Taylor Swift estreou o quarto clipe do álbum “reputation” no domingo (11/3). A música escolhida foi “Delicate”, composição dela com Max Martin e Shellback, os mesmos de “…Ready For It?” e “End Game”. Nesta canção, Taylor Swift gasta um tempo imaginando o que estará passando na cabeça do boy que ela está a fim: “minha reputação nunca esteve tão má, então você deve gostar de mim mesmo”, “é muito cedo para fazer isso?”, “você já sonhou comigo?”. Afinal, o que ele ouviu sobre ela antes de conhecê-la?
O clipe que a cantora entregou, no entanto, não tem nada a ver com isso. Bem, em termos. Os versos “sometimes when I look into your eyes / I pretend you’re mine all the damn time” (às vezes, quando te olho nos olhos / finjo que você é meu o tempo todo) inspiraram uma nova história no audiovisual assinado por Joseph Kahn, diretor de toda a era “reputation”. No vídeo, Taylor canta essas palavras para a idealização de sua liberdade e de sua privacidade – como sabemos, inexistentes. Esse parece ser o recado mais claro de toda a videografia desse disco: você nem precisa procurar por pistas escondidas para entendê-lo.
Nos 15 primeiros segundos de “Delicate”, Taylor corresponde à expectativa da mídia. Seu momento de introspecção é quebrado pela necessidade de vestir a máscara social, sorrir e ser agradável. Ela tem que ser simpática com os jornalistas, com os fãs e paciente até com quem passa dos limites. Cercada por guarda-costas, percebe que seus passos são previsíveis, de tão observada que é. Mas alguém lhe entregou um papelzinho, que parece mágico e, de repente, ela deixa de ver sua imagem refletida no espelho, o que é uma libertação. Taylor está invisível e não é como se ninguém sentisse falta dela. Os guarda-costas seguem a postos, sem função, e ela percebe tudo que pode desfrutar sem o olhar público. Ela dança loucamente em todo o hotel – invocando “Shake It Off”, com caracterização de “Begin Again”, embora tenha matado a antiga Taylor – porque finalmente pode relaxar e ser ela mesma, e tudo bem se isso significar ser tosca.
Do nada, ela aparece em uma estação de metrô – algo que certamente não pode fazer na vida real sem causar um rebuliço. Ela também dança na chuva, faz a maluca em poças d’água e abre um escapate em cima de um carro aleatório. É natural traçar uma conexão entre a ideia do clipe com a vida atual da popstar. Taylor Swift tem mesmo desfrutado de certa invisibilidade. Ela conseguiu sumir depois que as tretas com Calvin Harris, Kanye West e Kim Kardashian esfriaram (“minha reputação nunca esteve tão má”) e o namoro com o ator Joe Alwyn tem sido o mais discreto de toda sua vida. Ela passou a alimentar suas redes sociais apenas com posts de trabalho e, embora esteja namorando há cerca de um ano, há poucas fotos deles dois juntos. Os fãs pensaram que, com o lançamento do álbum, ela voltaria com tudo, mas não. Taylor segue low profile – e o mundo segue de pé. O clipe mostra que, quando ela não está dando entrevistas, andando com seguranças e posando para fotos em tapetes vermelhos, ela pode sair por aí sem ser notada. Sem anunciar seus passos, pode estar entre nós e nem sabemos. Não tenho certeza se isso é verdade, na prática. Não tenho certeza se Taylor acredita nisso, também. Mas o clipe é sobre sua idealização do que não tem, então tudo bem. Ficou legal porque meio que disse para os fãs “olha, tô sumida, porque tô felizona, distante desse mundinho pantanoso dos famosos”. Amém, Fabíola Reipert.
O contraste entre o ideal, midiático, e o real, dos bastidores, já pautou trabalhos de outras cantoras também. Listo Britney Spears com “Everytime”, Lindsay Lohan com “Rumors”, Sandy com “Discutível Perfeitação”, Miley Cyrus com “Can’t Be Tamed” e Selena Gomez com “Same Old Love”, em maior ou menor grau. O próprio argumento de “Hannah Montana” é norteado por essa ideia da vida que se vê e a vida que se leva. Para quem é famoso e tem pessoas o tempo todo ajudando a construir ou destruir sua imagem, imagino que isso seja mesmo uma questão. Nós, reles anônimos, já temos que vestir várias máscaras sociais no dia-a-dia e nos preocupar com a imagem que passamos para os outros, imagine quem está exposto o tempo todo – sem controle sobre a própria imagem. Não é difícil assimilar que a falta de liberdade (para começar e terminar namoros, que seja) não estava fazendo bem para Taylor Swift, na vida real… Há muitos anos, ela diz que não lê mais o que falam sobre ela, mas sua fama chegou a tal ponto que qualquer um é massacrado por notícias sobre ela, inclusive a própria. Daí idealizar um banho de chuva como a oitava maravilha é compreensível. Não é algo que ela possa fazer sem ser fotografada por paparazzi e taxada de doidona no minuto seguinte, no mundo inteiro. O que Taylor ignora é que nem os anônimos têm essa liberdade toda que ela idealiza. Ninguém está livre do julgamento alheio, girl. Mas, sim, tem sido pesado para você.
Para mim, o clipe deixa algumas pontas no ar. Por exemplo, o poder da invisibilidade não é uma conquista dela, é um presente anônimo. Anônimo para a gente ou para Taylor também? Alguém dá um papelzinho mágico para ela. Nós, como espectadores, não temos acesso ao que está escrito nele – e alguma privacidade já começa aí. No fim do vídeo, ela entra em um bar, fica visível – encharcada – e avista alguém que lhe deixa feliz. Quem? Será a pessoa que lhe proporcionou aqueles momentos de liberdade? Ou ela se encanta por alguém à primeira vista, já conhecendo a liberdade? Não quero linkar ao Joe Alwyn, porque é machista demais achar que tudo na vida de Taylor Swift tem a ver com qualquer homem. Aliás, você já reparou que ela dispensou pares românticos em todos os clipes do álbum novo? Quero ver que o que mundo vai maldizer agora.