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Leonardo Torres

Leonardo Torres: Pabllo Vittar gritou “ressuscita!” e o pop nacional renasceu

No dia 1º de janeiro, O Globo, um dos jornais de maior circulação no país, anunciou Pabllo Vittar como uma aposta para 2017 na cultura: “tem funk, arrocha, hip-hop e samba com alta voltagem de abuso, para bater de frente com Anitta e Ludmilla”. Bateu mesmo. No Carnaval, “Deu Onda” teve que ceder espaço para “Todo Dia”: os foliões queriam cantar que são vadia todo dia (eu inclusive). Pabllo Vittar cresceu muito em um rápido espaço de tempo, tornando-se evidentemente símbolo da diversidade e da representatividade na indústria musical brasileira. Poderia ser só isso, que já seria incrível, mas ela gritou “ressuscita!” e o pop nacional também renasceu. Anitta, enfim, deixou de carregar o estilo musical nas costas no Brasil.

É fácil comprovar. Pegue as listas das músicas mais tocadas das rádios e do Spotify em 2016: Anitta foi a única artista pop brasileira que competiu com a predominância do sertanejo. Ludmilla se destacou nas rádios, mas com “Não Me Toca”, uma parceria com Zé Felipe (para quem não sabe, filho do sertanejo Leonardo). Neste ano, a lista anual divulgada pelo Spotify, já traz Alok, Anavitória, Nego do Borel, Anitta e, claro, Pabllo. Como a drag mesmo disse, foi o ano dela. Mas não só. O pop nacional não era diverso assim há, pelo menos, 15 anos. Em 2002, nós ouvíamos Sandy & Junior, Wanessa, KLB, Kelly Key, SNZ, Maurício Manieri e Rouge – que decidiu voltar neste ano, esgotando ingressos e bombando em streams com seu repertório antigo. (ATÉ O ROUGE ESTÁ AQUI ENTRE NÓS!!!) A maioria desses nomes não resistiu ao tempo. Quando Sandy & Junior se separaram em 2007, o pop nacional minguou. Com relevância, houve apenas o mergulho de Wanessa no eletrônico, o que de alguma forma a afastou das rádios e do grande público para se aproximar do nicho das casas noturnas – também uma maneira de minguar.

MEU ROUGE TÁ VIVO!

É bem verdade que, em 2017, perdemos Wanessa de vez: a Camargo apostou no sertanejo e nas festas de peão. Por outro lado, estamos cada vez mais perto de ganhar um Luan Santana pop. A música que ele vai lançar com a boyband CNCO pode ser marcante nessa transição. Vamos esperar. Por enquanto, nos divertimos com Anitta e Pabllo Vittar, as duas maiores divas do momento. Em termos mercadológicos, é sempre importante ter mais de uma: não deixa ninguém em uma posição 100% confortável e só rende melhores trabalhos para o público. E Pabllo ainda trouxe na esteira nomes como Lia Clark, Aretuza Lovi e Gloria Groove. A drag music toda trabalhada no falsete nunca esteve tão em alta. É um movimento importante no pop atual. Estamos vivendo a era da representatividade: temos Anitta abraçando a voz do subúrbio, Pabllo porta-voz LGBTI, e IZA com reflexões sofisticadas sobre feminismo e negritude. Estou dizendo que Pabllo Vittar ressuscitou o pop nacional? Não. Acredito que Anitta tem mais responsabilidade pelo momento que vivemos, porque vem cavando esse espaço há anos, mas Pabllo injetou fôlego e frescor. Pabllo simboliza essa boa fase. O mercado pop se abriu no Brasil, mas se fechou para quem não tem nada a dizer. Sem espaço para ausência de inteligência: é uma peneira boa. A gente vive aqui o que Katy Perry tentou, sem sucesso, fazer nos Estados Unidos: o tal do “pop consciente”. Mas tem que ser verdadeiro: o “lugar de fala” também está na pauta contemporânea.

O pop romântico, claro, ainda tem lugar e público fidelizado, com Sandy, Kell Smith e Manu Gavassi. São artistas de nicho e, ainda assim, fizeram barulho neste ano. “Era Uma Vez” foi a música pop mais tocada das rádios por semanas a fio. Sandy está com duas canções em novelas. E Manu Gavassi fez todo mundo parar pra ver o clipe de “Hipnose” – por causa de uma polêmica de plágio, é verdade, mas o que seria do pop sem ser polêmico? Pitadas de escândalo fazem parte do marketing.

Abronca. Carol Biazin. Clau. Daya Luz. Gabily. Gabbi. IZA. Jade Baraldo. Jão. Jenni Mosello. Labanca. Lary. Lippe. Luisa Sonza. Luiza Luh. Malía. Melim. Micael. Mylena Jardim. Ravena. Sofia Oliveira. Vinícius D’Black. Yann. Um44K Zennus. Difícil prever quais nomes vão ficar e quais vão passar, mas o caldeirão está efervescente. Algo vai sair dessa sopa. E não podemos ignorar a força de nomes como Larissa Manoela, com um pop teen de milhões de seguidores. Larissa, afinal, vai crescer. O pop nacional, esperamos, também.

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