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First Listen: já ouvi “Vou Morrer Sozinho”, a nova do Jão


Jão está pessimista no primeiro single de seu álbum de estreia, “Vou Morrer Sozinho”. Depois de se revelar “Imaturo”, sem controle de “Álcool”, terminando de “Ressaca”, o cantor e compositor – revelação do pop nacional – mostra ao público mais um pouco de sua vulnerabilidade. Ao que tudo indica, são suas fragilidades que darão o tom de seu primeiro disco, com lançamento iminente pela Head Media / Universal Music.

A composição nova tem apelo fácil com o público. Quem nunca se pegou em uma situação onde está apaixonado (a) por alguém que não está nem aí para você? Ao mesmo tempo, tem outra pessoa ali querendo chamar sua atenção, mas essa… você não quer. É sobre isso o single que leva Jão a concluir que, desse jeito, vai morrer sozinho. O refrão, embora pessimista, convida todo mundo a cantar junto. É catchy. É fácil imaginar o público contagiado fazendo coro no show: “ai meu Deus / eu vou morrer sozinho / se continuar nesse caminho / de não deixar ninguém me amar / de só me apaixonar / por quem me faz chorar / e me maltrata”. Há também bons trechos vocais, em que ele pode mostrar um pouco mais de extensão.

A melodia da música é curiosa, um tanto diferente do material anterior do cantor. Percebo três momentos diferentes ao longo da faixa, que dura cerca de três minutos. Os instrumentos vão entrando aos poucos e a canção, de início sereninha, vai ganhando groove e identidade brasileira. É um pop brazuca real/oficial. Fez-me lembrar um pouco da pesquisa de sonoridades regionais de Pabllo Vittar em “Vai Passar Mal” (2017). Em uma parte, Jão repete em sequência em voz grave, com batida funkeada, “ai meu Deus eu vou morrer sozinho, ai meu Deus eu vou morrer sozinho, ai meu Deus eu vou morrer sozinho!” (na verdade, tive que perguntar a alguém se realmente era ele, porque o timbre está tão diferente que pensei que fosse uma participação especial – um rapper talvez).

A letra é dramática, mas o ritmo permite balançar o corpinho. Todo mundo vai morrer sozinho, mas junto no show, mexendo as cadeiras e não deixando o copo cair. Tem um quê de deboche no encontro da letra com a melodia. Dependendo do momento de sua vida e do nível alcoólico, você pode rir ou chorar ou rir e chorar. É como se Jão olhasse com humor para o drama pessoal. “Ai meu Deus, eu vou morrer sozinho” é mesmo um verso muito drama queen. Jão deve ter sido um adolescente emo. Agora está rindo mas é de nervoso, sabe? Ele disse no Twitter que essa é a música mais feliz do álbum. Risos.

“Vou Morrer Sozinho” confirma a pegada que Jão sinalizou nas músicas anteriores: não quer ser o cara descolado na cena pop. Está mais para o cara deslocado, o que é ótimo, um ar fresco. Marcado por uma influência do funk ostentação e da onda global de empoderamento de minorias, o pop nacional tem sido ditado por letras que, em resumo, dizem o quanto seus intérpretes são fo**s. Repare bem. Tem muita gente cantando sobre o quanto é incrível. E essa coisa da autoestima é mesmo importante, tem seu papel. Mas Jão é dos cantores-compositores que chegam para dizer o contrário. Em síntese: “estou fodi**”.

O single sai terça-feira (14/8). O clipe também. Tem fotos em primeira mão aqui.

Se você me amar demais, eu paro de te amar

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OBS: Não sei se é aceitável usar palavrões em resenhas musicais, mesmo com asteriscos. Talvez me chamem a atenção. Mas a gente vai tensionando as regras, né.