O legado de Chiquinha Gonzaga continua inspirando gerações, e não só na música. “Ô abre alas”, primeira marchinha de Carnaval brasileira, composta por ela em 1889, acaba de virar livro infantil pelas mãos do ilustrador paulistano Duda Oliva, em sua estreia na literatura. O livro, lançado pela Saíra Editorial, leva o título da música e homenageia a compositora que foi um marco na história dos direitos autorais no Brasil.
O objetivo da obra é mostrar às crianças o poder que a música tem de transformar o mundo em um lugar mais feliz, divertido e colorido. O enredo narra a história de uma cidade cinza – como muitas que existem por aí – onde gente pequena não podia fazer nada de que gente grande não gostasse: não podia cantar, não podia dançar, não podia usar roupas coloridas, não podia, às vezes, nem mesmo abrir as janelas de casa.
Mas, um dia, um visitante (uma raposa) muito resolveu conhecer a tal cidade e achou que poderia ser uma boa levar dentro de sua capa uma ou duas notas musicais. Em um reencontro com os versos nostálgicos de Chiquinha Gonzaga, o livro conta a história de como a música, a dança e o riso podem ser agentes transformadores na vida das pessoas.
Além de homenagear a musicista com uma obra rica em ilustrações e valores morais, o livro inclui, ainda, uma nota biográfica de Chiquinha, com suas lutas e bandeiras para além do universo das artes.
Luta pelos Direitos Autorais
Chiquinha Gonzaga, reconhecida como a primeira compositora popular do Brasil, foi uma das pioneiras na busca pelo reconhecimento do compositor e de seus direitos autorais. Em 1917, a compositora fundou a Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (SBAT), a primeira sociedade de autores do Brasil.
De acordo com informações do ECAD – que deve muito da sua existência hoje a esse movimento de Chiquinha -, a partir disso, cada vez que suas obras musicais eram executadas nos teatros, ela considerava justo receber uma parcela do que era arrecadado, pois entendia que sua música era tão importante e gerava tanto sucesso quanto o texto apresentado.
Primeira pianista do choro, Chiquinha desafiou os costumes de sua época. No século XIX, em que a música européia reinava nos salões aristocráticos brasileiros, ela inseriu ritmos africanos em suas composições, ajudando a formar uma identidade musical nacional.
Em suas composições, Chiquinha transitava entre o erudito e o popular em ritmos como polca, tango, choro e marcha. Por conta do seu legado para a música, em 2012, a compositora inspirou a criação do Dia Nacional da MPB, comemorado dia 17 de outubro, data de nascimento de Chiquinha Gonzaga (1847-1935).