Ainda que uma sucessão de acontecimentos trágicos afetem seriamente a vida dos brasileiros, Marcelo Falcão se mantém firme no propósito de levar sua mensagem de positividade ao público que o acompanha há pelos menos duas décadas. Espiritualizado, o cantor acredita que a melhor forma de reagir às bad vibes é fazendo música. Nesta sexta-feira (15), o ex-vocalista d’O Rappa lançou VIVER (mais leve que o ar), seu primeiro álbum solo. “As pessoas ao meu redor estavam muito pesadas, tudo mundo passando uma braba. Eu notava isso e era necessário que desse uma desabafada. Como eu sou muito procurado para um abraço, para um papo bom, se eu não estou com uma energia bacana prefiro até ficar em casa. Tudo no meu mundo está relacionado a viver”, explica Falcão, que passou por um período complicado com uma tia que travou uma batalha contra o câncer.
Superando as dificuldades familiares e prestes a se tornar pai pela segunda vez, Falcão colocou na praça um disco que trilha rotas por roots, rock, reggae, pop, hip hop, mar e ar em receitas e vibes pessoais e intransferíveis. Produzido em parceria com Felipe Rodarte, VIVER (mais leve que o ar) vem recheado de participações: o cantor de reggae jamaicano Cedric Myton, do maestro e arranjador Arthur Verocai e um time de músicos de primeira, como Bino (Cidade Negra) no baixo, Marcos Suzano na percussão, João Fera (Paralamas do Sucesso) e Hélio Ferinha nos teclados, DJ Negralha nos scratches e efeitos, Felipe Boquinha na bateria, Fernando Magalhães (Barão Vermelho) na guitarra, além do próprio Marcelo Falcão pilotando guitarra, violão e teclado, entre outros convidados.
A morte de Tom Capone em 2004 e as recentes perdas do antigo companheiro de banda Marcelo Yuka e do amigo Ricardo Boechat também foram tema desta entrevista ao POPline. A relação com artistas jovens como a cantora IZA, com quem gravou o hit “Pesadão”, parece energizar um carioca de 45 anos que faz questão de lembrar sempre de suas raízes suburbanas. “Gravar este disco é uma maneira de dizer para as pessoas que o meu mundo está muito mais leve agora. Hora de dar uma volta por cima, porque a vida é um sopro.”
POPline – Quando comecei a pautar esta entrevista, eu pensava no título do seu álbum Viver e era inevitável lembrar de “Como Nossos Pais”, do Belchior. Então começo te perguntando: viver é melhor que sonhar?
Marcelo Falcão – Com certeza. Foi por um dia ter sonhado muito que meu mundo de música acontecesse e vivendo ele que eu fiz tudo acontecer. Tenho maior orgulho de poder falar de uma história mesmo que, infelizmente, tenha tido muitas perdas nesses últimos anos. Quase perdi minha tia mais nova, irmã da minha mãe, que está há cinco anos na luta contra aquela doença que começa com “c”. Mas graças a Deus, aos pouquinhos essa energia que a gente imprime na família tem dado resultado. Há duas semanas recebemos uma notícia positiva sobre o tratamento dela. Lá trás eu tinha feito a música “Anjos (Pra Quem Tem Fé)” dedicada à ela. E foi desta mesma fornada de canções que vieram algumas deste projeto. Meu disco começa como se fosse uma continuidade de “Anjos”, uma história de vida suprema. Eu dou muito valor à vida e gostaria que as pessoas deixassem de lado as tristezas e acreditassem que é na vida que há mudança.
Este projeto começou a partir de um arquivo com mais de 600 músicas. Caiu pra 47 e chegou nas 13 selecionadas pro disco. Você seguiu algum critério específico?
Eu venho de uma escola onde as pessoas tendem ser malandras pra não se atrapalharem. Vou explicar. Eu gosto de fazer muita coisa pra depois poder escolher. Nesses últimos cinco anos a cabeça aqui esteve fervendo. Sempre tive em mente que essa é uma história que eu ainda tô contando. Ela começa com essas 13 músicas, mas as que ficaram de fora já estão no gatilho pro momento que eu voltar pro estúdio poder terminar o que seria a continuidade do que acredito que é o Viver. Sempre sonhei com a ideia de poder fazer três discos e quando me dei conta, já tinha mais de 600 músicas. O Felipe [Rodarte, produtor do disco] é meu parceiro e me ajudou a organizar as ideias. Outra parceirona foi a Constança [Scofield, ex-mulher do falecido produtor Tom Capone], que me deixou ficar quase um ano na Toca do Bandido [estúdio onde o álbum Viver foi gravado] depois que a turnê d’O Rappa acabou. Consegui baixar esses 600 arquivos e pude me despreocupar de andar com os celulares. Eram três iPhones de 128Gb e quatro iPads sem nenhum aplicativo extra. Eram repletos de música. Contei também com a participação de várias pessoas que me deram a tranquilidade de banda pra poder atingir esse objetivo.
Dessas músicas que estão no disco, você consegue lembrar qual é a mais antiga?
A música que eu carregava comigo nesses últimos cinco anos com muito amor, que me emocionava de verdade, era “Quando Você Olhar Pra Mim”. Mas o disco começa com “Viver”, a partir de um e-mail que meu pai mandou. Ele é muito espirituoso, joga tênis de mesa, o cara que dá aula pra ele é o número 1 do Rio de Janeiro. Ele é um cara que ama a vida, tem experiência de faculdades, mestrado e tal. Admiro muito meu pai. Ele é negro e minha mãe é branca. Então tive oportunidade de conviver e olhar para os dois lados a vida toda, sempre com muito respeito.
Tive a impressão de que as letras versam mais sobre as relações interpessoais, diferente do universo mais politizado d’O Rappa. É isso mesmo?
A ideia é que eu fale um pouco de tudo que sinto. Então, quando falo “Eu Quero Ver o Mar”, diz muito sobre o que foi meu ato de viver a vida. Não levanto bandeira política alguma porque não vi nada mudar ao meu redor com política. Faço meus trabalhos sociais, assim como O Rappa fazia, mas não sinto a menor necessidade de divulgar isso. Tenho vontade de estar lá com as pessoas e continuar sendo esse pólo de energia positiva que acredita nas pessoas ao redor. Não queria que o disco fosse só reggae, ou só rock, trap ou soul. Queria ter uma big band tocando comigo. E essa galera vai cair na estrada junto. E eu queria que as pessoas parassem de brigar e de desperdiçar energia enquanto muita coisa está acontecendo. Se formos mais unidos e termos certeza do que queremos, a gente há de chegar num lugar que seja bacana pra todo mundo. Mas enquanto formos desunidos, brigando por lados, a gente dá brecha pra que outras pessoas se aproveitem disso. Trago comigo esse lado social. Eu venho do subúrbio do Rio, sou do Engenho Novo. Quando vou visitar meus parentes que ainda moram lá, fico triste por saber que um dia prometeram que as coisas melhorariam por ali. As coisas seguem acontecendo por aí, os hospitais estão sucateados, tiveram as chuvas no Rio… Vai dizer que as autoridades não sabiam disso? Todo mundo sabia, mas não quero levantar bandeira de ninguém, assim como O Rappa também nunca levantou. Sou muito agradecido a tudo que vivi com a banda. Só eu ainda não tinha lançado um disco solo. E o trabalho dos caras também é diferente do que fazíamos juntos n’O Rappa, que é o nosso ponto de partida, de vida, de tudo. Mas todo mundo desejava fazer suas coisas mais pessoais. Estou muito feliz por conseguir fazer isso também.
E é um álbum bastante familiar. Algumas frases de seu pai serviram de inspiração pra faixa-título. Sua mãe e suas tias fazem o coral em “Senhor Fazei de Mim”. E ainda tem o Tom [segundo filho do cantor] vindo por aí. Como esses laços afetivos impactaram nas letras e na sonoridade do disco?
Eu sou enraizado nesses laços afetivos. Essa energia que carrego pra subir no palco ou gravar um disco vem da positividade que carrego da minha família. Eu sou um grande curioso e estudioso de várias religiões. Mais do que tudo, tenho consciência de que se não tivesse essa energia em casa, não estaria recebendo essas respostas positivas sobre minha tia, por exemplo. Assim penso eu. E foi assim no disco. Acolhi minha nova família e eu fui muito feliz nisso porque, nesse momento, tudo da minha vida está relacionado a quem quer viver mais e melhor. Minha tia mudou a alimentação, fez quimioterapia e tudo mais. Mas o que ela queria a partir dali? Então ela se agarrou ao lance da vida. Ela é o meu exemplo, assim como foi o Yuka um dia. Enquanto muitos desistem, eu me mantenho persistente. Então minha família me deu muita estrutura pra estar forte nesse novo momento. Fiz parte de uma das grandes bandas dos anos 90 e hoje estou recomeçando minha história sozinho.
Você se considera religioso ou espiritualizado?
Fui batizado na igreja católica, mas me sinto mais espiritualizado. Sou curioso com tudo. Tem o “Kebra Nagast” (livro que conta a história lendária da origem da Dinastia salomônica dos Imperadores da Etiópia), que é a visão da Bíblia pelos rastafáris. Muitos amigos meus que viveram esse momento que minha tia está vivendo ficavam descrentes e eu tentava animá-los. O mundo já anda tão difícil, tentava fazê-los acreditar em alguma coisa. Mas claro, respeitando também quem era ateu. Mas por experiência própria, vi que esses meus amigos que não acreditavam em nada sofrendo muito mais por não ter no que acreditar, levando tudo a ferro e fogo. Mas entre o ferro e o fogo tem uma série de palavrinhas de elevações, coisas que te levem a um mundo que não seja tão difícil quanto esse que está se mostrando. Conheci o Rodolfo, que foi vocalista dos Raimundos. Uma época eu sonhava em ter um pouquinho da quantidade de shows que os caras faziam. Algum tempo depois, o Rodolfo vira pra mim e diz que decidiu viver outro mundo. Foi a escolha dele e eu respeito muito isso. Tanto que gravei no primeiro disco dele. Não tenho preconceito com ninguém, com nenhuma religião, com nenhum tipo de som. Sou capaz de transitar em qualquer tipo de assunto, muito mais do que as pessoas imaginam. Mas sempre com a história da good vibes, cara. Não carrego isso como logotipo merchan, de uma galera que eu vejo que quer se fazer de bonzinho, de descolado do momento. Isso vem de dentro da pessoa. Eu continuo sendo fiel à criação que tive e que me deu escolhas pra buscar qualquer tipo de positividade que exista no mundo.
A capa do disco e dos singles que já saíram remete a algo envelhecido. E como a gente sabe que você é um apreciador de vinis, posso imaginar que o “Viver” ganhará um lançamento em vinil, né?
A arte do disco é em azul e amarelo por causa do mar e do sol. E como sou colecionador de vinis antigos, a gente achou que poderia deixar a imagem como se estivesse surrada, gasta. E sim, o Viver vai ganhar lançamento em vinil e algumas faixas sairão em sete polegadas. Eu quero dar oportunidade pros caras terem o instrumental de algumas faixas e inventarem outra música também. Daqui a pouco quero ouvir várias versões das minhas músicas nas vozes de outras pessoas. Há de ter o lançamento do vinil posteriormente e quero convidar todos os grandes colecionadores de vinil do Brasil.
Qual foi a inspiração por trás do novo single “Hoje eu decidi”? E as gravações do clipe com a Isis Valverde?
Esse clipe fala sobre um cara que acorda e se toca de que aquelas coisas erradas que ele insiste em levar pra frente não estão deixando ele seguir. Aquelas coisas mal resolvidas entre ele e o trabalho, o dia a dia, o relacionamento… Quando ele deixa essa mágoa de lado e resolve seguir em frente, ele vê que a vida dele melhora. O acordar dele já se transforma no segundo refrão da música. Ele já acorda para um mundo muito melhor do que tava antes porque ele se deu oportunidade de acreditar que vai mudar. É como sinto meu mundo. Por ser cabeça dura, tive pessoas, amigos, até ex-patrões que não compreendi no passado. E hoje eu os entendo, com o coração puro, aberto, e tocando minha vida como deve ser. Então eu queria dar esse toque pra galera mais jovem. No passado escrevi “o mundo morrendo por foto e o povo querendo um abraço” [frase da canção “Na Horda”]. Então vá abraçar mais, larga o telefone um pouco, viva e respeite o próximo. Se o cara quer ser músico, se o cara é trans, se o cara é LGBT. Você só precisa respeitar as pessoas. Saúde pra nós, respeito pros outros. Fiquei muito feliz quando o Messi [Santos, diretor do clipe], videomaker pica das galáxias, que mora em Los Angeles, fez o convite pra Isis [Valverde] e ela topou. Numa das cenas, ela larga o telefone e a ideia é essa. Larga o telefone, vai dar um mergulho… E eu às vezes nem consigo mergulhar. Eu sou do subúrbio, pra ir à praia precisava pegar os ônibus mais perigosos do Rio. Mas uma das poucas coisas que me deixava feliz era ver a praia. Muitas vezes cheguei em Copacabana ou no Jardim de Alah e nem dava pra entrar. Mas só de ver o mar, no mundo que nós vivemos, não tem preço. E é assim que o disco vem: solar.
E você tem uma sintonia genuína com os mais jovens…
Eu gosto de abraçar os mais jovens porque na época que O Rappa começou ninguém abraçou a gente, exceto o público e boa parte da imprensa que sempre respeitou a gente. Eu tenho uma história bacana. O presidente da minha gravadora me chamou pra bater um papo certa vez e disse que queria me pedir um favor. Ele disse: “Eu tenho essa menina aqui. Dá uma olhada aqui na televisão”. Eu olhei e disse: “Que menina linda, tirando onda cantando em inglês”. E aí ele me fala que era a IZA e estava pensando se contratava ou não. Queria minha opinião. Na hora falei pra ele não deixar pros outros e pegar pra ele. Nisso ele me chama pra ir na sala ao lado e quem tava lá era a própria IZA, que virou pra mim e disse que queria fazer uma música comigo. Isso me faz pensar no quanto as pessoas se identificavam com o nosso discurso, realmente preocupados com tantas coisas diferentes de apenas diversão. E essa menina me chamou, tem a galera do Oriente, todos eles… Vou montar minha turnê da forma mais linda do mundo: sempre tendo essa galera mais nova perto de mim. Faço questão!
Desviando um pouco da música, você postou um vídeo muito emocionado após a morte do jornalista Ricardo Boechat que repercutiu muito. E a gente tem tido um início de ano tão turbulento: Brumadinho, o incêndio no CT do Flamengo, alguns falecimentos de personalidades da música, as chuvas no Rio, o momento político conturbado. O que está acontecendo com o Brasil, Falcão? Que energia braba é essa?
Em primeiro lugar, pra mudarmos essa energia temos de ser verdadeiros conosco. E nessa de ser verdadeiro, eu acho que as pessoas deveriam buscar o que é justo, o certo. Se continuarmos compactuando com a energia errada, isso só vai levar a gente pro buraco. Como seres humanos, temos que lutar juntos pelo que é bom e comum a todos. Enquanto ficarmos desunidos, eles vão tirar proveito dessa brecha. Então eu tenho visto as pessoas perdendo amigos, deixando de falar uns com os outros, desperdiçando energia… De fato me emocionei muito e não tinha como ser diferente. O Boechat era meu amigo, assim como o Yuka foi também. Então, eu só consigo pensar na positividade pra que alguma coisa mude. E o principal: não sermos polarizados. Se esse é o ano da justiça, como falam por aí, talvez tenhamos que passar por coisas ruins para que elas melhorem lá na frente.
Essa polarização não seria fruto da falta de um verdadeiro líder?
A gente tem perdido alguns, né? Por exemplo, eu perdi o Tom Capone, que era um cara de produção musical que hoje estaria morando na gringa, mas trabalhando com bandas brasileiras. Perdi o Waly Salomão, um cara que viu a Tropicália acontecer. Era um poeta, um amigo que deu muita força pra gente. Aí perdemos o Yuka, que era um grande ativista, um grande músico, amigo, irmão. Aí perdemos o Boechat, que poderia ser um dos padrinhos do meu filho. Ele era um dos caras que eu mais apostaria se ele quisesse ser presidente da República.
Muita gente questionou o fato de você não ter feito um pronunciamento mais contundente sobre a morte do Marcelo Yuka. Posso imaginar que houvesse alguma questão entre vocês, ou até mesmo entendo que, por vezes, a gente só precisa ficar quieto no nosso canto num momento de dor. Mas eu gostaria de abrir esse espaço pra que você pudesse tecer algumas palavras sobre um ex-companheiro de banda que, ao seu lado, formatou o posicionamento musical e político de tantos jovens.
Seguimos cada um para um lado, musicalmente falando. Mas só consigo lembrar dele por coisas boas, brother. Contando piadas. Sempre foi meu irmão, parceiro, queridão. Mas eu não lido bem com enterro, não lido bem com morte. Quando meu avô morreu, minha mãe virou pra mim e praticamente me mandou que eu não cancelasse um show lotado. A vida continua e é o que o Boechat dizia: “Segue o barco!”. E eu vou continuar levando na memória os momentos mais felizes que tive com essas pessoas. E eu não tenho nada que não sejam coisas boas pra lembrar. Foram 7 anos com o Yuka e 18 anos sem ele. E como não o via desde então, achei que tinha que respeitar a família dele. E o que aconteceu com a gente, enquanto banda, vai morrer com a gente enquanto banda. Porque foi assim que a gente sempre se colocou: íntegros e honestos.
Saindo dessas bad vibes, vi que você convidou alguns fãs pra irem à Toca do Bandido pra ouvirem o disco na íntegra. Como que foi a experiência de estar ali com eles e estar aberto à elogios e críticas por parte daqueles que curtem seu trabalho?
Veio uma galera do Brasil inteiro. De Manaus, Recife, Brasília, São Paulo, BH, Goiânia… Eu estava ali na frente de 40 ou 50 fãs que ouviram o disco inteiro, choraram, se emocionaram e falaram assim: “Aquilo lá que a gente ouvia, que é O Rappa, a gente gosta pra caramba, e a gente tá muito feliz que você fez esse disco também”. Fiquei muito feliz de ter os fãs mais sinceros, mais casca grossa, falando que ficaram emocionados. Eu fiquei num plano onde eles não podiam me ver. Aí a choradeira rola. Os caras estão ali se emocionando com tua música, sem saber que você está ali acompanhando tudo, cantando um refrão que nunca ouviu. Puxa… Foi tudo muito honesto. Teve desabafo sim, mas eles ficaram amarradões.
Eu imagino que você já esteja pensando nos shows. Mas antes de falarmos a respeito, preciso te contar que a primeira vez que vi O Rappa na minha vida foi por volta de 1996 ou 1997, quando vocês abriram pro Kid Abelha no Metropolitan, aqui no Rio de Janeiro. Foi a turnê do álbum Rappa Mundi…
Caramba, mano… Naquela época as portas estavam fechadas pra todo mundo. Qualquer lugar que dessem a oportunidade pra gente tocar, a gente fazia daquele local nossa casa. Esse disco ficou uns dois anos na pista até as rádios começarem a tocar “Hey Joe”. Mas na verdade a música que era pra tocar era “Pescador de Ilusões”, e na época não rolou. A gente nem tinha público, mas todo lugar que pintava a gente tava lá tocando.
E depois, já na turnê do Lado B Lado A, fui a vários shows de vocês no antigo Olimpo…
Porra… Aqueles shows no Olimpo eram insanos. Aquele lugar deu pra gente um público headbanger violento [risos]. Tocar lá nessa fase era bom demais. O Tom Capone chegava pra gente e dizia: “Tudo que você me pediu, eu fiz pra você. Trouxe o caminhão de som. Eu trouxe tudo. A bala tá comendo lá fora. Você tem que começar agora”. E aí a gente entra pra gravar o DVD do álbum O Silêncio Q Precede o Esporro às 3 e meia da manhã. É esse tipo de coisa que fica entranhado em você conforme o tempo passa. Você consegue ver o tamanho da sua força botando a cara ali, fazendo, encarando. É assim que me vejo hoje, muito feliz, fazendo meu disco. É um novo começo e quero fazer o melhor que eu puder pra que os fãs que sempre saíram de casa pra nos ver continuem apreciando um bom show.
Você já tem um formato do novo show na sua cabeça? Como que você pretende montar esses setlists?
O show já está montadão. São dez músicos no palco. O meu cenário eu mandei buscar na gringa. O pessoal do escritório que cuida da minha carreira gostam de deixar o artista se sentindo feliz e confortável. Então, o que eu sonhei de ser meu cenário pro show aconteceu. Eu vou ver no final de março o cenário pronto numa casa de shows. A pessoa que for nos shows vai querer voltar toda hora. Vai dançar, se divertir, mas o que tenho pra oferecer é música pro coração. Quanto às músicas, o que eu posso te dizer é que o fã se deu bem. Ele vai ter “dois shows”. Tudo o que tenho na vida, eu fiz ao lado dos meus amigos n’O Rappa. Eu jamais viraria as costas pra uma história linda que eu tenho maior orgulho e maior prazer de ter feito isso acontecer.