Com uma elegância ínsita e uma inteligência insólita, Mary J. Blige apareceu em uma chamada via zoom no dia 17 junho, diretamente da sala de sua casa, para um rápido bate-papo sobre o documentário “Mary J. Blige: My Life”, que estreou na Amazon Prime na última sexta-feira (25).
O filme faz parte de uma série de projetos que celebraram os 25 anos do segundo álbum de estúdio da lenda viva do R&B. Dirigido por Vanessa Roth, ganhadora do oscar, a produção leva a senhorita Blige aos momentos que emolduraram a gravação do álbum que ela garante ser o mais importante de sua carreira.
“Há dois anos, nós estamos celebrando o aniversário de 25 anos do álbum “My Life”. Eu estava celebrando em turnê, a revista TIMES estava celebrando, a Billboard, todos… O mundo estava celebrando o aniversário, quando eu disse ‘esse é o momento de fazer um documentário’, algo que eu sempre pensei sobre e esse foi o momento perfeito, durante o aniversário”, explicou Blige.
O egrégio “My Life” é também o disco mais pessoal da rainha do hip-hop soul e reflete a sua trajetória tortuosa e magnifica até o estrelato, assim como as crises pelas quais ela passou no momento em que o preparava. Relacionamento amoroso conturbado, ascensão meteórica, fama estratosférica aliada a uma escalada social repentina e ao fato de ser uma mulher na cena e na indústria da música, aspecto ainda mais raro nos anos 90. Tudo isso faz com que “healing” (“cura”, em português) seja uma das palavras mais ditas ao longo do filme.
Se no disco ela olha com afeto para a menina que foi na infância e adolescência, no filme ela faz o mesmo com a jovem estrela do hip-hop. “O que me fez tão vulnerável foi tudo o que eu passei, eu queria que as pessoas soubessem de onde toda essa dor veio, que está presente no álbum ‘My Life’. Não teria documentário se não tivesse luta, se não tivesse dor. Foi isso que me fez dizer que era a hora”, disse Mary J. Blige.
O documentário é feito sob medida não apenas para os fãs fieis da cantora, que devem se emocionar a cada minuto, como também para qualquer garota negra que sonhe com uma carreira similar a de Mary J. “Eu espero que isso as inspirem a não desistir, não desistir de si mesmas. Acreditem em vocês, acreditem que vocês são talentosas, acreditem que vocês podem fazer coisas mesmo quando as pessoas dizem que vocês não podem fazer”, disse a cantora ao POPline.
Para ilustrar a infância e as memórias de Mary, a diretora mesclou depoimentos, cenas gravadas durante os shows da turnê de celebração, com ilustrações animadas que emocionam quando exibidas ao som das faixas do álbum em questão. “Eu amo as animações. Elas nos possibilitam dar essa ideia de sonho, essas memórias dela quando criança, a essência de ser uma criança porque o filme é sobre a intimidade da jovem Mary e como ela cresceu e se tornou quem ela é hoje.”, explicou a diretora Vanessa Roth.
As memórias citadas pela documentarista formam a parte mais delicada do filme, principalmente aquelas que revisitam a infância da artista em um dos lugares mais pobres de Nova Iorque, onde a pequena Mary foi exposta a todos os tipos de violência. Mary admite que foi doloroso trazer o passado à tona depois de 25 anos, mas ela também observa que essas foram as cenas que lhe causaram maior impacto. “As cenas em que eu tenho que falar sobre o que aconteceu comigo quando eu tinha cinco anos, falando da minha adolescência adolescente, com a minha mãe solteira tentando nos levantar. Todas aquelas coisas pelas quais passamos são impactantes para mim”, ressaltou.
Ver quem Mary J Blige se tornou depois de tantos percalços vai de encontro ao recado que ela deixa às meninas que possam estar passando por um momento parecido: “Não importa a dor pela qual você esteja passando, está tudo bem. As coisas vão melhorar, as coisas melhoram. E você tem que querer que elas melhorem”, explicou Mary.
Encontro emocionante
A artista também celebra a presença da lendária Anita Baker em seu documentário, algo que visivelmente a emociona. Foi com a música “Caught Up in the Rapture”, da veterana, que Blige conseguiu o seu primeiro contrato para gravar o álbum de estreia, “What’s the 441?”. O filme explica como a gravação de um cover ‘caseiro’ de Baker, feito em uma cabine de shopping, chegou as mãos dos executivos das gravadoras. Quando perguntada sobre a cena mais emocionante do filme, ela responde:
“A parte com Anita Baker. Nossa performance foi bem tocante para mim porque se não fosse por Anita Baker eu não teria um contrato de gravação, eu não estaria aqui agora. Com essa canção, eu consegui um contrato, com Anita Baker, então me emocionou muito ver essa parte”.
Um filme para os fãs
Em cenas do documentário, Mary J agradece aos seus fãs que permaneceram com ela, especialmente aqueles que a conheceram no inicio da carreira. Embora sempre retraída quando recebe elogios, Mary J entende o seu legado: “Eu acho que toda a minha carreira tem sido uma sessão de terapia para muitas pessoas. Ouvir os depoimentos e testemunhos dos fãs é incrível, escutar como a minha música fez a diferença na vida deles é enaltecedor”, completou a senhorita Blige.