MC Cabelinho compareceu na Cidade da Polícia, na Zona Norte no Rio, nesta quinta-feira, para responder ao inquérito policial instaurado em torno da música “Migué”, que o funkeiro compôs em parceria com MC Maneirinho. A canção foi lançada em março deste ano e os dois cantores estão sendo acusados de apologia ao crime.
A pauta foi aberta pelo deputado estadual Rodrigo Amorim, do PSL, visa investigar os dois artistas por suposta “apologia ao consumo de drogas” e “quiçá em associação para o tráfico”. A equipe jurídica do funkeiro já entrou com a defesa no caso.
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Em nota, Cabelinho, que também fez uma participação na novela “Amor de Mãe”, da Globo, criticou a acusação, ressaltando que sua arte reflete à vivencia do povo das periferias.
“Vocês querem que eu cante sobre o que? Em muitas das minhas letras falo mesmo o que eu vi e do rolê violento da vida de todo morador de comunidade. E podem ter certeza que, até onde puder, eu vou continuar fazendo a minha música assim. Prenderam Renan da Penha e querem me prender. Vão querer prender todo o favelado que consegue espaço e reconhecimento na sociedade”.
Cabelinho apagou todas as fotos do seu Instagram, deixando apenas uma. Em que mostra ele na porta da Cidade da Polícia, com um longo desabafo na legenda. “Não vão me calar! É impressionante como preto favelado quando faz sucesso pra essa gente só pode ser bandido. Nasci em comunidade, cresci em comunidade, o tráfico, a morte e o medo me cercam desde que eu era moleque. O estado nunca me deu nada, pelo contrário, patrocina a décadas o genocídio do meu povo, da onde eu vim, existe uma “Agatha” e um “João Pedro” não noticiados por semana”, aponta ele, fazendo referência aos dois menores, vítimas de bala perdidas em operações policiais.
MC Cabelinho. Foto: Divulgação
Indginado ele segue criticando o descaso do poder público com o povo das favelas. “O caminho é fácil, educação, oportunidade, emprego, dignidade, a maioria das pessoas não vira bandido porque quer, virar bandido não é carreira, é assinar sentença de morte, vira bandido, em sua maioria, quem não aguenta mais ver a mãe sendo humilhada pela patroa, o filho passando fome, o pai morrendo na fila do sus, poucos viram bandido achando que vão ficar ricos, quem fica rico de verdade com o tráfico ta mais perto de brasília e das pessoas que denunciam favelados como eu do que da favela, pode ter certeza”, finaliza.
MC Maneirinho também é intimado
Parceiro de Cabelinho no hit, MC Maneirinho usou sua conta no Instagram, também nesta quinta-feira, para fazer um apelo aos fãs e artistas. “Playboy interpretando o que acontece na favela concorre ao Oscar, e nós aqui sofre [sic] essa covardia. Por favor, nos ajudem!”, pede o funkeiro.
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O artista foi intimado a comparecer a Delegacia de Combate às Drogas no Rio de Janeiro. E em caso de não comparecimento, ele poderá ser acusado pelo crime de desobediência. “É com muita tristeza no coração que venho informar todos meus fãs e amigos de profissão que fui surpreendido com uma intimação. Estou sendo acusado de apologia ao crime. Peço que todos meus seguidores funkeiros e amigos da música que me ajudem nessa. Não posso ver vítima dessa covardia que estão querendo fazer comigo e outros funkeiros”, desabafou ele na legenda de uma foto em que aparece mostrando o papel da intimação.
Artistas e famosos se manifestaram em apoio ao funkeiro
Após a publicação, as mensagens de apoio a MC Maneirinho começaram a pipocar nas redes sociais. “Que vergonha do nosso país, viu? E olha como estamos parados no tempo!!! Passei por isso com Sapão há 10 anos, e mesmo com crescimento ABSURDO do funk nesse período as coisas continuam da mesma forma! Isso é uma vergonha ! #respeitemofunk”, escreveu a empresária Kamilla Fialho.
“Os anos passam, o funk segue crescendo, eles tentam nos calar e jamais vão conseguir. Vai tranquilo de cabeça erguida estamos com você”, disse o produtor Jonathan Costa. “Nunca vão nos parar, meu mano! Vai dar tudo certo, estamos aqui à disposição”, escreveu PK. “Tô contigo, amigo. Te amo #mcnaoebandido”, apoiou MC Rebecca.