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Longe do conservadorismo da TV e rádio, mulheres brasileiras podem cantar músicas explícitas sem sofrer boicote das plataformas de streaming


ATENÇÃO: Essa publicação contém palavrões e termos adultos.

É entendível que as rádios censurem músicas com palavrões e conotações sexuais e também dá pra entender que os programas de TV dominicais não podem dar espaço para conteúdo inapropriado para menores. Mas… e na Internet?

Com a popularização das plataformas de streaming – isso inclui Spotify e Deezer -, muitos artistas já conseguem sustentar suas carreiras sem precisar do suporte de rádio e TV, o que era praticamente impossível há alguns anos na era do CD. Logicamente, as mídias tradicionais ainda têm influência e penetração na gigantesca população brasileira, no entanto a liberdade artística na era digital nunca foi tão revolucionária.

“Quero Que Tu Vá”, da Ananda, foi um dos maiores hits virais de 2018. A música acumula mais streaming do que vários hits “ditos” de rádios e de artistas que estão todos os dias com divulgação em programas de televisão.

O ano de 2019 começou com Simone & Simaria e Ludmilla chegando ao Top 10 do Spotify “mandando o ex para casa do caralho”. Gravada ao vivo, “Qualidade de Vida” é a aposta das irmãs para o verão e fica por conta do público falar o palavrão – elas induzem, logicamente. Ludmilla, que tem a boca suja (diria os conservadores), é a melhor letrista de hinos de liberdade feminina no funk: é dela “Cai de Boca” (no meu bucetão) da estreante Mc Rebecca e (sentei na pica do) “Meu Ex”, da Valesca Popozuda. Lud tem tantos “funk proibidões” prontos que poderia facilmente lançar um álbum com a temática.

Faltando dias para o carnaval e envolvida numa polêmica com a comunidade LGBT, Valesca surpreendeu e voltou pra gaiola. Isso significa que ela encontrou um caminho para relativizar a “higienização comercial” que passou há cinco anos e acaba de lançar um EP fazendo o que a levou à popularidade na década passada: funk proibidão. O EP com quatro faixas explícitas chegou às plataformas sem sofrer nenhuma represália ou tentativa de boicote – pelo contrário, ela está sendo adicionada nas playlists de músicas adultas. As canções falam abertamente sobre uma experiência em uma orgia, sobre uma “gozada fraca”, e de um cara que soube “fuder seu cu”.

Nos Estados Unidos, onde o hip-hop é o segmento mais popular nas plataformas digitais, mulheres cantam sem medo sobre sexo e chegam ao topo das paradas: Cardi B é um dos maiores fenômenos femininos dos últimos tempos. Ela canta abertamente, assim como os homens, sobre ostentação, sexualidade e atitude. A busca por igualdade, que é tão discutida em todas as esferas sociais, agora chega ao mercado musical, predominado historicamente por homens conservadores na cadeira de direção de grandes gravadoras, emissoras, premiações e agências.

Estamos prontos para revolução?