que pode não estar surtindo efeito, afinal, tudo pode acontecer. Psirico sentiu esse movimento com o projeto “Psi Universal (Ao Vivo)”, lançado em dezembro de 2022.

Ele e sua equipe haviam escolhido promover “Desce Toma Toma” como música potencial para o Carnaval, no entanto, começaram a perceber que a mobilização havia se dado em torno de uma outra faixa, “Sentadão”. Aí, foi necessário recalcular a rota de modo a contemplar o que o povo está demandando. “O povo escolheu, não tem jeito… A voz do povo é a voz de Deus”, contou Márcio Victor, vocalista do Psirico.

Para Márcio Victor, a própria agenda da cidade de Salvador já possibilita com que um artista veja nitidamente se sua aposta está funcionando ou não. Ele diz que o cronograma de grandes eventos, inclusive os pré-carnavalescos, proporcionam esse entendimento. Janeiro é o mês que ele começa a se preparar para comandar o trio elétrico com o “ENSAIOS DO PSI”, um ótimo termômetro para o Carnaval.

“Eu sinto que o povo escolheu, e daí a música cresce. Obviamente, ela já puxa a venda de ingressos, todo mundo quer ir no show que a música toca […]. Ver como é a reação do povo, a emoção do povo cantando. E no ‘Ensaios’ a gente sente isso, no Festival de Verão também é um passo muito importante porque tem uma aglomeração de turistas do Brasil inteiro, todo mundo cantando a música junto, também é um termômetro pra gente. No Festival da Virada, todo mundo cantando a música, é um start pra você saber que vai chegar no Carnaval com força”, contou Psirico, que acaba de lançar a autointitulada “Música do Carnaval”, mais uma aposta para a festa.

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Apesar de entrar na ‘brincadeira’ da competição, o compromisso de Daniela como uma das artistas precursoras do Carnaval de rua de Salvador como ele se tornou conhecido é fazer obras que atravessem gerações. Ela quer investir em músicas que sejam lembradas por muitos outros Carnavais.

“Eu faço obras pra eternidade, pra todos os Carnavais. Me divirto com essa brincadeira de competir e de divulgar pro Carnaval porque é sempre um impulso pra que as músicas fiquem conhecidas, de chamar atenção, quase como uma gincana […]. Mas o que importa mesmo pra mim é que o trabalho, as canções fiquem queridas e consigam mostrar o trabalho que é predestinado para o Carnaval durante todos os Carnavais”, expôs a cantora.

Foto: Célia Santos

Daniela diz que é possível saber quando uma música vai vingar na folia ou não, e já ter esse feeling no próprio processo de produção da faixa. “Normalmente são as que são boas pra dançar, ou que são engraçadas. As minhas, quando eu começo a produzir o arranjo, eu já sei se elas vão funcionar ou não”, conta. A cantora revela, ainda, que para ela é fundamental dinamizar seu repertório com todo tipo de música: mais dançantes, mais lentas, mais divertidas.

“Eu acho que a música baiana está num momento espetacular, sabia? Nós consolidamos uma produção artística, um núcleo de geração de talentos, um núcleo profissional com o axé, que vieram aí com várias derivações […]. O Carnaval virou esse grande centro, em todos os lugares do Brasil, as micaretas, os eventos, as festas fechadas. É lógico que isso vai gerar muitas derivações de muitas novidades”, reflete a artista sobre a potência da música oriunda da Bahia na cena atual.

Como exemplos de novos nomes que estão fazendo barulho na capital baiana, Psirico destaca Baco Exu do Blues, ÀTTØØXXÁ, BaianaSystem, Majur, Oh Polêmico e Rachel Reis. “Eu acredito que o axé vai ser protagonista de novo no Carnaval e no verão, e você vê que o ritmo do axé está presente na música de Flora Matos, ‘Piloto’, na música ‘Ombrin’, de Marina Sena. Aquilo é música da Bahia, tem tempero baiano, e eu tenho certeza que essa turma que está chegando agora está representando com muito orgulho o que a gente vem escrevendo já há anos”, ressalta Márcio Victor.